Título: América do Sul e México investem no Brasil
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2007, Brasil, p. A6

O Brasil está se beneficiando do enriquecimento dos países da América do Sul e do México atraindo investimentos das empresas da região. Entre 2000 e 2006, o país recebeu US$ 4,9 bilhões dos parceiros do continente, com destaque para México, Argentina, Chile, Uruguai, conforme dados do Banco Central do Brasil elaborados pelo departamento econômico do Banco Itaú.

As empresas brasileiras também elevaram os investimentos na região, mas em um ritmo mais fraco. Em sete anos, o Brasil aplicou US$ 1,1 bilhão na América do Sul e no México. Para a Argentina, houve uma corrida de empresas brasileiras, cujos investimentos somaram US$ 1,8 bilhão de 2000 a 2006 - US$ 1,3 bilhão só no ano passado. Em contrapartida, o Brasil retirou US$ 1,1 bilhão do Uruguai no período. Também caíram os investimentos brasileiros no Equador e na Colômbia.

De acordo com Tomás Málaga, economista-chefe do banco Itaú, os países da América Latina estão sendo favorecidos pelo aumento do preço das commodities e pelas políticas macroeconômicas mais consistentes. Ele ressalta que o poder de compra dos países da região melhorou, dando mais vigor para suas empresas. Esses dados foram apresentados ontem, em São Paulo, durante seminário promovido pela Prospectiva Consultoria e pelo Centro Brasileira de Relações Internacionais (Cebri).

O México foi o país da região que mais elevou investimentos diretos no Brasil, saindo de US$ 131 milhões em 2000 para US$ 2,8 bilhões em 2006. A maior parte desse capital foi internalizada em 2005 e 2006, quando ingressaram, respectivamente, US$ 1,6 bilhão e US$ 781 milhões.

Boa parte desses investimentos é responsabilidade do magnata das telecomunicações no México, Carlos Slim. Por meio da Telmex, Slim adquiriu o controle da Embratel e, através da América Móvil, comprou vários operadoras de celular e as transformou na Claro. As empresas do mexicano também são donas de 49% do bloco de controle da operadora de TV a cabo NET.

Os argentinos aumentaram em US$ 538 milhões seus investimentos no Brasil em sete anos. O Uruguai apostou alto no território brasileiro, com um crescimento de US$ 1,1 bilhão nos investimentos. As empresas chilenas também aplicaram US$ 327 milhões no Brasil. O país se transformou em pólo de atração de investimentos diretos na região.

Mas a recíproca não é verdadeira. Embora as pequenas empresas brasileiras apostem nos países sul-americanos na hora de investir no exterior, por conta de acordos comerciais e proximidade cultural, as grandes companhias estão voando mais alto. Empresas brasileiras de grande porte optam por se instalar nos países desenvolvidos, para burlar barreiras protecionistas, ou nos países asiáticos, para aproveitar as vantagens competitivas, como baixo custo de mão-de-obra e alta escala de produção. E são essas companhias que fazem a diferença em termos de recursos.

É o caso da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e da Embraer, dois dos mais bem sucedidos casos de internacionalização do país. A mineradora brasileira conseguiu elevar seu valor de mercado de US$ 9,2 bilhões em 31 de dezembro de 2001 para US$ 100,1 bilhões na última sexta-feira, informa o diretor financeiro da empresa, Fábio Barbosa.

"Para a Vale, era fundamental diversificar seus produtos e a origem de seus recursos", diz o executivo. Com a compra da canadense Inco, a participação do minério de ferro na receita operacional da Vale caiu de 71% para 50%, enquanto o níquel conquistou uma fatia de 16%. A participação do Brasil nos ativos da empresa foi reduzida de 98% para 60%, abrindo espaço para a América do Norte, com 27%.

Barbosa lembra que a conquista do grau de investimento, que foi obtido pela Vale em julho de 2005, foi fundamental para levar em frente o processo de internacionalização. "Tínhamos que atacar o custo de capital pela percepção de risco da empresa. E isso significar diferenciar o risco da Vale do risco Brasil", conta.

A Embraer optou por aplicar seus recursos na Ásia e possui uma joint venture na China com a companhia chinesa Avic II. "Após cinco anos difíceis, esse investimento deslanchou", diz Henrique Costa Rzezinski, vice-presidente de relações externas da Embraer. Em dezembro de 2006, a Embraer entregou 100 aeronaves na China, 50 produzidas localmente e 50 no Brasil.

A Embraer agora está preocupada com o impacto dos arranjos internacionais em sua performance no exterior. "Não basta ser competitivo. A variação dos acordos internacionais podem destruir a competitividade", diz Rzezinski. Ele citou como exemplo os financiamentos mais vantajosos permitidos pelas regras da Organização para Desenvolvimento e Cooperação Econômica (OCDE). Fazem parte dessa organização os Estados Unidos, a União Européia e o Canadá, países de origem, respectivamente, de Boeing, Airbus e Bombardier.