Título: Oposição quer analisar documentos, base diz que explicação foi convincente
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2007, Política, p. A9

Para a maioria dos senadores que acompanharam a defesa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o assunto não pode ser dado como encerrado. Vencida a primeira fase, a das explicações, os senadores querem analisar os documentos apresentados para saber se ficaram brechas a serem investigadas no Conselho de Ética da Casa. "Eu esperava que ele fosse rápido e convincente. Rápido ele foi. Não tenho nenhuma razão para não abrir um crédito de confiança a Renan. Mas precisamos analisar os documentos", reconheceu o líder do Democratas, José Agripino Maia (RN).

Renan estava tenso e pediu apoio moral do seu partido. No

domingo pela manhã, telefonou para o presidente da legenda, Michel Temer (SP). Pediu que viesse a Brasília mais cedo, para acompanhar o pronunciamento. No início da tarde de ontem, por volta das 14h - duas horas antes do discurso em plenário - Renan ligou novamente para Temer, repetiu o

pedido para que o pemedebista estivesse em plenário. "Claro que estarei lá", disse Temer, que chegou por volta das 15h30 ao Senado, acompanhado do líder da bancada na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa.

Temer gostou do discurso do colega de legenda que ao longo dos últimos meses tentou impedi-lo de representar o PMDB na interlocução com o presidente Lula. "Foi convincente. O tom usado foi muito apropriado. As frases vinham acompanhadas de documentos que ele exibia", disse. Temer, no entanto, não se animou a prever um futuro melhor para Renan a partir do discurso de defesa. "Vamos esperar a repercussão. Depende de como as explicações serão recebidas."

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), seguiu a mesma linha. "Ele foi convincente e esclarecedor. Vamos analisar agora os documentos entregues por ele, que cumpriu seu dever de homem público", disse.

Tanto Alves quanto Temer concordaram que a Gautama tenha ficado fora das explicações do senador, um dos primeiros parlamentares do alto clero a serem envolvidos nas denúncias contra a empreiteira. "Não há uma denúncia direta sobre ele. A questão principal é a denúncia sobre a pensão à filha", disse o presidente pemedebista.

Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), Renan defendeu-se com documentos contra acusações feitas sem documentos. O presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), defendeu que o assunto prossiga no Conselho de Ética. "Quanto mais rápido o Conselho de Ética fizer isso, mais essa possibilidade (de saída de Renan da presidência) fica afastada". O PSOL avalia na tarde de hoje se representará ou não contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), junto ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado.

O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP) se disse, pessoalmente, convencido por Renan. Mas não descarta a possibilidade de uma convocação do jornalista Policarpo Júnior, autor da reportagem da "Veja", para que as versões sejam confrontadas. "Do meu ponto de vista, as explicações foram dadas. Mas se eu não comparar com os outros, como é que fica"? Ex- aliado de Renan quando era presidente da República, o senador Fernando Collor (PTB-AL) fez sinal de concordância quando Renan disse que "me atingir pessoalmente é o mesmo que atingir a instituição". Depois, ele foi ao gabinete prestar solidariedade.

Ao término do discurso, em

um gesto ensaiado, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) pediu para que a sessão fosse interrompida para que os presentes pudessem abraçar Renan. Uma fila se formou, mas um fato chamou a atenção: o afago mais frio veio justamente do irmão, o deputado federal Renildo Calheiros (PCdoB-AL). O deputado apertou a mão de Renan e não disse uma só palavra.

Ao participar de seminário promovido pelo PSDB em Brasília,

o governador de Alagoas, Teotonio Villela Filho, fez discurso emocionado em defesa de sua gestão, acusada de envolvimento com as

denúncias de malfeitorias da Gautama. O governador disse que afastou "imediatamente" os integrantes de seu governo acusados de corrupção e solicitou ao Ministério Público, à OAB, ao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura e ao Conselho de Contadores de seu estado para participar de auditoria nos contratos de Alagoas. "Os compromissos com a moralidade e a ética estão no meu DNA, na minha história e no amor a esse partido (PSDB)", disse Teotonio, evocando a figura do pai em defesa de sua honra. (PTL e TVJ)