Título: Ferramentas para quem quer ganhar com ações em 2005
Autor: Mara Luquet
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2004, Eu &, p. D2

O mercado de ações está entre as principais recomendações dos analistas para 2005. Mas atenção, porque todos também dizem que, para ganhar dinheiro com ações no próximo ano, você terá que fazer o dever de casa. Ou seja, buscar informações e análises para montar uma carteira que contemple papéis com alto potencial de crescimento. Saber como calcular o preço ideal de uma ação é importante para garimpar os melhores investimentos e, principalmente, para não se aventurar em momentos de euforia ou nervosismo do mercado. Nesses momentos, o mercado joga para o alto ou para baixo o preço dos papéis sem qualquer racionalidade. Quem consegue manter a calma e faz contas nessas horas, em geral, consegue apurar um bom lucro. Isso porque, o investidor racional será capaz de vender quando todos estão comprando - e pagando muito pelos papéis - ou poderá comprar quando todos estão vendendo e as ações são cotadas a preço de banana. No mercado financeiro, a arte de avaliar um ativo é conhecida como "valuation". Por esse mecanismo os analistas e gestores tentam identificar se uma ação está cara ou barata. Não é uma tarefa simples e exige, além de muitos cálculos, alguma intuição também. "Apesar dos aspectos altamente técnicos, qualquer processo de precificação de ativos envolve também muita arte", diz Alexandre Póovoa, autor do livro "Valuation, como precificar ações", lançamento da Editora Globo dentro da série Livros de Valor. Assim, segundo Póvoa, alguns pontos intuitivos não devem ser desprezados, mas sim acrescidos sempre que o avaliador desejar. "O primeiro grande desafio é saber diferenciar os conceitos de preço e valor", diz Povoa. O preço, como diz o especialista em seu livro, pode ser fixo ou variar um pouco, de acordo com a concorrência. Normalmente é definido em função do público-alvo de determinado produto ou serviço. A idéia de valor, porém, é muito diversa e definitivamente depende da visão individual de cada consumidor. Portanto, diz Povoa, o valor justo de uma empresa para seus donos - os chamados acionistas - representa o que ela pode gerar de retorno no futuro expresso em valores de hoje. Ele enumera três pontos básicos para definir esse valor: projetar o fluxo de caixa para os próximos anos; fixar uma taxa de desconto que irá trazer a projeção de fluxo de caixa para valores atuais e, finalmente, trazer o fluxo de caixa a valor presente usando a taxa de desconto definida. A taxa de desconto deve ser cuidadosamente trabalhada para refletir adequadamente todos os riscos envolvidos. A percepção de risco é um ingrediente importante para definir a taxa de desconto, segundo os analistas. Dimensionar essa taxa é uma tarefa complexa e pode fazer toda a diferença entre ganhos generosos e oportunidades perdidas. A taxa de desconto utilizada pelo analistas é, em grande parte, responsável pela diferença de projeções de preço justo para uma ação em cada análise. Os indicadores de margens financeiras das empresas estão sempre no alvo dessas análises porque fazem o analista enxergar as vantagens e os problemas do negócio em que a empresa está envolvida. Esses indicadores são, basicamente, a margem bruta, a margem operacional e a margem líquida. A margem bruta é igual ao lucro bruto dividido pela receita líquida. Ela mostra o quanto o empresário conseguiu auferir na operação propriamente dita em relação ao faturamento. Esse indicador consegue medir a eficiência da empresa no processo de produção. A margem operacional é igual ao lucro operacional sobre a receita líquida. Ela mostra, depois das despesas operacionais, o quanto a empresa conseguiu de resultado em relação a sua receita. Por fim, a margem líquida é igual ao lucro líquido sobre a receita líquida. Esse é um indicador que mostra, depois do resultado financeiro e do pagamento do Imposto de Renda, o percentual final de tudo o que foi vendido que sobra para a empresa decidir entre o reinvestimento e a distribuição de dividendos. Mas esses são só alguns pontos para você começar a pensar em avaliar a empresas. É claro que este é um trabalho muito complexo, mas se você quer comprar ações diretamente vale a pena conhecê-los. Ainda que você não se sinta seguro para fazer suas próprias análises, ter uma intimidade maior com esse mercado vai ajudá-lo a compreender mais os relatório dos analistas e a fazer perguntas ao seu corretor ou consultor. Mas se você, definitivamente não quer saber desse assunto, mas ainda assim quer aproveitar as oportunidades de ganhos com ações, o caminho são os fundos ou clube de investimento. No entanto, nem assim você estará livre do dever de casa. Precisa buscar análises para escolher o tipo de fundo correto para você.