Título: Pernambuco reforma as secretarias para se afinar com o governo federal
Autor: Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2006, Política, p. A11

A estrutura administrativa montada por Eduardo Campos (PSB), governador eleito de Pernambuco, reflete a relação que o Estado pretende estabelecer com o governo federal nos próximos quatro anos. A nova gestão quer estar em sintonia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Campos criou novas secretarias no Estado e até mudou o nome das existentes para criar um organograma parecido com o dos ministérios. Com isso, ele pretende facilitar a comunicação entre Pernambuco e a Presidência da República com o objetivo de conseguir o apoio do governo federal para os projetos do Estado.

A atual Secretaria de Educação, Cultura e Esportes, por exemplo, será desmembrada em três unidades no governo do PSB. Já a pasta de Desenvolvimento Urbano deve passar a se chamar Secretaria das Cidades, como é denominado o ministério. Ao todo serão 25 secretarias sob o comando de Campos, ante 15 do atual governo de Mendonça Filho (PFL). No plano federal, são 26 ministérios.

A semelhança com a estrutura criada por Lula não fica limitada à nomenclatura. Campos buscou alinhar seu secretariado politicamente com os ministérios. Humberto Costa (PT), ex-ministro da Saúde e candidato derrotado ao governo de Pernambuco, ficará com a pasta das Cidades, para dialogar com um outro petista no ministério. A mesma correlação existe no Turismo e nos Transportes.

"Há importantes obras no Estado que dependem de Lula. Ao buscar uma maior articulação federativa, Eduardo quer que Pernambuco se beneficie", diz Michel Zaidan, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco.

Três grandes projetos devem ser iniciados no governo de Campos. O estaleiro Atlântico Sul, a refinaria da Petrobras e o pólo têxtil devem injetar US$ 4 bilhões em investimentos. Mas o Estado também precisará dar sua contrapartida com obras de infra-estrutura. Segundo estimativas da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco, essas obras consumirão R$ 700 milhões.

"O Estado certamente vive um momento muito especial, de grandes projetos estruturadores. Mas, para eles serem realizados, o Estado precisará de uma engenharia financeira para poupar recursos e obter financiamentos", admite Fernando Bezerra Coelho (PSB), que assumirá a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Ele deixa a Prefeitura de Petrolina, cidade na região do Vale do Rio São Francisco para assumir a pasta.

De acordo com Bezerra Coelho, algumas obras, como as de saneamento, poderão ser feitas por meio de parcerias público-privadas (PPPs). Taxas portuárias também poderão ser antecipadas para financiar os projetos.

Na avaliação do deputado federal Pedro Eugênio (PT-PE), Pernambuco terá de se esforçar para melhor aproveitar esses investimentos. "Do contrário, muito daquilo que será consumido pelas empresas virá de outros Estados, inclusive a mão-de-obra", diz ele.

No campo social, os problemas também são muitos. Pernambuco é o segundo Estado mais violento do país, segundo levantamento do Ministério da Justiça. Romero Lucena de Menezes, atual superintendente da Polícia Federal no Distrito Federal, assumirá a Segurança no Estado. A recomendação partiu do ministro Márcio Thomaz Bastos, mostrando também a sintonia entre governos estadual e federal.