Título: Aumento do salário mínimo dará fôlego ao varejo em 2005
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2004, Brasil, p. A4

A elevação do salário mínimo a partir do mês de maio somada à queda na taxa de juro pode promover o aumento do consumo em 2005, com destaque às vendas dos bens não duráveis. A avaliação é do chefe da divisão de economia da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Tadeu. "Se casar aumento do mínimo em maio com queda na taxa de juro, será excelente e refletirá no aumento de consumo dos não-duráveis, principalmente alimentos", salienta o economista.

Ele observa que as pessoas estão endividadas e que por isso não assumirão dívidas de longo prazo. Depois de crescer 8,5% este ano, os empresários do setor do comércio projetam um aumento real das vendas para 2005 em 3,5%. Carlos Tadeu destaca que a expectativa de elevação das vendas, no próximo ano, é bastante significativa porque parte de uma base de comparação elevada. "O resultado será em cima deste ano que tivemos um bom desempenho", destacou.

Para esta projeção, ele diz que a CNC trabalha para 2005 com um cenário que inclui previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,5%, queda do juro a partir de maio, dólar estável, indústria com crescimento de 4,5% e nenhuma surpresa com crises internacionais.

O economista do Dieese José Maurício Soares também acredita que o consumo de produtos alimentícios pode aumentar em razão do reajuste do mínimo. Na sua opinião como o aumento do salário alcançará em sua maioria aposentados, a compra de medicamentos também pode crescer. Soares ainda coloca na lista de prioridades dos brasileiros, o pagamento das contas atrasadas, entre elas despesas com aluguel. Apesar disso, ele não acredita que o aumento do mínimo provoque grandes mudanças na economia nacional.

Soares considera pequeno o reajuste divulgado pelo governo e lembra que o poder de compra do mínimo é baixo. "Não é de grandes mudanças. Este ano, o aumento também foi de R$ 40 e R$ 40 dentro de R$ 220 representa mais do que em R$ 300, apesar de que a inflação este ano está menor", salienta.

O economista do Dieese aponta como fatores positivos a entrada do reajuste do mínimo no orçamento de 2005, a ser votado ainda este ano, dispensando a necessidade de remanejamentos, e a criação do conselho que estabelecerá aumentos do mínimo à longo prazo. "Todos os presidentes terão que seguir essas regras que visam a recuperação do mínimo e diminuição das diferenças salariais, distribuição de renda. Terão que cumprir se virar lei", enfatiza.

O economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Cláudio Dedecca, compartilha da mesma opinião. Ele considera fundamental que se estabeleça uma política de recuperação do mínimo. Quando anunciou o reajuste do mínimo no último dia 15, o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, também informou que o governo criaria uma comissão para discutir uma política permanente para recuperação do valor do salário mínimo.

Para Dedecca, o reajuste do mínimo pode sim permitir um efeito de consumo "razoável" em 2005. O economista da Unicamp considera que o governo tomou a posição certa com o aumento para R$ 300 e com a decisão de aumentar os gastos públicos no próximo ano, porque, segundo ele, dá "sustentação de uma faixa de crescimento ao menos de 3,5% do PIB para 2005".