Título: América Latina e importações ajudam grandes exportadores
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2007, Brasil, p. A3

Mesmo com o dólar abaixo de R$ 2,00 alguns fabricantes de manufaturados mantêm um ritmo de exportações superior à média. A maioria dessas empresas - que estão vendendo entre 15% e 80% mais em relação a 2006 - são multinacionais que ampliaram a capacidade de produção e transformaram o Brasil em plataforma de vendas para a América Latina, um mercado que cresce com robustez nos últimos anos. Além disso, para amenizar o impacto do câmbio, que reduz a rentabilidade, essas companhias estão implementado programas agressivos de substituição de fornecedores nacionais por importados.

De acordo com o ranking dos 40 maiores exportadores brasileiros do Ministério do Desenvolvimento, sete empresas de manufaturados podem ser consideradas as campeãs da exportação no primeiro trimestre deste ano: Embraer, Motorola, Braskem, Caterpillar, Fiat, Scania e Shell. O ritmo dessas companhias supera a média das exportações de manufaturados, que foi 11,5% superior à do primeiro trimestre de 2006.

A Caterpillar - fabricante de máquinas, motores e peças - aumentou os embarques em 16% no primeiro trimestre do ano em relação a igual período do ano passado, para US$ 290 milhões. Segundo Natal Garcia, presidente da empresa no Brasil, o desempenho é conseqüência de entregas programadas desde o ano passado. Ele diz que a companhia está comprometida com contratos até dezembro deste ano.

Para atender o mercado latino-americano, a filial brasileira da Caterpillar destina 70% da produção para o exterior. Nos últimos dois anos e meio, a empresa reduziu custos e aumentou a produtividade, graças a um investimento anual de US$ 30 milhões em modernização das fábricas. O objetivo era enfrentar a valorização do real, mas não foi suficiente. Garcia conta que a fábrica no Brasil já perdeu contratos no México e no Caribe para a matriz nos Estados Unidos.

Para tentar interromper esse processo, a empresa começou a aumentar a compra de insumos no exterior, principalmente na Índia e China. A meta é adquirir metade das matérias-primas e componentes no exterior. Atualmente, esse percentual está em pouco mais de 30%. De janeiro a março, a Caterpillar importou US$ 184 milhões, alta de 16% ante igual período de 2006. "Será um problema para nossos fornecedores e significará perda de empregos no Brasil, mas temos de fazer algo para compensar a alta absurda do real", diz Garcia.

A fabricante de celulares Motorola exportou US$ 326 milhões nos primeiros três meses do ano, 43% mais em relação a janeiro a março de 2006. Segundo informações da assessoria de imprensa, 85% dessas exportações foram destinadas para a América Latina. No ano passado, a Motorola ampliou em 40% a capacidade de sua fábrica de Jaguariúna para atender o mercado latino-americano, que vive um boom de vendas de celulares parecido com o do Brasil em anos recentes. Por isso, a empresa segue exportando, apesar do câmbio.

Um dos fatores que ajudam a Motorola a compensar a perda de rentabilidade é o importante percentual de insumos estrangeiros na fabricação de celulares. A empresa é a terceira maior importadora do Brasil. Mas, apesar do real forte, está com uma estratégia contrária à das demais empresas e busca trazer fornecedores para o país, segundo informações da assessoria de imprensa. No primeiro trimestre, as importações da Motorola caíram 7%, para US$ 401 milhões na comparação com igual período de 2006.

Duas empresas de capital nacional estão na lista das campeãs da exportação: Embraer e Braskem. Fabricante de aviões de médio porte, a Embraer destina 90% de suas vendas para o exterior. A empresa é a terceira maior exportadora e a segunda maior importadora do país, o que significa uma proteção natural contra o câmbio. No primeiro trimestre do ano, a Embraer aumentou as exportações em 15%, para US$ 756 milhões, em relação a janeiro a março de 2006. Na mesma comparação, a empresa importou US$ 610 milhões, alta de 18%.

A Embraer opera com contratos de longo prazo e as flutuações do dólar afetam pouco seus planos, apesar de aumentar seus custos em real. Nos primeiros três meses do ano, a empresa entregou 25 aeronaves, duas a menos que de janeiro a março de 2006. No entanto, o resultado financeiro foi melhor, porque se tratam de modelos mais sofisticados e caros. Sem se importar com o câmbio, a empresa mantêm a meta de exportar entre 165 e 170 aeronaves este ano e sua carteira de pedidos atingiu o nível recorde de US$ 15 bilhões.

A petroquímica Braskem conseguiu o melhor desempenho entre as empresas selecionadas pelo Valor. As exportações da companhia aumentaram 87% no primeiro trimestre do ano, atingindo US$ 314 milhões. De acordo com Walmir Soller, diretor de exportações da companhia, alguns fatores explicam o excelente resultado. Os preços dos produtos petroquímicos exportados pela empresa, como plástico, subiram bastante, impulsionados pelo preço do petróleo. A empresa operou a plena capacidade nos primeiros três meses do ano, já que não houve restrição de insumos ou paralisações para manutenção das fábricas. Também é importante mencionar que o preço da nafta, principal matéria-prima da empresa, é dolarizado, apesar de ser adquirido internamente da Petrobras.

Duas mudanças importantes no mercado petroquímico também ajudam a entender o aumento das exportações da Braskem. A partir do segundo trimestre do ano passado, a empresa incorporou a Politeno. Portanto, as exportações desse início de ano foram impulsionadas pelas vendas ao exterior da nova unidade. Além disso, a Ripol, outro fabricante de polietileno, montou uma nova planta de escala global no Rio de Janeiro, que também começou a operar a plena capacidade a partir de meados do ano passado. Esse fator elevou a oferta do produto no mercado interno e aumentou o excedente exportável de todas as empresas do setor petroquímico.