Título: Espaço generoso no Executivo
Autor: Medeiros, Luísa ; Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 26/12/2010, Cidades, p. 25

NOVO GOVERNO PT e PMDB são bem acomodados no primeiro escalão da gestão de Agnelo. Situação deve ser ampliada na próxima semana, quando serão anunciados os futuros administradores regionais e os presidentes de empresas

Na reta final da transição, o governador eleito Agnelo Queiroz (PT) discute a distribuição de cargos de importância equiparada à do primeiro escalão, como as presidências de empresas e as administrações regionais, alvo de cobiça política pela relação direta com a comunidade. Na semana passada, ele conseguiu vencer resistências internas no próprio partido, que terá espaço generoso na estrutura administrativa. Também deixou o PMDB, partido do vice-governador eleito, Tadeu Filippelli, com força estratégica. As duas legendas comandam os cargos de maior visibilidade e vão compartilhar a nova gestão.

Bem aquinhoado no secretariado, o PMDB deve crescer ainda mais no governo. O partido de Filippelli deve indicar o presidente da Companhia de Saneamento do Distrito Federal (Caesb), do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF), da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF) e da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). Os secretários de Transporte, José Valter Vasquez, e de Obras, Luiz Carlos Pitiman, são pessoas da relação direta de Filippelli. A expectativa do vice-governador é indicar também pelo menos um diretor da Companhia Energética de Brasília (CEB). O presidente da empresa deve ser Rubem Fonseca, que exerceu o mesmo cargo no governo de Cristovam Buarque (1995-1998).

Essa escolha de Agnelo conta com o aplauso do deputado federal eleito Paulo Tadeu, futuro secretário de Governo, que é oriundo da carreira da estatal. ¿Na CEB, haverá uma verdadeira intervenção para reestruturar a empresa¿, antecipa Paulo Tadeu. O PT também ganhará mais espaço. Na semana passada, Agnelo conteve uma crise na Articulação, corrente com braço sindical do PT, que tem como porta-voz o deputado distrital eleito Chico Vigilante (PT). Ele entregou ao partido cargos importantes, como, por exemplo, a Secretaria de Governo e a Casa Civil, que será chefiada pelo ex-presidente da Fundação Banco do Brasil e ex-administrador de Samambaia, Jacques Pena, da Articulação.

Nessa negociação, Agnelo não abriu mão de escolher pessoas de sua confiança para as áreas que considera vitais, como a Secretaria de Saúde, sob o comando do médico nefrologista Rafael Barbosa, e de Educação, que será chefiada pela professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Regina Vinhaes Gracindo. A indicação dessa pasta era disputada pelo PDT e pelo PT. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) queria ver no comando do setor Rubem Fonseca, que foi secretário-executivo do Ministério da Educação na gestão do pedetista. Já a Articulação do PT gostaria de ter emplacado no posto Antônio Lisboa, diretor do Sindicato dos Professores (Sinpro).

Acomodação No PT, Agnelo ainda tem de contemplar um grupo que ficou fora do secretariado. Dois nomes devem ser absorvidos: o ex-presidente do PT-DF Vilmar Lacerda e o ex-deputado distrital Chico Floresta. Lacerda era nome certo na Secretaria Extraordinária de Relações Institucionais. Criada pelo governador à época José Roberto Arruda, em 2007, apenas para dar foro especial a Durval Barbosa, a pasta foi extinta, como suposto símbolo de renovação. Lacerda, então, ficou desabrigado na estrutura do secretariado. Deve assumir uma administração regional ou cargo em empresa. Floresta deve ser escolhido para algum cargo na área do Meio Ambiente, uma vez que a secretaria da área foi entregue por Agnelo ao presidente regional do PV, Eduardo Brandão, que apoiou o petista no segundo turno das eleições.

Durante a campanha, Agnelo prometeu não entregar as administrações regionais para que os deputados distritais as transformem em redutos eleitorais, mas ele dará aos parlamentares da Câmara Legislativa o poder de indicar aliados no comando das cidades. Cada distrital da base de apoio terá o direito de escolher uma área. As negociações estão adiantadas. Na bancada do PT-DF, todos terão uma área para trabalhar. Wasny de Roure ficará com Samambaia, Arlete Sampaio ¿ futura secretária de Desenvolvimento Social ¿ escolherá o administrador do Cruzeiro, Chico Leite já sugeriu o presidente da Associação dos Moradores de Águas Claras, José Júlio de Oliveira, para Águas Claras (veja quadro).

