Título: Bird prevê fluxo maior para emergentes
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2007, Finanças, p. C8

Os investidores estrangeiros continuarão apostando alto em mercados emergentes como o Brasil nos próximos anos e vão reservar uma parcela cada vez maior do seu dinheiro para financiar a expansão de empresas com sede nos países em desenvolvimento, de acordo com um relatório do Banco Mundial (Bird) que será divulgado hoje.

O fluxo de capital externo para os países emergentes alcançou US$ 571 bilhões no ano passado e foi 19% maior que o observado no ano anterior, segundo a instituição. Três quartos dos recursos foram destinados a investimentos diretos nas empresas ou em ações nas bolsas de valores dos países beneficiados.

O banco acredita que o apetite dos investidores continuará aguçado nos próximos anos, graças à fartura de recursos disponíveis nos mercados financeiros internacionais e ao bom momento vivido pela economia mundial, que atravessa o quinto ano do mais duradouro ciclo de expansão da história recente.

No cenário mais pessimista projetado pelo relatório do Bird, em que a recente freada da locomotiva americana teria consequências mais sérias para a economia mundial do que as previstas pelos analistas hoje em dia, o fluxo de capitais para os países em desenvolvimento cairia em 2009 para US$ 557 bilhões, ficando 2% abaixo do nível registrado no ano passado.

Embora o cenário pareça pouco provável, o Bird recomenda cautela. "À medida que o crescimento global recua para taxas mais sustentáveis, aumenta a possibilidade de uma virada no ciclo de crédito", afirma o relatório. "O desafio para os países em desenvolvimento é manejar a transição tomando medidas preventivas para diminuir o risco de uma reversão inesperada e aguda dos fluxos de capital."

O aumento da participação das empresas nos fluxos de capital externo é um fenômeno recente. Até dois anos atrás, o grosso do dinheiro ficava com os governos dos países emergentes. Mas nos últimos tempos eles acumularam reservas, pagaram boa parte de suas dívidas e passaram a recorrer aos mercados domésticos para se financiar.

As empresas dos países em desenvolvimento estão fazendo o contrário dos governos, como demonstra o relatório. Com o vento a favor, elas estão aproveitando a disponibilidade crescente de capital externo para diversificar suas fontes de financiamento e alavancar a expansão global dos seus negócios.

O volume de recursos externos captados por empresas privadas e estatais de países em desenvolvimento atingiu no ano passado US$ 400 bilhões, o triplo do que elas conseguiram há apenas três anos. As empresas ficaram com mais da metade do dinheiro obtido com bônus emitidos por países emergentes no mercado internacional em 2006.

O Bird nota que algumas transações recentes, como o empréstimo de US$ 17,6 bilhões que a Companhia Vale do Rio Doce tomou de um consórcio de bancos para comprar a mineradora canadense Inco, romperam os padrões usuais para negócios desse tipo com países emergentes.

Segundo o Bird, essa transformação está mudando também o foco dos investidores nos países em desenvolvimento.

Acostumados a monitorar a maneira como os governos conduzem suas políticas econômicas, eles agora tendem a se preocupar bem mais com a gestão das empresas e o desenho de mecanismos regulatórios e normas contábeis.

O relatório do Bird mostra também que os benefícios do capital estrangeiro têm sido distribuídos de maneira desigual. Quase metade dos fluxos de capital verificados no ano passado tiveram como destino um grupo de países que inclui a Rússia, as antigas repúblicas soviéticas e nações que recentemente se incorporaram à União Européia.

A participação da América Latina e do Caribe, que no início da década atraíam metade dos recursos captados no exterior, é muito menor hoje em dia. O encerramento do processo de privatização das estatais da região é parte da explicação. Outro fator é a busca dos investidores por rendimentos cada vez maiores.

Na avaliação do Bird, isso tem levado a apostas arriscadas demais em alguns lugares. O relatório manifesta preocupação especial com o que está ocorrendo no Leste Europeu, onde bancos pouco experientes captaram bilhões de dólares no mercado internacional e têm usado o dinheiro para expandir o crédito ao consumo no mercado local.