Título: Dança das cadeiras no BC
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 25/12/2010, Economia, p. 9

CONJUNTURA Pelo menos cinco das oito diretorias deverão ter novos titulares a partir de 2011. O futuro presidente do Banco Central tem até fevereiro para indicar os escolhidos, que serão sabatinados no Senado

Num governo que começa com a marca da continuidade, o Banco Central deverá fugir do padrão e promover uma dança das cadeiras, processo que será conduzido sem pressa pelo futuro presidente da instituição, Alexandre Tombini, que tomará posse em 3 de janeiro próximo. Pelo menos cinco das oito diretorias ¿ incluindo a que vem sendo ocupada por Tombini, a de Normas ¿ terão novos titulares.

A economista Zeina Latif está confirmada para a diretoria de Estudos Especiais, hoje vaga. Anthero Meirelles, atual diretor de Administração, deve ser transferido para a área de Fiscalização, já que Alvir Hoffmann se aposentará. O posto de Anthero está sendo pleiteado pelo Sindicato Nacional dos Servidores do BC (Sinal), que já teria indicado um de seu ex-presidentes, Davi Falcão, lotado na delegacia de Recife.

Outro que deverá deixar o BC a partir de 2011 é Gustavo Matos do Vale, o decano entre os diretores da instituição ¿ ele responde pela área de Liquidações e de Controle de Crédito Rural desde maio de 2003. Há muito é esperada a saída de Vale, que só permaneceu no cargo neste ano por causa de um pedido enfático do atual presidente do BC, Henrique Meirelles.

Para a diretoria de Normas, um dos cotados é o atual chefe do departamento, diretamente subordinado a Tombini, Sérgio Odilon dos Anjos. Mas nenhum convite formal ainda foi feito a ele. São dadas como certas as permanências de Carlos Hamilton Araújo na diretoria de Política Econômica, de Luiz Awazu Pereira na diretoria de Assuntos Internacionais e de Aldo Luiz Mendes na diretoria de Política Monetária. Há quem aposte, porém, no deslocamento de Mendes para a presidência do Banco do Brasil, de onde é oriundo.

A configuração do Banco Central do governo de Dilma Rousseff só será definida, contudo, em fevereiro do ano que vem, quando o Senado reabrirá as portas para sabatinar os escolhidos por Tombini.

Quem fica

Carlos Hamilton Araújo

Diretor de Política Econômica. É responsável pela elaboração dos cenários usados pelo Comitê de Política Monetária para definir os rumos da taxa básica de juros. É funcionário de carreira do BC e tem ótima relação com Tombini.

Luiz Awazu Pereira

Diretor de Assuntos Internacionais. Lidera um estudo para modernizar a legislação cambial brasileira. Com passagens por organismos estrangeiros, transita muito bem no Ministério da Fazenda.

Aldo Luiz Mendes

Diretor de Política Monetária. É funcionário de carreira do Banco do Brasil, com boas relações no mercado. Aparece na lista dos candidatos à presidência do BB. Mas só deixará o cargo atual por vontade própria.

Quem sai

Alvir Hoffmann

Diretor de Fiscalização. Também funcionário de carreira do BC, deve pedir aposentadoria no início de 2011, conforme relato de amigos. Ficou com a imagem arranhada depois da descoberta do rombo no Banco PanAmericano.

Gustavo do Vale

Diretor de Liquidações e de Crédito Rural. Está prestes a se aposentar. Por vontade pessoal, já teria saído do BC no início deste ano. Mas atendeu ao apelo de Henrique Meirelles para continuar na função, que ocupa desde 2003.

Quem entra

Zeina Latif

Responderá pela diretoria de Estudos Especiais. Hoje, é economista-sênior para a América Latina do Royal Bank of Scotland. Terá a missão de subsidiar o comando do BC de informações sobre a economia.

Quem muda de cargo

Anthero Meirelles

Diretor de Administração. Deve ser transferido para a área de Fiscalização, troca que já teria sido acertada. Sua vaga está sendo pleiteada pelo Sindicato Nacional dos Funcionários do BC para Davi Falcão.

Tombini, o comandante Não será fácil a vida do futuro presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Com a inflação distante do centro da meta definida pelo governo, de 4,5%, ele terá de votar pela alta da taxa básica de juros (Selic) logo na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sob o seu comando, em janeiro. Os sinais do aperto já foram dados pelo BC. A expectativa é de que a elevação seja de 0,5 ponto percentual, com a Selic passando dos atuais 10,75% para 11,25% ao ano. Tombini deve anunciar os nomes dos escolhidos para a diretoria do BC logo depois de sua posse, em 3 de janeiro. Pelo desenho feito dentro da própria instituição, o perfil dos comandados por ele não será muito diferente do atual. Mas a sintonia com o Ministério da Fazenda vai ser total, como já indicou a presidente eleita, Dilma Rousseff.