Título: SC prestes a receber status de livre de aftosa sem vacinação
Autor: Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2007, Agronegócios, p. B11

Uma comitiva catarinense, composta por 11 pessoas, chega a Paris amanhã para participar da sessão geral da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE), na qual se decidirá se Santa Catarina vai receber o esperado certificado de área livre de febre aftosa sem vacinação. Caso o reconhecimento pela OIE se confirme, produtores e agroindústrias do Estado acreditam que a carne suína catarinense terá acesso à União Européia e ao Japão no médio prazo.

"Se formos reconhecidos, a idéia é trazer ainda neste ano uma missão da União Européia para uma auditoria no Estado", diz Ricardo Gouvêa, diretor do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Santa Catarina.

Uma missão japonesa também deve visitar o Estado. Felipe Luz, diretor de relações institucionais da Sadia, diz que o Japão já manifestou interesse e mandou requerimento das exigências. Para ele, o mercado japonês é mais importante do que a UE, onde há preferência pela compra de países do bloco. "O Japão tem um grande volume de compra, cerca de 1 milhão de toneladas por ano, e quase não tem área de suinocultura. É muito mais difícil entrar na União Européia, que tem fornecedores como Dinamarca e Alemanha, além de Estados Unidos e Canadá", diz ele, que acredita que dentro de um ano Santa Catarina já consiga exportar para o Japão, e possa realizar os primeiros contatos com a Itália. "Teremos de oferecer um atrativo para entrar nesses mercados até pela distância maior do Brasil até esses países".

As agroindústrias já se movimentam, certas da certificação, uma vez que a Comissão Científica para Doenças Animais da OIE, cujas decisões costumam ser confirmadas pela assembléia geral da entidade, reconheceu Santa Catarina como livre de aftosa sem vacinação em março passado.

Executivos viajaram com freqüência a Europa e Japão para contactar possíveis novos compradores, a Sadia anunciou projeto de novo abatedouro de suínos no oeste catarinense, a Itália tem interesse em comprar bezerros e a Diplomata, com sede no Paraná, programa para junho retomar o abate de suínos em Guarujá do Sul (SC).

"Estamos recomeçando o abate que foi paralisado no fim do ano passado. O projeto de ampliação, com investimentos de R$ 10 milhões, está pronto, à espera de um melhor momento de mercado, que pode acontecer depois da certificação", diz Genézio Garbin, supervisor de carnes da Diplomata.

Santa Catarina, que não vacina há seis anos o rebanho, era reconhecida como livre de aftosa sem vacinação apenas pelo Ministério da Agricultura, sem reconhecimento internacional. Após o embargo da Rússia, que era até 2005 sua principal parceira comercial, o Estado encaminhou, por meio do Ministério da Agricultura, pedido de certificação como área livre de aftosa sem vacinação à OIE.

As agroindústrias entraram com recursos e formaram no Estado o Instituto Catarinense de Sanidade Animal (Icasa), que apóia o trabalho da Cidasc, companhia estadual de defesa agropecuária.

"A certificação nos coloca em um mercado seleto que paga preços melhores. Seguramente, o Japão paga 50% mais do que os países que estamos atendendo no momento para cortes especiais, como lombo", diz Mário Faccin, dono da Máster Agropecuária, granja de suínos, que tem entre seus principais clientes a Perdigão. Para Faccin, se a Europa passar a comprar carne suína de Santa Catarina, outros países também podem acompanhá-la.

Wolmir de Souza, representante dos suinocultores, diz que vai aproveitar a viagem para saber das perspectivas para o produtor. "Sabemos que os mercados de foco desse reconhecimento, que são Japão e União Européia, já têm os seus próprios fornecedores. Quero entender qual será o nosso diferencial para conquistá-los".