Título: Silas Rondeau deve pedir afastamento do ministério
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2007, Política, p. A9

O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, deve pedir demissão, hoje, oficialmente, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A possibilidade de o ministro afastar-se do cargo começou a se tornar mais forte na noite de ontem. O sinal de que Rondeau, acusado de receber R$ 100 mil da construtora Gautama, está deixando o governo, foi dado ontem pelo seu padrinho político, o senador José Sarney (PMDB-AP). Segundo a assessoria do senador, Sarney recomendou a Rondeau que se afaste do cargo, pelo menos até que sejam esclarecidas as suspeitas levantadas contra ele.

O pemedebista está convencido de que o ministro é inocente, mas avalia que ele já sofreu muito desgaste político e precisaria sair do foco. Os dois conversaram por telefone. O senador defendeu que Rondeau peça demissão ou apenas se licencie temporariamente.

Na comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à inauguração das duas últimas unidades geradoras de Itaipu, em Foz de Iguaçu, Rondeau disse em que está acompanhando "do ponto de vista administrativo" o caso e afirmou ter determinado a abertura de uma auditoria especial. "Estamos também abrindo processo administrativo disciplinar", disse.

"Estarei fazendo avaliação. Se houve alguma incúria, os responsáveis serão punidos", afirmou Rondeau. O ministro integra o Conselho de Administração de Itaipu e compôs o palanque, ao lado do presidente. "As acusações são gravíssimas no processo como um todo. Precisam ser apuradas. Não podemos deixar a sociedade sem resposta." Questionado se vai deixar o cargo, Rondeau recusou-se a responder.

No fim do dia, a assessoria do MME divulgou nota rebatendo as possibilidade de que a pasta tenha envolvimento em fraudes orçamentárias do programa "Luz para Todos". Segundo o documento, cabe às concessionárias estaduais a definição dos programas de obras, bem como as licitações; à Eletrobrás, que já foi presidida por Rondeau quando a ministra da área era Dilma Rousseff, cabe a análise técnica e orçamentária.

Caso se afaste até que termine a investigação, Rondeau estará se utilizando da mesma estratégia adotada, em 1993, pelo então chefe do gabinete civil da Presidência do governo Itamar Franco, Henrique Hargreaves. Hargreaves se viu envolvido nas denúncias da CPI do orçamento e pediu afastamento do cargo alegando que, dessa maneira, poderia defender-se melhor das acusações. Segundo assessores do Ministério de Minas e Energia, Rondeau está bastante abatido. "Com o conselho de Sarney, fica mais fácil para todos os lados", acrescentou um assessor do Palácio do Planalto.

Para o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que também estava na comitiva de Itaipu, é preciso apurar: "Como o presidente falou, doa a quem doer. Tem que ver o histórico da pessoa porque o ministro tem feito um bom trabalho. Há casos em que as pessoas podem achar mais confortável sair para se defender. Mas se optar por ficar terá que se explicar logo. Esse tipo de investigação da PF atrapalha só quem está querendo fazer malandragem".

Na agenda oficial do presidente, não constava, até as 21h30 de ontem, o encontro com Rondeau. O primeiro evento oficial previsto é a reunião da coordenação política, que serviria para o presidente "medir a temperatura da crise". Assessores não descartavam a hipótese de Rondeau ser convocado para essa reunião mas, se pedir para sair, não deve participar.

Rondeau é suspeito, com base em gravações telefônicas e filmagens feitas pela Polícia Federal, de receber R$ 100 mil da empresa Gautama, de propriedade de Zuleido Soares Veras. A situação de Rondeau oscilou no governo nos dois últimos dias, até que o desfecho do pedido de demissão estivesse praticamente consumado. No domingo, surgiram imagens da PF mostrando a assessora da Gautama, Maria de Fátima, entrando no Ministério com um envelope contendo, supostamente, R$ 100 mil. O montante foi entregue ao assessor especial do Ministério, Ivo Almeida Costa, que cruzou uma porta atrás da qual estaria o gabinete do ministro. Saiu pouco depois, já sem o envelope.

Ontem, o ministério, que no primeiro momento havia descartado a possibilidade de uma câmera filmando a ante-sala do ministro, voltou atrás e resolveu mostrar que, por detrás da porta, existe um conjunto de salas, não apenas o gabinete do ministro.

No Congresso, a crise se expande, mas as lideranças governistas receiam dar passos em falso. Ontem à noite, apesar da interlocução constante, o líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE) iria se reunir pessoalmente com o ministro da articulação política, Walfrido dos Mares Guia. A preocupação central é com a possibilidade de, mais uma vez, uma crise política paralisar as votações no Congresso, prejudicando o andamento do PAC. Múcio defende que venha logo à tona a lista dos parlamentares envolvidos com o esquema da Gautama. "Afastemos de uma vez por todas os envolvidos e deixem que o resto do Parlamento legisle".

Caso a saída de Rondeau seja efetivada, o mais cotado para assumir interinamente a pasta é Nelson Pereira Hubner, atual secretário-executivo. Ele era chefe de gabinete de Dilma, quando esta era ministra de Minas e Energia.

A jornalista Marli Lima viajou a convite da Itaipu Binacional