Título: Diretor do Greenpeace critica intenção do Brasil de construir outra usina nuclear
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2007, Brasil, p. A4
O diretor-executivo internacional do Greenpeace, Gerd Leipold, criticou ontem a decisão do governo brasileiro de levar adiante a construção da usina nuclear de Angra 3. "Há várias maneiras de desperdiçar dinheiro e a energia nuclear é uma das melhores delas", disse Leipold. Ele afirmou que o Brasil tem outras formas "mais baratas e menos perigosas" de obter energia. Citou o desenvolvimento de projetos de eficiência energética e o uso de fontes renováveis, caso da energia eólica e hidráulica.
Leipold está no Brasil para participar das comemorações dos 15 anos do Greenpeace no país. Ele também aproveitará a visita para um encontro com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, com quem deve conversar sobre Amazônia e mudanças climáticas. "Tenho muito respeito por ela (pela ministra) como pessoa, mas isso não significa que o Greenpeace concorde com a política ambiental do governo", disse Leipold em conversa, ontem, com jornalistas, no Rio.
Ele ressaltou a independência do Greenpeace, entidade sem fins lucrativos mantida por cerca de 2,8 milhões de pessoas físicas no mundo (30 mil só no Brasil). "Não aceitamos dinheiro de governos, partidos políticos ou empresas", disse Leipold. Em 2007, o orçamento mundial do Greenpeace é de US$ 220 milhões.
Leipold e o diretor-executivo do Greenpeace no Brasil, Frank Guggenheim, defendem uma participação mais ativa do Brasil nas discussões internacionais envolvendo questões ambientais, como o aquecimento global. "Temos 85% da matriz energética baseada em fontes renováveis e a maior floresta tropical do mundo em pé, mas temos sido muito defensivos (nos fóruns internacionais)", avaliou Guggenheim.
Segundo ele, para enfrentar o desmatamento, o Brasil tem de implementar um comando de controle na Amazônia (ocupar a região com instituições do Estado) e dar incentivos econômicos para preservar a floresta.
Leipold disse que o Brasil é um dos países prioritários na estratégia do Greenpeace. Segundo ele, "o modelo de desenvolvimento que tiveram EUA e Europa, baseado na exploração de recursos naturais, não funciona mais. Precisamos de um desenvolvimento que seja sustentável".
Para Leipold, a energia nuclear não tem espaço no novo modelo de desenvolvimento. Ele disse que, embora as gerações atuais possam ser beneficiadas pelas novas usinas, as gerações futuras terão de arcar com o custo de cuidar dos rejeitos nucleares, o que é "injusto".
Guggenheim disse que existem pessoas no governo que acreditam que a energia nuclear não é necessária do ponto de vista energético. "Esta é a visão da ministra Dilma Rousseff (da Casa Civil), segundo a qual a energia nuclear é uma questão estratégica", afirmou. Leipold disse que a fonte nuclear não pode ser considerada alternativa a curto prazo. "Podemos conseguir resultados mais rápidos com a eficiência energética, usando melhor a energia disponível."