Título: Angra 1 receberá R$ 410 milhões para prolongar vida útil
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2007, Brasil, p. A4

Depois de 25 anos de funcionamento, completados no mês passado, a usina nuclear de Angra 1 recebe investimentos de R$ 410 milhões para prolongar sua vida útil. Com a substituição de equipamentos cruciais para sua operação, a vida da usina passará de 40 para 60 anos - ou seja, ela só precisará ser "descomissionada", termo usado no setor para designar o desligamento do reator, em 2042.

O maior investimento é na troca dos dois geradores de vapor e de seus tubos, feitos da liga de níquel do tipo Inconel 600, sujeitos a um processo de crescente degradação e corrosão. Também será trocada a tampa do vaso do reator. O superintendente de Angra 1, Jorge Luiz Lima de Rezende, afirma que o investimento se pagará em até sete anos e aumentará em pouco mais de 5% a capacidade de geração da usina, atualmente de 657 megawatts.

Embora haja inspeções regulares e a Eletronuclear garanta a inexistência de qualquer risco de acidente, algumas condições de Angra 1 provocam arrepios em ambientalistas. A tampa do vaso, fornecida pela americana Westinghouse, é da mesma marca e modelo do equipamento utilizado na usina nuclear Davis Besse, em Ohio (EUA), que já apresentou risco iminente de acidente.

Em 2002, descobriu-se uma rachadura desenvolvida por uma década sem ser percebida, apesar das supervisões de rotina. Quando descoberta, a rachadura já havia penetrado o vaso de pressão, através de 160 milímetros de espessura. Apenas cinco milímetros de revestimento de aço impediam uma abertura no sistema de esfriamento primário, a mais importante barreira de segurança de um reator atômico. As demais usinas americanas que usavam o mesmo equipamento passaram por inspeções, mas nenhuma apresentou problemas.

Segundo o superintendente de Angra 1, já foi percorrida 70% da fabricação dos novos geradores de vapor, pela Nuclebrás Equipamentos Pesados, a Nuclep. Rezende explica que a substituição ocorrerá durante uma parada técnica da usina, prevista para junho de 2008. A parada terá duração de 120 dias, dos quais 90 ficarão reservados para as atividades de troca. Os novos geradores terão tubos fabricados com a liga Inconel 690-TT, que não tem suscetibilidade à corrosão. Já a tampa do reator deverá ser trocada apenas em 2010.

Inaugurada em 1982, Angra 1 tem tecnologia americana e já produziu cerca de 55 milhões de megawatts-hora. Junto com Angra 2, cuja capacidade de geração é o dobro da primeira usina, produz o equivalente a 50% de toda a energia consumida no Estado do Rio de Janeiro. Quando Angra 3 sair do papel, a estimativa é que o complexo atenda ao equivalente a 80% da demanda fluminense.

Segundo estudo do Greenpeace, medidas para estender a vida útil dos reatores "por um lado podem ser economicamente atrativas e oferecer uma chance para se melhorar o balanço geral da operação de usinas nucleares; por outro lado, ampliam os perigos do envelhecimento e aumentam o risco de uma catástrofe nuclear com graves liberações de radioatividade". "Com poucas exceções, programas de extensão da vida útil de uma usina priorizam os aspectos econômicos em detrimento da segurança", diz o estudo, sem mencionar o Brasil.

Em meados de junho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornará pública a decisão de concluir as obras de construção de Angra 3, já tomada nos bastidores, conforme noticiou o Valor na edição de ontem. O único foco de resistência para a retomada das obras é a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que se tornou voto vencido na questão.

Para concluir a usina, a Eletrobrás deverá investir R$ 7,2 bilhões - despesas de R$ 1,5 bilhão já foram feitas na compra de equipamentos da Alemanha, há duas décadas. Cerca de 30% do investimento novo será financiado por um consórcio de bancos franceses. Para comercializar a energia gerada por Angra 3, o governo deverá fazer mudanças nas regras de comercialização da eletricidade nuclear, atualmente vendida a Furnas. As alterações vão abranger também Angra 1 e 2.