Título: Celular já substitui os cartões e paga contas em bares e lojas
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2007, Finanças, p. C1

O celular, além de tirar fotos, enviar mensagens de texto e fazer ligações, já substitui o cartão de crédito e débito e pode ser usado para fazer pagamentos em bares e lojas. Depois de vários testes e pilotos nos últimos meses, alguns projetos - como os da operadora de telefonia Oi e o da M-Cash, que fechou parceria com o HSBC - começam a sair do papel e ganhar as ruas.

A Oi lançou o serviço no Rio de Janeiro no início do ano e em julho lança o produto nos outros 15 Estados onde opera, incluindo Minas Gerais. Antes disso, testou o produto em Natal (RN) e Uberlândia (MG) no ano passado. "A principal vantagem do celular é que as pessoas estão sempre com ele", diz Leonardo Caetano, um dos responsáveis na Oi pelo nova tecnologia.

No Rio, o Oi Paggo, como é chamado o serviço que permite o pagamento com o celular, já conta com 70 mil usuários e 8 mil lojistas cadastrados. Após a expansão para os outros Estados, que deve se completar até o final do ano, a meta é chegar a 1,5 milhão de usuários cadastrados, 50 mil estabelecimentos credenciados e sete milhões de transações.

Já a M-Cash, empresa que criou uma plataforma para pagamentos por celulares e tem acordo com o HSBC, está ampliando a rede de estabelecimentos credenciados e os bancos parceiros. Antes, só era possível usar o celular como meio de pagamento em lojas da internet. Agora, por meio de uma parceria com o Check Express Group - empresa que possui 39 mil lojas credenciadas no país -, será possível também fazer pagamentos no mundo físico, informa Gastão Mattias, presidente da empresa.

As experiências são recentes e o número de usuários ainda são tímidos. No HSBC, em torno de 10 mil clientes usam o celular como meio de pagamento. Na Oi, os 70 mil usuários movimentaram R$ 1 milhão em transações desde o lançamento, em janeiro, número ainda pequeno perto dos bilhões de reais que os meios de pagamento eletrônico movimenta mensalmente. "Mas quando se considera que começamos a operação do zero, os números são relevantes", diz Caetano. No Rio, são 1,2 mil adesões por dia.

No setor de cartões, a avaliação é que as grades bandeiras, como a Visa e a MasterCard, não têm tanta pressa em transformar o celular em meio de pagamento. Elas preferem, por exemplo, apostar nos cartões sem contato. Por esse motivo, a Oi procurou uma administradora nova para lançar seu serviço, a Paggo. "Conseguimos com isso agilizar o processo", diz Caetano.

O próprio Banco Central está interessado no desenvolvimento dos celulares, que teria impacto positivo na inclusão de pessoas de baixa renda no mundo dos pagamentos eletrônicos. O país tem 102 milhões de celulares, mais que o total de contas correntes ativas (70 milhões) e o de cartões de crédito (83 milhões).

O Banco Mundial também aposta que o celular será o principal meio de pagamento para pessoas de baixa renda. Para o diretor de risco de crédito da divisão da América Latina do International Finance Group (IFC), braço do Banco Mundial, Oscar Madeddu, o número de aparelhos no mundo supera os três bilhões. Ele acredita que o celular poderá servir, inclusive, como instrumento para concessão de crédito para populações pobres.

Dados do IFC mostram que, apesar das 60 milhões de pessoas no Brasil com conta em banco, há quase 80 milhões que poderiam ser inseridas no sistema financeiro, muitas delas pelo celular.

Ainda há muitos pilotos sendo avaliados. Bradesco, Banco do Brasil e Banco Real estudam o produto. A Visa trouxe recentemente uma plataforma que permite explorar as operações com o celular. Outras empresas, principalmente do setor de benefícios, como a Ticket, também fazem testes. (Colaborou Fernando Travaglini)