Título: Para indústria, oferta pode se tornar insuficiente em 2012
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2007, Brasil, p. A4

O atraso nas grandes obras de geração e a falta de energia para os grandes consumidores que hoje se abastecem no mercado livre - onde a maioria da indústria brasileira se abastece - podem levar o país a uma situação difícil no início da próxima década. Há o risco de faltar energia para a indústria produzir bens e serviços essenciais para a economia.

Estudo feito pela Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia Elétrica (Abrace), mostrou um "buraco" de 3 mil megawatts (MW) em 2012, o que significa a "descontratação" de 34,1% da energia consumida hoje pelos associados. A Abrace representa indústrias que compram 19% de toda a energia gerada no país, o equivalente a 8,8 mil MW, através de contratos bilaterais fora do chamado mercado regulado, onde as compras são feitas por meio de leilões coordenados pelo governo.

A diretora executiva da Abrace, Patrícia Arce, afirma que o problema é do governo, a quem cabe o papel de aumentar a oferta de energia no país. "O governo diz que o mercado é livre, mas em nosso entendimento é obrigação do governo garantir energia. Até porque o problema não é de falta de energia, mas falta de contratos. Pode ser que não falte energia em 2012, o problema é que os geradores não estão ofertando energia para o mercado livre a preços competitivos", disse Patricia.

A Abrace também quer livrar os associados da imagem de "aproveitadores" do mercado por terem se beneficiado, nos últimos anos, dos baixos preços da energia vendida pelas geradoras no período posterior ao racionamento de 2001, quando a demanda caiu. Segundo a pesquisa, 90% dos consumidores da Abrace têm contratos de suprimento de longo prazo, sendo que no caso da maioria (65%) esses contratos têm prazo superior a cinco anos. No caso dos eletrointensivos, alguns contratos têm duração de até 20 anos, lembra Patricia.

"Nossos associados têm contratos, mas eles estão terminando este ano e em 2008. É justamente o período sem oferta. Mesmo os que vencem em 2012 não estão conseguindo recontratar. É falsa a alegação de que o consumidor aproveitou os preços baixos. Sabemos que os preços vão subir, só queremos ter oferta de energia. Realizamos um leilão no ano passado em que não houve oferta nenhuma, mesmo com ofertas de compra maiores que nos leilões da EPE", diz a diretora da Abrace.

Segundo Patricia, a oferta das geradoras federais - principalmente Furnas, Chesf e Eletronorte - foi direcionada para o mercado cativo, formado pelos clientes das distribuidoras de energia, tanto residenciais como comerciais e industriais. A Abrace ainda não elaborou uma lista de sugestões para resolver o problema - o que será feito a partir de agora com os associados, mas defende a retirada imediata da punição prevista no modelo dos leilões para quem oferece energia para clientes livres nos leilões de energia nova realizados pela Empresa de Pesquisa Energética . A entidade também reivindica que um percentual igual ao tamanho do mercado livre seja destinado a ele nos próximos leilões.

"Até agora, a ação do governo limita a oferta e aumenta o preço da energia nos leilões através de um sobrepreço para quem oferecer energia para o mercado livre", explica a executiva. "O que estamos pedindo é que haja oferta. É obrigação do governo prover energia. Ele deve garantir a oferta de energia para o mercado todo, e não só para o mercado cativo."

O consultor Rafael Herzberg, da Interact Consultoria de Energia, alerta para o que chamou de "desarrumação" do mercado de energia em função de uma "anomalia no comportamento dos preços". O atual modelo do setor prevê prazo mínimo de cinco anos para um consumidor livre se declarar cativo e voltar a fazer parte do quadro de clientes das distribuidoras.

O consultor sugere a produção de energia nas plantas industriais e que as empresas construam, usinas com fontes alternativas (eólica, biomassa e PCHs).