Título: Empréstimos vão superar metade do PIB
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2007, Finanças, p. C8

A soma do crédito bancário com o mercantil (concedido por empresas) deve superar 50% do PIB este ano, segundo avaliação do economista Antônio José Alves Jr., assessor especial da Casa Civil. Segundo ele, dados do Ministério da Fazenda apontam que, no fim de 2006, esse percentual já alcançava 48%, sendo que o crédito bancário correspondia a cerca de 34% do PIB enquanto o mercantil representava 14%.

"Este ano, como o crédito continua em expansão, vamos superar os 50%", acredita Alves Jr., que palestrou ontem no seminário "Eficiência do sistema financeiro", organizado por um grupo de acadêmicos da UERJ, UFRJ e FGV.

Além da expansão das operações de crédito, Alves Jr. destacou que o mercado de capitais também está crescendo num ritmo forte e o volume de emissões no ano passado chegou a cerca de R$ 120 bilhões. Esse desenvolvimento do mercado já começa a denotar mudanças no mix de operações de crédito do sistema brasileiro, aponta também André Lóes, economista-chefe do Santander. "No segmento de crédito para pessoa jurídica as pequenas e médias empresas vêm ganhando mais espaço do que as grandes", afirma Lóes. Para ele, isso ocorre por conta do acesso que as grandes companhias têm ao mercado de capitais.

Na avaliação do economista do Santander, pode ocorrer ainda um movimento de redução dos spreads para esse segmento de pequenas e médias empresas por conta da possibilidade de os bancos utilizarem os créditos como lastro para operações de recebíveis. "Pode ocorrer um movimento de empacotar recebíveis dessas empresas que sejam cedidos a fundos", analisa Lóes.

Tanto Lóes quanto Alves Jr. participaram de uma mesa de debates sobre a questão do crédito. Para os economistas Rogério Studart, do BID, Fernando Cardim, da UFRJ, este momento de maior estabilidade econômica e redução de juro é apropriado para pensar reformas e políticas públicas que possam maximizar a importância do crédito para o desenvolvimento e o crescimento da economia brasileira.

Studart citou o caso do mercado imobiliário chileno que se desenvolveu por conta de um arcabouço desenhado para incentivar esse movimento. Para ele, o papel do governo é importante na hora de formular essas políticas.

Já Lóes defendeu que a política pública possa ocorrer mais pela via fiscal do que pelo direcionamento do crédito. Para ele, uma ação positiva do governo foi a colocação de alíquotas diferenciadas para investimentos de longo prazo. Por outro lado, ele criticou o alto percentual do compulsório. "Nos depósitos à vista, 53% são para o compulsório, 25% para o crédito direcionado rural e 2% para o microcrédito. Restam apenas 20% para o crédito livre", disse.

Para o economista Luiz Fernando de Paula, da UERJ, essa migração das aplicações em títulos públicos para crédito e títulos privados reduz a margem de rentabilidade das instituições financeiras, embora seja compensada por lucros mais volumosos.

Há também a expectativa de que essa maior competição entre as instituições, que passam a ter sua receita mais atrelada aos produtos, possa gerar redução de custos para os consumidores finais. No entanto, o economista Fernando Cardim, da UFRJ, ressaltou que o modelo brasileiro tem aspectos peculiares.

"Se discute muito a concentração do setor bancário no Brasil por conta das fusões e das aquisições, mas pouco se fala sobre a questão da competição interna do setor", disse Cardim. "Nos Estados Unidos, os bancos concorrem com instituições especializadas em outros serviços financeiros, como gestão de fundos ou securitização de ativos, mas no Brasil essas atividades são absorvidas pelos principais bancos e há efeitos disso para o cliente", concluiu Cardim.