Título: País possui 4 mil empresas que podem competir no exterior, mas não exportam
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2007, Brasil, p. A2

O universo de indústrias brasileiras com capacidade de produzir e vender para o mercado externo chega, pelo menos, a 10,55 mil empresas, número 60% maior do aquele que efetivamente exporta. Existem, no país, pelo menos 4.058 firmas industriais que, embora tenham estrutura e características produtivas muito parecidas com outras que já exportam, nunca fizeram nenhuma exportação. Se já exportassem, só em 2003, poderiam ter vendido US$ 6,11 bilhões a outros países, o que teria representado acréscimo de 22% no volume exportado pela indústria naquele ano.

Essa foi a conclusão a que chegou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), após estudar características e desempenho de aproximadamente 22 mil indústrias com mais de 30 empregados, exportadoras e não-exportadoras. A amostra é representativa, pois responde por 85% do faturamento da indústria e por 98% das exportações industriais. As mais de 4 mil potenciais exportadoras estão sobretudo nos setores têxtil, de alimentos e bebidas, de metalurgia básica e de móveis e devem, na opinião do Ipea, ser o foco dos programas de estímulo à exportação.

Transformado num livro, o resultado da pesquisa foi anunciado ontem pelo Ministério do Planejamento, em solenidade de lançamento da publicação, intitulada "As empresas brasileiras e o comércio internacional". Organizado por João Alberto De Negri e Bruno César Araújo, ambos do Ipea, o livro foi produzido por eles e outros 20 pesquisadores, do próprio instituto e de diferentes universidades.

Segundo os organizadores, esta foi a primeira pesquisa no país a analisar o comércio internacional brasileiro sobre o ponto de vista dos "microdados", ou seja, a partir de informações de cada empresa e não de dados macroeconômicos.

O número de indústrias com mais de 30 empregados no Brasil chega a 25 mil, mas foram excluídas da amostra cerca de 3 mil, cujos dados continham alguma inconsistência ou geravam alguma dúvida, informa De Negri. Sobraram 21.890, das quais só 6.492 costumam vender ou fizeram alguma venda ao mercado externo no período pesquisado, de 1996 a 2006.

Uma vez definido o universo de exportadoras, o Ipea passou a verificar quantas dessas tinham uma "irmã gêmea" entre as não-exportadoras para saber o universo daquelas com potencial para vender ao mercado externo, explica De Negri. Encontrou 4.058. Foram consideradas "gêmeas" empresas não-exportadoras que "apresentam características produtivas e tecnológicas muito semelhantes a empresas que já exportam".

Das quase 6,5 mil empresas com alguma presença no mercado internacional, só 2.434 não tinham alguma com estrutura e capacidade parecidas no grupo de não-exportadoras, já que eram bem superiores em itens como produtividade e escolaridade dos funcionários. Esse subgrupo, sem similar no grupo sem experiência externa, foi também o que apresentou maior inserção no comércio internacional e por isso foi classificado, na pesquisa, como "fortemente exportador".

O Ipea analisou diversas características desse subgrupo, comparativamente às das outras exportadoras, das respectivas gêmeas (potenciais exportadoras) e das demais empresas voltadas ao mercado interno. Concluiu que tanto o potencial para exportar quanto o desempenho de quem já exporta está vinculado a fatores como produtividade, escolaridade e remuneração da mão-de-obra, cujos indicadores foram melhores entre as empresas que exportam, sobretudo entre as que exportam muito . "As exportadoras são 6,84 vezes mais produtivas que as não-exportadoras", diz Bruno Araújo.

Olhando apenas para as exportadoras, a pesquisa concluiu ainda que as vendas externas brasileiras vêm crescendo em grande medida pela inovação tecnológica. Somado a fatores macroeconômicos, como inflação baixa, é isso que compensou a queda da taxa de câmbio desde 2003.

Por isso, o Ipea sugere que esse seja o principal foco dos programas de apoio à exportação. O instituto destaca que, no primeiro ano após a estréia das empresas no mercado externo, a produtividade aumenta, em média, 23,7%, o faturamento, 50%, e o emprego 21%. No segundo ano, a produtividade se estabiliza, mas o faturamento continua a crescer, 43% e o emprego também, 20%.