Título: Governo tenta solucionar novo embargo da Rússia
Autor: Moreira, Assis e Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2007, Agronegócios, p. B11

O governo brasileiro espera solucionar esta semana o novo embargo imposto pela Rússia, na última quinta-feira, a 10 plantas exportadoras de carne bovina e uma de carne suína. A alegação russa é de que essas empresas teriam exportado carne de Estados que estão proibidos de vender à Rússia - por causa dos casos de aftosa em outubro de 2005 - como se fosse produto de Estados autorizados. A missão da Rússia que está no Brasil para auditar o sistema sanitário também suspendeu os embarques de carne ao país a partir dos portos de Itajaí (SC) e Paranaguá (PR).

O governo admitiu ter sido comunicado " extra-oficialmente " sobre o embargo. Nelmon Oliveira, diretor de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, afirmou não haver motivos para o fechamento. " Os russos são uma inconstância. São movidos por interesses comerciais e não por motivos técnicos " , disse.

Segundo ele, os russos queriam, a princípio, embargar todos os embarques de Santa Catarina e Paraná. Depois, queriam fechar para alguns frigoríficos e entrepostos. Na sexta, o ministério tentava restringir o embargo a algumas indústrias. " Eles querem contêineres fechados desde as indústrias, sem cargas avulsas " .

O embargo atingiu três unidades do Friboi (em São Paulo, Goiás e Mato Grosso), quatro do Minerva (três em São Paulo e uma em Goiás), uma do Frinorte (Tocantins), uma do Intercoop (MT), uma do Riograndense e uma do Três C, ambas no Rio Grande do Sul.

Para convencer a Rússia de que os fiscais brasileiros têm agido para evitar fraudes nas exportações ao país, o Ministério da Agricultura vai usar um caso de falsificação de certificados sanitários envolvendo um frigorífico de porte médio, e com operações em vários Estados, que teve suas cargas apreendidas por irregularidades no porto de Itajaí (SC) e deve ser descredenciado do mercado externo pela Secretaria de Defesa Agropecuária nesta quarta-feira. O nome do frigorífico não foi divulgado.

" Esse caso vai mostrar aos russos que apuramos as denúncias e que punimos de forma exemplar quando constatamos problemas " , disse Oliveira. Além disso, o ministério anunciará a ampliação das alterações no sistema de certificação. " Vamos ampliar a certificação eletrônica das cargas e passar a usar um papel especial feito pela Casa Moeda na documentação dos embarques para evitar fraudes " . O prazo para as mudanças é de 30 dias.

A missão russa que está no país visitou dez indústrias em Mato Grosso, Rondônia, Rio Grande do Sul e São Paulo, além dos portos de Itajaí (SC), Santos (SP) e Antonina (PR). Uma reunião final sobre o caso está marcada para quarta-feira. " Mas já não temos certeza disso porque este encontro era para ter acontecido hoje [sexta] " . Os russos, segundo ele, pediram para visitar mais " três ou quatro " frigoríficos antes da reunião final.

O coordenador-geral de Programas Especiais da Secretaria de Defesa Agropecuária, Ari Crespim, minimizou os problemas. " Eles suspenderam, mas não encontraram problemas críticos que pudessem justificar tecnicamente um fechamento " , disse. Segundo ele, há falsificações de documentos brasileiros no exterior. " Há uma tentação de falsificação porque nossa carne tem alta aceitação. Mas isso está mais concentrado lá fora " .

Antônio Camardelli, diretor da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec), disse que "não há possibilidade de um associado [da Abiec] exportar carne de um Estado não habilitado". Segundo ele, o que ocorriam eram exportações de carne bovina de Estados habilitados por meio de portos de Santa Catarina e Paraná, "o que era permitido [pela Rússia]" até semana passada.

O diretor de relações institucionais da Sadia, Felipe Luz, disse não saber as razões da interdição de Itajaí e Paranaguá, mas admitiu rumores de fraudes. Segundo Luz, com o fechamento, a Sadia deverá redirecionar os carregamentos para Santos, Vitória e Rio Grande. Odilon Fehlauer, superintendente da Brasfrigo, um dos principais portos secos de Santa Catarina, disse que os russos estiveram na Brasfrigo, em Itajaí, nos dias 16 e 17 e fizeram auditoria técnica e documental. Segundo ele, não há restrições aos entrepostos. "Todos os entrepostos foram visitados e os demais serão. Caso tenha havido fraudes documentais, elas não se deram nos entrepostos, mas os antecederam. Mas deve haver exagero nessas suposições".

Há 15 dias, a Rússia já tinha proibido a importação de carne de frango de cinco frigoríficos brasileiros, alegando infecção com salmonela. (Colaborou AAR)