Título: Temor de falta de energia afeta Vale
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2007, Brasil, p. A6

Pouco mais de quatro meses depois do lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, disse ontem que as incertezas quanto à disponibilidade de energia elétrica na próxima década têm limitado investimentos da empresa. Segundo ele, projetos da companhia nas áreas de níquel, alumínio, cobre e minério de ferro são afetados por dúvidas em relação ao fornecimento do insumo a partir de 2012.

Agnelli criticou a demora para se conseguir licenças ambientais em projetos de geração, e ressaltou que é indispensável aumentar a disponibilidade de energia, "seja ela nuclear, térmica, a gás ou hídrica". O executivo fez as declarações ontem, no III Fórum Globo News, que teve como tema "O tamanho do Estado e os caminhos do desenvolvimento".

Também presente ao evento, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, relativizou as declarações de Agnelli: "Acho que há um certo exagero, ninguém acredita que Roger Agnelli está parando de fazer investimentos. Vocês viram as aquisições que a Vale está fazendo, o volume de investimentos que eles têm", afirmou, ressalvando que considera as palavras do presidente da Vale como um "alerta". Bernardo disse que as hidrelétricas atualmente em construção devem aumentar em 9 mil megawatts (MW) a oferta de energia no país, hoje na casa de 70 mil MW. A expectativa, de acordo com o ministro, é que elas sejam concluídas "em quatro ou cinco anos".

Segundo Agnelli, a empresa têm dado prioridade a projetos que precisam de menos energia, adiando os que necessitam de uma quantidade maior do insumo. Para implantar a operação de cobre de Salobo, por exemplo, a empresa adiou um pouco outros empreendimentos ligados ao mesmo produto, disse ele. Agnelli acrescentou que, na área de alumínio, nenhum investimento novo tem sido feito, porque não há energia disponível, apesar de a Vale ter uma "reserva gigantesca de bauxita" e dispor de capacidade para processar ou produzir alumina.

"A partir de 2012, 2013, nós não podemos implantar um novo projeto porque não há disponibilidade de energia. Essa é a realidade", disse Agnelli, mencionando ainda o custo elevado e crescente do insumo. "Nós estamos buscando energia fora do país para ver se consegue implantar alguns projetos fora daqui."

Agnelli criticou bastante a dificuldade em se obter licenças ambientais para projetos de geração de energia. Ele lembrou que nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva consegue licenças para o complexo hidrelétrico do rio Madeira, obra fundamental para aumentar a capacidade de oferta energética no país. A própria Vale é sócia de um empreendimento hidrelétrico - a usina de Estreito, no Maranhão - que está parado por conta de uma liminar da Justiça Federal.

Segundo ele, é necessário respeitar o meio ambiente, mas o país não pode se perder em "discussões etéreas", que terão como conseqüência a falta de energia no futuro. "A matriz energética do país tem que ser discutida de modo aberto, não se pode dizer simplesmente: 'Não, não tem licença porque estão pressionando, porque querem pressionar'. A questão é essa mesma, a gente vai ter que em algum momento atropelar ou então vai ficar sem energia".

Bernardo disse que a questão energética "é um problema potencial", o que significa que é necessário "resolver hoje a demanda de energia dos próximos oito a dez anos, porque de fato o crescimento tende a nos colocar em xeque nesse período, talvez até antes disso".

Segundo o ministro, a avaliação do governo é que, para o período até 2010, 2011, não deve haver problemas de fornecimento de energia. "Nós temos que construir hoje a energia extra que será consumida na seqüência, para garantir que o processo de crescimento seja sustentável além de 2011."

Bernardo lembrou ainda que, dos R$ 504 bilhões de investimentos previstos no PAC, R$ 274 bilhões são da área energética. Ele reconheceu que a questão do licenciamento ambiental no caso do complexo do Madeira é de fato um obstáculo a ser vencido, mas avaliou que as obras da área incluídas no PAC estão indo "muito bem".

Para Agnelli, o PAC deu um direcionamento positivo para os empresários. O problema seria é de implementação. "De intenção apenas não se vive."