Título: Ex-governador nega ter aceitado favor de empresa
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2007, Política, p. A6

O ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares (PSB) defendeu-se ontem das acusações de participação na máfia das licitações, desmanchada na semana passada pela Operação Navalha da Polícia Federal. Ele prestou depoimento à ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça, por uma hora e quinze minutos na tarde de ontem e negou qualquer favorecimento à empresa Gautama, acusada pela PF de liderar o esquema de fraudes.

Segundo os agentes federais, José Reinaldo teria recebido um carro como propina por favorecer a Gautama em licitações de construção de pontes e estradas no Maranhão. O ex-apadrinhado político e hoje adversário do senador José Sarney (PMDB-AP) negou que o automóvel tenha sido um presente: "Foi pago por mim, com recursos declarados no meu Imposto de Renda de 2005. E o carro também está na minha declaração de Imposto de Renda de 2006. Não houve presente porque eu não aceitaria". O carro seria um Citroën avaliado em R$ 110 mil.

O carro seria um presente por Reinaldo favorecer a Gautama na construção de algumas pontes para a conclusão de uma estrada nos Lençóis Maranhenses. "Foi a contrapartida do estado. A estrada seria terminada pela governo federal", disse. Reinaldo diz que a Gautama chegou a participar de outras licitações mas foi descartada durante o processo: "Isso mostra que não houve favorecimento".

As declarações foram dadas por Reinaldo ainda no STJ, onde outros dez acusados de envolvimento com o esquema deram explicações à ministra. Ele chegou a ser preso pela Operação Navalha mas foi beneficiado por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no domingo.

Ontem, a ministra relaxou a prisão de mais dois acusados de envolvimento com as fraudes: Geraldo Magela Fernandes da Rocha, ex-assessor José Reinaldo, e João Alves Neto, filho do ex-governador de Sergipe João Alves. Com isso, ainda restam 40 pessoas presas (sete foram soltos de sexta-feira até ontem). Até às 19h, havia expectativa de novos relaxamentos. A idéia da magistrada era libertar os presos à medida que foram sendo ouvidos.

Geraldo Magela e João Alves foram ouvidos na manhã de ontem. Também compareceram ao STJ o advogado Flávio Conceição de Oliveira Neto, o ex-deputado José Ivan de Carvalho Paixão (SE), e Ney Barros Bello, titular da Secretaria de Infra-Estrutura do governo do Maranhão.

À tarde, além de Reinaldo, foram ouvidos Nilson Leitão (prefeito de Sinop-MT), Jair Pessine (ex-secretário de Desenvolvimento Urbano de Sinop-MT), Flávio José Pin (superintendente de Produtos e Repasses da Caixa Econômica Federal), Ernani Gomes (servidor do Ministério do Planejamento), e Zaqueu de Oliveira Filho (servidor de Camaçari-BA). Durante a semana, a ministra pretende ouvir os outros acusados de envolvimento nas irregularidades.