Título: Montadoras planejam o "hedge natural"
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2007, Brasil, p. A3

Na comparação com igual período do ano passado, no primeiro trimestre o ritmo de produção de veículos da General Motors do Brasil cresceu 7,8%, as exportações caíram 29% e o volume de carros importados subiu 4.169%. Nas importações, o volume saiu de 81 unidades para 7,7 mil, e é esse quadro que revela para onde pretende ir a indústria automobilística diante da valorização do real.

Os presidentes das quatro maiores montadoras do país - Volkswagen, General Motors, Ford e Fiat -, pela ordem também as maiores exportadoras do setor, são unânimes em afirmar que chegou a hora de importar mais. E, dessa forma, criar o que o presidente da GM, Ray Young, chama de "hedge natural". O argumento é que o setor precisa das exportações para manter a escala de produção. E para que essa exportação seja saudável, é preciso buscar o equilíbrio necessário por meio de mais compras no exterior. De carros e peças.

As montadoras, que no ano passado obtiveram receita de US$ 12 bilhões com vendas ao exterior, até aceitam reduzir os volumes de embarques. Mas não querem abrir mão da exportação, que consideram um trunfo nesse setor tão competitivo e, ao mesmo tempo, a porta para a liberação das matrizes para investimentos em projetos de carros mais modernos.

"A pior coisa que poderíamos fazer agora seria esquecer as exportações. Nossa indústria precisa delas para manter escala. O consumidor, às vezes, nem sabe que, para que um carro de qualidade chegue até ele, é preciso que tenha sido feito para também competir no mundo. Por isso, não podemos simplesmente nos fechar no mercado interno", afirma o presidente da Ford Brasil, Marcos de Oliveira.

"Teremos que importar mais peças e veículos para formar um hedge natural para os próximos dois a três anos e, assim, deixar de expor a companhia à variação cambial e minimizar o impacto da valorização do real", afirma Young. Segundo o executivo da GM, os próximos projetos de carros deverão ter um conteúdo de peças importadas maior que os da linha atual. "Mudar a composição dos produtos de hoje é mais difícil", afirma.

As montadoras estão tentando fazer o equilíbrio entre exportações e importações por meio das fábricas localizadas na América Latina. É o que faz a Ford, com as instalações do Brasil, México e Argentina. Os carros feitos nessas três fábricas circulam entre esses três mercados. "Como a filial do Brasil é a maior exportadora desse grupo, acabou ficando mais exposta à valorização da moeda local", afirma Oliveira. "Agora precisamos importar mais, além de exportar, para obter o equilíbrio", completa o executivo.

Segundo Young, a GM já conseguirá um hedge natural entre as fábricas do Brasil e a da Argentina em 2008. Em 2005, quando o dólar estava em R$ 2,43, a General Motors, a segunda maior exportadora de veículos do país, atingiu o recorde de vendas de 209 mil veículos no exterior. No ano passado, os volumes caíram para 165 mil. Para este ano, a empresa trabalha com uma queda de 15% (140 mil) e já tem pronto o prognóstico para 2008: 100 mil unidades, a mesma quantidade da Fiat, a montadora que menos exporta hoje no país.

O mesmo aconteceu com Colômbia, Venezuela e Equador, onde a empresa tem fábricas que até 2006 montavam carros com peças da filial brasileira. Hoje, é a filial coreana que está fazendo o mesmo serviço. "Eu não quero entregar negócios para as outras filiais da GM, mas sou um homem de finanças e preciso me preocupar com a companhia", afirma Young.

As encomendas do México, maior mercado de exportação da Volkswagen do Brasil, a maior exportadora de carros do país, também estão encolhendo. "Os volumes caem a cada ano", afirma o presidente da companhia, Thomas Schmall. Segundo ele, as vendas da Volks para os mexicanos vão encolher 12% entre 2006 e 2012.

A Volkswagen reajustou os preços dos carros exportados. "Para não perder tanto", afirma Schmall. Segundo ele, entre 2006 e 2012, a Volkswagen deverá reduzir as exportações em 25%. "Mas chegará um momento em que precisaremos manter as vendas ao exterior", completa. "E nós queremos importar veículos", afirma Schmall. Para ele, a cotação do dólar deverá chegar a R$ 1,80 até o final deste ano.

A Fiat é a única montadora que aumentou o volume de exportações até 2006 e deverá mantê-lo igual, em 100 mil unidades, em 2007. Não é uma estratégia diferenciada. É que a montadora, a maior exportadora de veículos até a década de 90, perdeu um mercado importante, a Europa, para a filial da Fiat na Turquia anos atrás. Somente nos quatro últimos anos é que conseguiu se recuperar por meio de contratos fechados com países da América do Sul, onde os mercados estão crescendo tanto ou até mais que o Brasil. Outra estratégia usada por essa e outras montadoras foi mudar a versão dos carros vendidos na América do Sul, segundo o presidente, Cledorvino Belini.

Ao colocar versões mais sofisticadas, as empresas tiveram motivos para justificar reajustes de preços de modelos vendidos para mercados como Argentina, Venezuela e Chile, que estão com a demanda aquecida. Mas a Fiat também partiu para a importação. Segundo dados da Secex, as importações da empresa aumentaram 70% no primeiro trimestre. O aumento vem da compra de componentes.