Título: Votorantim quer entrar no crédito imobiliário e financiar o consumo
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2004, Finanças, p. C1

Crescimento meteórico, números sólidos e poder de fogo respeitável tornaram o Banco Votorantim um dos mais observados pelo mercado financeiro. Para onde vai caminhar o banco é uma pergunta recorrente entre analistas e concorrentes. A julgar por alguns projetos revelados pelo diretor presidente do banco, José Ermírio de Moraes Neto, em entrevista ao Valor, o mercado pode esperar mais lances ousados como a entrada no crédito imobiliário e no financiamento ao consumo. Um dos filhotes mais novos do 15 º maior grupo brasileiro em receita bruta, segundo a publicação Valor Grandes Grupos, o Votorantim nasceu de uma distribuidora criada em 1988. A distribuidora se transformou em banco múltiplo em 1991 e, desde então, é comandado por Moraes Neto, que havia passado pelas áreas de cimento, papel e tecidos. Ao contrário de outros bancos fundados para gerir o caixa de grandes grupos industriais que acabaram fechados ou vendidos, o Votorantim cresceu rapidamente e é, atualmente, o sétimo maior banco privado em ativos (nono considerando os estatais), com R$ 35,8 bilhões em setembro. O Votorantim é maior do que nomes respeitáveis como o HSBC, Citibank e BankBoston. Os negócios com o grupo não explicam o sucesso: representam apenas 5% das receitas do banco que tem que concorrer em pé de igualmente com o resto do mercado. O banco tem três pilares: grandes empresas, financeira (BV Financeira) e administração de recursos de terceiros. Desde 2000, as áreas de grandes empresas e asset cresceram a uma taxa média de 50% ao ano; e a financeira, disparou com 80% ao ano. Da carteira de crédito de R$ 5,5 bilhões em setembro, 40% são operações com grandes empresas; e 60% da financeira. Segundo Moraes Neto, o banco vai redobrar a ênfase no crédito. "Com o cenário mudando de extremamente volátil para uma economia mais equilibrada e responsável fiscalmente falando, a área de crédito deverá ser o grande foco de atuação dos bancos e não mais títulos governamentais", disse. O canal de expansão será a BV Financeira, atualmente voltada para o financiamento de veículos usados. "A BV Financeira deverá atuar em todos os segmentos de crédito, à medida que o mercado for exigindo", afirmou Moraes Neto. Uma área em início de expansão é a do crédito consignado. "Não temos conflito com o cheque especial como os bancos de varejo, que é caro para o cliente", explicou, referindo-se ao fato de o banco não oferece esse tipo de produto porque não tem conta corrente. O banqueiro também pretende crescer no crédito imobiliário. Será, como diz o ditado, matar dois coelhos com uma só cajadada porque um negócio tradicional do grupo Votorantim é a produção de cimento. Moraes Neto observou, porém, que o crédito imobiliário exige juros mais baixos para se desenvolver. "Esperamos que os juros desçam a um patamar que possa estimular o crédito habitacional, alavanca de crescimento da economia". Quer crescer ainda no segmento de empresas médias (middle market), aproveitando a vantagem de o grupo atuar "em todas as áreas de insumos básicos, o que nos dá uma boa percepção de oportunidades de crescimento". A entrada nesses novos negócios será feita sem aquisições ou as compras de carteira que se tornaram freqüentes. "Não vamos dividir resultados. Temos capital suficiente e inteligência para isso", disse Moraes Neto. O Banco Votorantim sempre optou pelo crescimento orgânico. Por outro lado, já foi assediado por interessados. Moraes Neto sepulta qualquer devaneio: "Viemos para ficar. Achamos que a área de serviços financeiros terá grande potencial nos próximos 10 a 20 anos. Tanto é que o grupo tem aportado recursos para que o banco possa atingir seus objetivos", disse Moraes Neto. O banqueiro resume o segredo do banco em trabalho de equipe, foco, agilidade na tomada de decisões - "aqui ninguém precisa esperar um telefonema de Nova York para decidir uma operação" - e excelência operacional. "Temos um DNA próprio. O grupo nasceu na área de commodities, onde excelência operacional e de processo é fundamental para ser competitivo. É esse DNA que a gente migrou para a área financeira". Com um lucro líquido de R$ 507,2 milhões nos primeiros nove meses do ano, o banco contribui com 20% do resultado do grupo; e tem recebido apoio para crescer. Em 2003, recebeu uma injeção de R$ 437 milhões que, somada ao reinvestimento do lucro, reforçou em R$ 800 milhões o patrimônio, que está em R$ 3,1 bilhões. O grupo Votorantim cria uma disputa entre as diversas áreas pelos recursos para investimento. O grupo quer ter uma oferta de oportunidades três vezes maior do que a disponibilidade de recursos, explicou Moraes Neto, que também é vice-presidente do conselho de administração da holding do grupo, a Votorantim Participações, e um dos conselheiros da Votorantim Novos Negócios. "Quem apresentar os melhores projetos leva o caixa", disse Moraes Neto, lembrando que o grupo gera cerca de R$ 6 bilhões por ano de caixa.