Título: Crescimento acima da média global exige reformas, afirma Giannetti
Autor: Rockmann, Roberto
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2007, Empresas, p. B9

Houve uma expressiva melhora na economia brasileira nos últimos anos, mas o Brasil deve continuar crescendo abaixo da média da economia mundial nos próximos dois anos, situação semelhante à vivenciada atualmente. A opinião é do economista e professor do Ibmec-SP, Eduardo Giannetti da Fonseca. Nos últimos quatro anos, o país cresceu 3,4% na média anual, enquanto o mundo cresceu perto de 5%. O crescimento decepcionante deve se repetir, pelo menos, nos dois próximos anos.

Do lado externo, o país conseguiu melhorar bastante sua posição. Em 2002, a dívida externa atingia 45% do PIB. Hoje está abaixo dos 20%. As reservas do país superam US$ 100 bilhões, e as exportações são suficientes para saldar a dívida externa. "Isso faz com que nossa vulnerabilidade externa seja pequena, o que minimizaria os impactos de uma crise global em nossa economia", afirmou o economista, presente ao 20º Congresso Brasileiro de Siderurgia.

Do lado interno, fizeram-se muitos progressos. A inflação está em níveis baixos. Mas os problemas ainda são enormes. Para ele, o país terá dificuldades para crescer mais por conta do ambiente ruim de negócios e da carga tributária elevada, que faz com que a informalidade seja muito alta. "Não há indicações de que possamos crescer de forma sustentada acima da média global."

Perguntado sobre o impacto que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) poderia ter sobre a economia, Giannetti foi cético. "A contribuição será modesta." Com a revisão das contas do IBGE, a taxa de investimentos na economia brasileira está hoje em 17% do PIB, "uma das mais baixas do mundo.", afirma.

Na China, segundo dados de economistas, a taxa de investimentos chega a 35%. Na Índia, em 28%. Para ele, reformas estruturais da economia seriam necessárias para aumentar o ritmo de expansão no Brasil.

O professor do Instituto de Economia da Universidade Católica do Chile, Felipe Larrain, afirmou, durante o congresso, que os Estados Unidos hoje não são o principal motor do mundo, tendo perdido parte de sua força ao longo dos anos. Em 1990, o país respondia por 21% do PIB mundial, enquanto a China representava 5%, e a Índia, 4%. Quinze anos depois, a participação americana manteve-se praticamente inalterada, em 20%. Já a China passou a representar 14% e a Índia 6%. Ou seja, nesse período, China e Índia, somadas, alcançaram a fatia dos americanos.

Larrain prevê que a China cresça 10,8% em 2007 e 9,5% em 2008. Já a economia da Índia deve crescer entre 8% e 9% nos dois próximos anos. Mas há ameaças no horizonte. "Pode haver uma desaceleração no mercado acionário da China, que pode trazer problemas para a economia mundial", afirmou. Desde o início de 2006, houve uma alta de 260% no principal indicador de papéis cotados na Bolsa de Xangai.

Para Giannetti, o forte fluxo de investimentos na China pode resultar em ociosidade em alguns setores produtivos, o que poderia reduzir o crescimento do país no médio e longo prazos. Outra ameaça é o excesso de liquidez existente hoje no mercado internacional. Houve um aumento de US$ 3,9 trilhões de 2003 para 2006 em recursos financeiros interessados em maior rentabilidade. Desse total, metade veio da Ásia e 40% de países exportadores de petróleo.