Título: Renan exibe defesa com lacunas documentais
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2007, Política, p. A9

Ruy Baron/Valor Renan Calheiros: "Nunca misturei o público com o privado. Os recursos estão todos declarados no meu IR" Diante de um plenário silencioso e atento, repleto de senadores, deputados, familiares e o presidente do seu partido, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez um discurso, ontem, em que apresentou documentos para tentar provar que pagava com recursos próprios a pensão alimentícia e moradia de uma filha, fruto de uma relação extraconjugal com a jornalista Mônica Veloso. Em reportagem, esta semana, a revista Veja informou que um lobista da Mendes Junior entregava o dinheiro mensalmente à jornalista. O discurso durou quase uma hora. Renan negou que os benefícios tenham sido pagos pela construtora Mendes Júnior, por intermédio do lobista Cláudio Gontijo, como informou a revista. "Estou aqui para provar, demonstrar, exibir e reiterar de que se trata de uma questão pessoal. Os valores despendidos são meus. Repito: meus."

O presidente do Senado levou cópias de dois cheques, depositados na conta 103921-9, do Unibanco, cuja titular é Mônica Veloso. Teriam sido utilizados para pagar a pensão alimentícia de R$ 3 mil nos meses de dezembro e janeiro de 2006 (após o reconhecimento da paternidade). E outros cheques apontando que, a partir desta data, os recursos passaram a ser deduzidos diretamente de seu salário. Mas não comprovou o aluguel de uma casa onde Mônica morou entre os dias 15 de março de 2004 e 14 de março de 2005, nem tampouco o aluguel de um apartamento para ela entre março e novembro de 2005, ambos citados em seu pronunciamento.

A defesa feita pelo próprio Renan também tem outras duas lacunas. A primeira é a ausência de explicação sobre a origem de R$ 8 mil mensais admitidos por ele como pagos à jornalista antes do reconhecimento da paternidade. A segunda é um fundo de R$ 100 mil, que abriu em favor da filha, para "garantir as despesas futuras com educação e desenvolvimento cultural da criança".

Questionado sobre a omissão de documentos, a assessoria afirmou que o pemedebista "dará outras explicações posteriores se estas se fizerem necessárias".

Renan rebateu as insinuações de ligação com a empreiteira. "Nunca misturei o público com o privado, como tentaram insinuar. Os recursos estão todos devidamente declarados no meu imposto de renda, bem como a própria pensão alimentícia".

Um Renan constrangido, com voz baixa, reiterou algumas vezes aos presentes que não fugiu às suas responsabilidades como pai, tentando levar a defesa para o lado pessoal e da invasão de privacidade. "Meu comportamento se baseou em dois pontos: assumir a paternidade e não me esquivar de meus deveres; e dar assistência à gestante em suas necessidades."

Renan admitiu ser amigo de Cláudio Gontijo, "há mais de 20 anos, quando nem sequer cogitava trabalhar na empresa (Mendes Júnior)". Reconheceu que, em virtude da estreita relação pessoal, Gontijo e seus advogados estavam a par de suas "agruras". Disse ainda que, como Gontijo conhecia Mônica, acabou ficando responsável pela interlocução entre as partes, mas assegurou que essa tarefa não tem nada a ver com o fato de Gontijo trabalhar na Mendes Júnior. "Não tenho relação com a construtora Mendes Júnior e essa ilação feita não indica nenhuma conduta minha que implicasse em benefício, apoio ou qualquer outra forma de favorecimento", frisou. O presidente do Senado disse que a vida pública transformou-se "num alvo permanente de suposições, mentiras, difamações, calúnias, propagadas sem que as pessoas tenham meios de defender-se".

O presidente do Senado respondeu também a uma denúncia, publicada no jornal O Globo, de que teria fazendas em nomes de laranjas. Renan atribuiu as acusações à ação de adversários políticos, em Alagoas e em Brasília. Apresentou sua declaração de IR de 2004, de que consta a fazenda mencionada, Novo Largo. Sobre suas relações com a construtora Gautama para conseguir recursos para Alagoas, o pemedebista foi evasivo. "Trabalhar para obter investimentos públicos ou privados para o desenvolvimento econômico e social é dever intransferível de todo o parlamentar".