Título: Exportações vão crescer pouco em 2005, prevê AEB
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2004, Brasil, p. A6

A previsão sobre o comportamento da balança comercial brasileira em 2005 divulgada ontem pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) mostra que os exportadores estão pessimistas. De acordo com os números, as exportações do país somarão US$ 100,27 bilhões, crescendo apenas 5,3%, após terem aumentado mais de 30% neste ano. A defasagem cambial, os gargalos da infra-estrutura e a queda dos preços das commodities serão os fatores responsáveis pela desaceleração das vendas, especialmente o primeiro. O saldo da balança comercial cairia dos mais de US$ 33 bilhões deste ano para US$ 26,56 bilhões, já que as importações passariam de US$ 63,092 bilhão para US$ 73,71 bilhões (alta de 16,8%). Os números consideram um câmbio não inferior a R$ 3 por dólar. As previsões da AEB foram feitas antes de o governo divulgar os números da balança comercial da quarta semana deste mês, considerados excepcionalmente bons para o período. Com isso, números referentes a 2004, como as exportações de US$ 95,2 bilhões, ficaram prejudicados. "Queremos mostrar para o governo que há risco de desfazer em 2005 o que de ótimo foi feito em 2004", disse José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB. Segundo ele, os efeitos do real sobrevalorizado ainda não estão se fazendo sentir porque as exportações que estão sendo embarcadas agora são basicamente de produtos manufaturados e correspondem a contratos assinados há seis ou sete meses, quando o câmbio estava favorável. "A partir de março e abril é que vamos ter o baque da valorização do câmbio", afirmou Castro. Segundo ele, há exportadores torcendo para não receberem pedidos nos dias atuais para não terem que vender com perdas. "É um paradoxo, mas é a realidade", disse. A AEB prevê que em 2005 as exportações de manufaturados alcançarão US$ 57,14 bilhões, crescendo 10,4%, as de semimanufaturados aumentarão 4,9%, chegando a US$ 14,04 bilhões, e as de produtos básicos, influenciadas pelos preços agrícolas, cairão 3,4%, ficando em US$ 27,59 bilhões. Com o câmbio a R$ 2,70, a entidade calcula que as exportações de produtos manufaturados seriam 15% menores e que as importações totais seriam 5% maiores. Caso isso ocorresse, as exportações totais despencariam para US$ 91,7 bilhões e as importações subiriam para US$ 77,4 bilhões, fazendo com que o saldo da balança fosse de apenas US$ 14,3 bilhões. No plano externo, uma redução do crescimento da China para menos de 8% ao ano e o aumento dos juros americanos para mais de 3% ao ano seriam outros fatores que poderiam influenciar negativamente as exportações do Brasil. O economista Arílton Teixeira, do Ibmec, disse que é compreensível que os exportadores reclamem do câmbio, mas ressalvou que dados históricos demonstram que "a taxa de câmbio tem muito pouco efeito sobre as exportações". "No primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, o melhor ano das exportações foi 1997, quando o câmbio estava fixo há quase quatro anos. Elas somaram US$ 52,9 bilhões e só foram batidas em 2000 (US$ 55 bilhões)". O economista ponderou que para exportar a empresa precisa fazer uma série de investimentos, inclusive em infra-estrutura de apoio nos países importadores dos seus produtos. "As firmas não podem tomar decisões de exportar ou não porque o câmbio passou de R$ 3,00 para R$ 2,80", disse. Para Teixeira, o grande limitador das exportações do Brasil é a falta de infra-estrutura interna de transportes, fato que, segundo ele, não se resolverá no curto prazo porque o governo do PT, "com vergonha de privatizar", optou pelo caminho mais longo e caro, que foi o projeto das parcerias público-privadas (PPPs). Mesmo assim, ele acha razoável que as exportações cresçam cerca de 10% em 2005.