Título: Alianças são o segredo da Nippon Steel para avançar
Autor: Góes, Francisco e Rockmann, Roberto
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2007, Empresas, p. B8

A Nippon Steel, segunda maior siderúrgica do mundo, tem filosofia própria para crescer num setor em que, cada vez mais, grandes empresas se fundem ou tentam comprar os concorrentes. A estratégia de criação de valor do grupo japonês está focada em alianças com outros parceiros que tenham sinergia de negócios e não em fusões e aquisições, disse ontem o presidente da Nippon Steel, Akio Mimura.

O executivo definiu o modelo de associação da Nippon Steel como uma parceira suave, ou "soft alliance". Ele afirmou que, no Brasil, a empresa mantém um acordo deste tipo com a Usiminas, da qual é uma das principais acionistas com participação de 14%, direta e indiretamente, no capital votante da companhia.

Mimura participou, ontem, de painel sobre as tendências da siderurgia mundial no 20º Congresso Brasileiro de Siderurgia, em São Paulo. Segundo ele, a sociedade com a Usiminas, uma espécie de "casamento", é pioneira para a Nippon Steel. "É o primeiro caso e o mais bem-sucedido e está prestes de completar 50 anos", afirmou o executivo.

Mimura disse que, via Usiminas, a Nippon Steel participa de plano de investimentos de US$ 8,4 bilhões que inclui a construção de uma nova usina de produção de aço, no Brasil, por volta de 2010. Em 2007, a Nippon Steel deve produzir cerca de 36 milhões de toneladas de aço, incluindo suas participações em subsidiárias.

"Nossa meta é nos mantermos como um importante player da siderurgia mundial e buscamos alcançar essas metas em parcerias com empresas do setor que compartilhem a mesma visão e conceito", afirmou. Ele disse que 2007 está sendo um bom ano para a siderurgia mundial, e previu que a demanda por aço continuará forte. Mimura reconheceu ainda que o mercado de minério de ferro, um dos principais insumos do setor, está ajustado mas não quis fazer previsões sobre aumentos nos preços da matéria-prima em 2008. "Prefiro esperar até o fim deste ano, quando as decisões de mercado estarão mais claras".

Apesar de deixar claro que a estratégia da Nippon Steel não passa pela compra ou fusão com outras companhias, Mimura reconheceu que a consolidação da siderurgia ainda é pequena em comparação a outros setores de matérias-primas, como o minério de ferro. Ele previu que o processo deverá se aprofundar no futuro. "Deveremos ter novos movimentos nessa direção", reconheceu o presidente da Nippon Steel.

Ele identifica, porém, problemas a serem enfrentados para aprofundar a consolidação na siderurgia. Um deles é o aumento de preços dos ativos, já que as empresas passaram a ser vendidas em leilões. Também se percebe hoje, segundo ele, uma influência grande dos hedge funds nos processos de incorporação. O problema é que a lógica desses agentes, movidos pelo lucro rápido, é diferente da vista na indústria, que busca a sustentabilidade a longo prazo. Por fim, como os valores das ações são altos, os efeitos das sinergias são difíceis de serem contabilizados.

Mimura afirmou que, nos últimos anos, a siderurgia mundial vem vivendo um momento positivo, com aumento da demanda por aço desde 2002. O comportamento foi impulsionado pelo crescimento da demanda da China e pela elevação dos preços. A conjuntura levou a indústria de volta à lucratividade. E, neste cenário, se aprofundaram os movimentos de consolidação como o anunciado, em 2006, entre Arcelor e Mittal. As duas empresas criaram o maior produtor mundial de aço, presente nos quatro continentes.