Título: Meta de 2009 é consenso, mas outras regras exigem cautela
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2007, Brasil, p. A6

Maior previsibilidade para a inflação e para a política monetária e mais credibilidade para o Banco Central. São esses os efeitos que a fixação de uma meta de inflação de 4% para 2009 trará para o país na avaliação de economistas ouvidos pelo Valor. Embora aplaudam a idéia, há divergências quanto à necessidade e aos benefícios que a fixação da meta de 2010 - possibilidade estudada pelo governo - já na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), no final de junho, traria ao país.

"Uma meta de 4% não seria tão ambiciosa, seria factível, já que hoje a inflação está rondando o patamar de 3,5% e as expectativas para o próximo ano não passam de 4%", avalia Ilan Goldfajn, sócio da Ciano Investimentos e ex-diretor de Política Econômica do Banco Central.

Outro ex-diretor do BC, mas dessa vez de Política Monetária, Luiz Fernando Figueiredo acredita que uma meta de 4% ajuda o governo a atingir seu objetivo maior: o de fazer a inflação convergir para um nível mais perto de 3% do que 4% ou 5%. O sócio da Mauá Investimentos diz que esse é um processo natural, mas de longo prazo. Questionado sobre se o centro da meta poderia ser ainda menor em 2009, ele é categórico. "Menos que isso, não. Temos que ir com muita calma. Não adianta apertar muito e depois ter de arcar com um custo enorme para atingi-la ou então não cumpri-la", argumenta.

Os economistas recomendam cautela porque inflação estabilizada, juros relativamente baixos (quando comparados ao padrão do país) e pouca volatilidade ainda são fatores com os quais o Brasil ainda está aprendendo a lidar.

E, além deles, existem outros desafios a serem encarados e vencidos. O professor da PUC-RJ, Luis Roberto Cunha, vê com bons olhos a meta de 4% para 2009, mas acredita que seria melhor deixar para o ano que vem a definição do alvo da inflação para 2010. "A minha preocupação é que o BC aperte demais a meta e o país não realize as transformações necessárias como as reformas tributária e trabalhista. Aí, qualquer mudança negativa no cenário internacional pode levar o BC a se antecipar e aumentar os juros", explica. A sugestão de Cunha é reduzir a banda de tolerância dos atuais 2% para 1,5%.

Sergio Werlang, diretor-executivo do Itaú, também tem sua sugestão: a de que o BC espere o próximo ano para definir a meta. No entanto, acredita que se a entidade optar por essa definição já agora, a fará em uma boa hora. "Houve uma diminuição muito grande na volatilidade e uma meta de 4%, mas tolerância de 2 pontos percentuais para baixo e para cima, é muito difícil de ser descumprida na conjuntura atual", analisa.

Mas, se o governo pensa em mexer nessa banda, Werlang, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central, avalia que é melhor mexer agora. Isso porque, para ele, "quanto mais se mudam as regras da política monetária, menos certeza se cria para a realização de projeções e mais intranqüilidade se leva ao mercado."

Figueiredo, por sua vez, acredita que o Brasil está pronto para saber neste ano qual o objetivo do BC para a inflação de 2010. "O país se beneficiou muito do crescimento mundial Nas contas externas, passou de uma alavancagem enorme para um papel de credor líquido, o que trará menos volatilidade ao câmbio e aos juros. E o próximo passo é o investment grade", diz.