Título: Brasil deve manter liderança nas carnes
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2004, Empresas &, p. B6

Após um ano em que se firmou como o maior exportador mundial de carne bovina e de frango e conseguiu, apesar de restrições, manter em níveis estáveis as vendas externas de carne suína, o Brasil entra em 2005 com a tarefa de consolidar sua posição no mercado internacional. Este ano, as exportações brasileiras totais de carnes devem fechar em US$ 5,8 bilhões, 42% mais do que 2003. Os embarques são estimados em 4,2 milhões de toneladas, 23% mais que no ano passado. É consenso entre analistas e empresas que o ano foi bastante favorável aos exportadores de carnes, apesar de restrições, como as cotas da Rússia e o recente embargo do país ao produto brasileiro por causa do caso de aftosa no Amazonas. O quadro foi positivo, em grande medida, por conta de problemas sanitários e de menor oferta em outros países fornecedores. E esses mesmos fatores devem continuar beneficiando o Brasil em 2005. "Se não houver nenhum desastre, o país deve manter o primeiro lugar nas exportações de carne bovina", afirma José Vicente Ferraz, da FNP Consultoria. Desastre, neste caso, poderia ser a confirmação da suspeita de febre aftosa no Mato Grosso do Sul, divulgado na semana passada, que, fatalmente, afetaria as exportações brasileiras de carne bovina. Na análise de Ferraz, o Brasil deve permanecer como maior exportador porque seus dois principais concorrentes, Austrália e Estados Unidos, seguirão tendo problemas de oferta de gado bovino para abate. Na Austrália, explica Ferraz, os produtores tentam recompor o rebanho após três anos de seca. Esse movimento - que implica manutenção de matrizes e menor abate - deve continuar em 2005, impedindo que a Austrália recupere mercado. Já os Estados Unidos, que perderam grande participação no mercado internacional por causa da descoberta de um caso de "vaca louca" em dezembro de 2003, também tiveram redução no rebanho por causa do aumento do consumo interno. Ele não descarta, porém, que a desvalorização do dólar cause problemas às exportações. Para Pratini de Moraes, presidente da Abiec (reúne os exportadores de carne bovina), o maior desafio em 2005 será buscar os mercados que ainda não compram do Brasil e que têm melhores preços. "Estamos em 143 mercados, exceto nos altamente protegidos da América do Norte, Japão e Coréia do Sul, que respondem por 50% das importações mundiais de carne", comenta Pratini de Moraes. Um alvo antigo do Brasil são os EUA, para onde o país só vende carne bovina industrializada. "Espero que haja retomada e conclusão da análise de risco para aftosa", diz Pratini. A análise, cujo processo foi interrompido, é necessária para que os EUA definam se vão importar carne in natura brasileira. Pratini aposta que as vendas continuarão crescendo ano que vem, mas não nos níveis vistos em 2004. Até novembro, o Brasil exportou US$ 2,2 bilhões, 66% mais que em igual período de 2003. O volume somou 1,7 milhão de toneladas equivalente-carcaça, alta de 47%. A estimativa da Abiec é fechar 2004 com vendas de US$ 2,5 bilhões e 2 milhões de toneladas. Para as vendas externas de carne de frango, a questão sanitária também é fundamental. "Ano que vem, o grande desafio é sustentar o que caiu de graça no nosso colo" este ano, reconhece Júlio Cardoso, presidente da Abef (reúne os exportadores de frango). Ele se refere à influenza aviária que afetou países produtores da Ásia, como Tailândia e China. Esses países ficaram sem poder exportar carne de frango in natura, abrindo espaço para o Brasil, que não tem a doença, exportar mais ao Japão. "Com a influenza, o Brasil conquistou um espaço fantástico que tem de ser mantido". Para isso, diz Cardoso, é preciso investir no controle sanitário, evitar a euforia e fazer alianças estratégicas em países importadores. O diretor-executivo da Abef, Cláudio Martins, avalia que os efeitos do problema sanitário na Ásia ainda deverão ser sentidos no próximo ano, continuando a beneficiar as vendas brasileiras. Ele afirma que o país buscará manter as posições conquistadas este ano, quando alcançou o primeiro lugar em volume e receita de vendas no exterior. A expectativa é crescer 10% sobre os 2,4 milhões de toneladas estimados para 2004 e 15% sobre a receita de US$ 2,5 bilhões. Os exportadores de carne suína são mais modestos e acreditam que 2005 será semelhante a este ano, que deve fechar com 500 mil toneladas exportadas e receita de US$ 737 milhões . "Precisamos ampliar mercados, diversificar", afirma Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (reúne exportadores de carne suína). Uma das metas para 2005 é depender menos da Rússia, observa Camargo Neto. O país - que vem impondo restrições à carne brasileira - é o principal cliente do Brasil. Até novembro, comprou 263,5 mil toneladas de um total de 459 mil exportadas pelo Brasil. De acordo com Camargo Neto, o Brasil buscará mercados como Chile, países do leste europeu e também Ásia.