Título: Blindagem de Renan depende de investigação
Autor: Costa, Raymundo e Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2007, Política, p. A11

A permanência ou afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado está na dependência de surgir algum fato novo, nos próximos dias, que comprove que houve quebra de decoro na relação do senador com empresários e lobistas de empreiteiras.

A tendência nos maiores partidos é tentar esvaziar a crise, a fim de evitar um desgaste maior da imagem do Senado, como ficou comprovado com as declarações dos líderes após uma reunião no gabinete de Renan. Mas, ao mesmo tempo, todos apoiaram a representação que o P-SOL protocolou ontem para que o Conselho de Ética investigue se houve quebra de decoro na relação de Renan com empreiteiras.

Renan foi acusado de pagar pensão alimentícia com recursos de uma empreiteira. Na segunda-feira, o presidente do Senado fez um discurso negando as acusações e foi contraditado, em parte, pelo advogado da jornalista com a qual manteve uma relação extra-conjugal.

"Para o PSDB é muito pouco para se pedir o afastamento da presidência do Senado", disse o tucano Arthur Virgílio (AM). "É a palavra do advogado [da jornalista] contra a do presidente do Congresso", completou. "Renan veio a público, apresentou sua história e os documentos que considerou necessários para prová-la. A acusação, até agora, não apresentou uma única prova ou testemunha", disse o senador Aloizio Mercadante (PT-SP). O líder do DEM, José Agripino (RN), também pediu "cautela" na avaliação do caso de Renan.

A operação mais explícita para "blindar" o senador Renan Calheiros está em curso patrocinada pelo PMDB. Hoje a bancada de senadores deve se reunir na casa dá líder do governo, Roseana Sarney (PR), para um encontro que em princípio tem por objetivo se transformar numa manifestação de solidariedade, se não aparecer nenhum fato. O advogado de Renan também deve apresentar as informações que têm sido reclamadas pelos senadores.

Até à tarde de ontem o partido também não abria mão de indicar o novo presidente do Conselho de Ética do Senado, que será instalado hoje. Mas à noite já admitia em ceder o posto para o senador petista Sibá Machado (AC). O humor dos pemedebistas em relação ao PT mudou depois de um jantar na casa do ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais), na véspera.

No jantar, além do anfitrião, estavam presentes Roseana, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR) e o próprio Renan. Outros integrantes do governo teriam passado pelo local. Os pemedebistas teriam deixado o jantar na casa de Walfrido menos irritados com o ministro da Justiça, Tarso Genro, ao qual atribuíam a exploração política das acusações contra Renan. No Senado, as declarações dos petistas tem sido na mesma linha adotada por PMDB, PSDB e PFL.

Por enquanto, o afastamento de Renan não interessa nem ao governo nem à oposição. O Palácio do Planalto teme por uma eventual desestabilização de sua base de sustentação política no Congresso - Renan é um de seus principais aliados na Casa. A oposição tem boas relações o senador alagoano, que cumpriu os compromissos que estabeleceu com ela para sua eleição.

A oposição também teme repetir o que ocorreu em 2005, quando, depois de ajudar a eleger ajudou a derrubar o então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, apostou e esteve perto de eleger o deputado pefelista José Thomaz Nonô (AL), mas acabou vendo um aliado fiel de Lula ficar com o cargo: o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Se não surgir o "fato novo", os líderes dos maiores partidos tendem a imobilizar o esforço desencadeado por P-SOL e outras legendas menores. O senador Jefferson Péres (PDT-AM), por exemplo, defende o afastamento de Renan da presidência do Senado durante a investigação, para "não constranger os colegas e não ser constrangido". Constrangimentos, aliás, a que o senador já vem sendo submetido, com intervenções de colegas, na sessão de ontem, para tratar do assunto. Mas Renan recusa a idéia de se afastar do cargo, alegando não haver "acusações" contra ele.

A representação contra Renan baseia-se, principalmente, em dois casos denunciados pela imprensa. Primeiro, a relação do pemedebista com o dono da Construtora Gautama, Zuleido Veras, apontado pela Polícia Federal como chefe do esquema de corrupção investigado na Operação Navalha. O segundo caso envolve a suspeita do pagamento da pensão alimentícia por uma empreiteira

A representação do P-SOL cita, ainda, matéria publicada ontem pela "Folha de S.Paulo", segundo a qual a PF identificou a voz de Renan numa conversa telefônica gravada durante a Operação Navalha. Na conversa, com Flávio Pin, superintendente da Caixa Econômica Federal, Renan diz ter conversado com a ministro Dilma Rousseff (Casa Civil) sobre liberação de recursos para Maceió. A ministra nega que tenha sofrido pressão de Renan.