No segundo escalão, o PMDB também terá vez. Os distritais Benício Tavares e Rôney Nemer, do partido, deverão indicar, respectivamente, os administradores regionais de Riacho Fundo II e Recanto das Emas. O partido de Filippelli ainda deverá ter influência em Santa Maria, cidade criada pelo ex-governador Joaquim Roriz (PSC), onde o rorizismo é forte. O local foi um dos únicos onde a candidata Weslian Roriz (PSC) ficou na frente de Agnelo Queiroz no primeiro turno.

NOTA BAIXA » A atuação do governador do DF, Rogério Rosso (PMDB), eleito de forma indireta para cargo em abril deste ano, teve a pior avaliação na pesquisa Datafolha sobre o desempenho de chefes do Poder Executivo brasileiro. No ranking divulgado ontem, Rosso recebeu a menor nota entre os avaliados, com média de 4,9, em uma escala de zero a 10. Seu índice de aprovação também é baixo: apenas 29% dos entrevistados consideraram a gestão dele como boa ou ótima. O governador que obteve melhor desempenho no ranking nacional foi Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco, com média de 8,4 e aprovação de 80% dos eleitores. Ele é seguido de Cid Gomes (PSB), do Ceará, e Jaques Wagner (PT), chefe do Executivo na Bahia. A pesquisa foi realizada em oito estados e no DF. As entrevistas foram realizadas entre 17 e 19 de novembro, com 11.281 pessoas de 421 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Nomes cotados

Águas Claras » O administrador será uma indicação do deputado distrital Chico Leite (PT). O nome cotado é o presidente da Associação dos Moradores de Águas Claras, José Júlio de Oliveira.

Brasília » Deve ficar com o PCdoB. O nome forte para a pasta é o advogado Messias de Souza. Suplente de Agnelo Queiroz na chapa ao Senado em 2006, ele é uma das apostas do PCdoB para disputas eleitorais em 2014. Por isso, será designado a um cargo de visibilidade.

Ceilândia » A administração regional da cidade com maior colégio eleitoral do DF deve ficar com o PT. O nome ventilado na última semana é o do petista Aridelson Sebastião de Almeida.

Cruzeiro » Antigo reduto petista, o Cruzeiro deve ficar na cota do PT. A deputada distrital Arlete Sampaio, futura secretária de Desenvolvimento Social, deve sugerir um nome.

Gama » Base eleitoral do deputado Cabo Patrício (PT), que deve comandar a Câmara Legislativa, o Gama também é muito querido pelo governador eleito do DF Agnelo Queiroz que trabalhou no hospital regional da cidade. O administrador deve ser da cota pessoal do governador, morador e empresário do Gama.

Guará » A administração deve ficar na cota do deputado Alírio Neto (PPS), futuro secretário de Justiça e Cidadania, que tem base eleitoral na cidade. A indicação entrou na negociação pela eleição de Cabo Patrício, presidente da Câmara.

Park Way » É uma reivindicação do PPS que quer indicar para a cidade Antônio Girotto. Ele ocupou o cargo no governo de José Roberto Arruda.

Planaltina » A cidade será administrada por nome indicado pelo deputado distrital eleito Cláudio Abrantes (PPS), que tem base eleitoral na cidade.

Recanto das Emas » O novo administrador da cidade deve ser uma escolha do distrital reeleito Rôney Nemer (PMDB), que sempre fez política no Recanto das Emas.

Riacho Fundo I » O deputado Cristiano Araújo (PTB) deve sugerir o novo administrador. O cargo foi oferecido ao ex-deputado Peniel Pacheco (PDT), mas a princípio ele não aceitou.

Riacho Fundo II » O nome deve ser escolhido pelo deputado distrital Benício Tavares.

Samambaia » Deve ficar na cota do PT. A indicação deve ser do deputado distrital eleito Wasny de Roure (PT).

Santa Maria » A administração deve ficar na cota do PMDB. O nome deve ser escolhido pelo vice-governador Tadeu Filippelli.

São Sebastião » O PSB deve indicar o novo administrador. É interesse da legenda neutralizar o poder que o deputado Rogério Ulysses, expulso do partido depois de ter o nome citado na Operação Caixa de Pandora, tem na cidade.

Sobradinho » O administrador deve ser indicado pelo deputado federal eleito Paulo Tadeu (PT). O futuro secretário de Governo mora na cidade onde tem base eleitoral.

Sobradinho II » O novo administrador regional deve ser uma indicação do distrital eleito Dr. Michel (PSL).

Taguatinga » Um dos cargos mais importantes do segundo escalão. Deve ser um morador da cidade escolhido pelo próprio governador. O deputado distrital Benedito Domingos (PP) e o senador Gim Argello (PTB) querem indicar.

Vicente Pires » Pode entrar na cota do PTB. É uma das reivindicações do senador Gim Argello.