Título: Tecnologia faz toda a diferença na hora de vender
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2007, Caderno Especial, p. F4

Os arranjos produtivos locais que conseguem melhores resultados com exportação são aqueles que colocaram em seus produtos tecnologia, precisão e superaram os padrões de qualidade exigidos internacionalmente. "O produto é tão diferenciado que os clientes estão dispostos a pagar um pouco mais por ele", diz o coordenador do escritório de projetos da Agência de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex), Rodrigo Souza, destacando o trabalho desenvolvido, por exemplo, pelo consórcio High Technology Aeronautics (HTA), de São José dos Campos, no interior de São Paulo, formado por ex-funcionários da Embraer.

Fundado em 2002, o consórcio, especializado em peças aeronáuticas, é composto por 11 empresas das quais fazem parte profissionais com mais de 20 anos de experiência em diferentes áreas de atuação na Embraer. No início, o HTA vendia para a própria Embraer que, por ser uma empresa global, exigia controles máximos de precisão, qualidade e durabilidade das peças. Ao conseguir atender a um cliente tão exigente como esse, as empresas adquiriram especialização para participar de programas aeronáuticos com suas tecnologias, que abrangem desde a engenharia e projetos até a fabricação e montagem, aplicadas em aeronaves a hélice, a jato e até em aeronaves militares.

Atualmente fornecem peças para turbinas à Pratt & Whitney Canadá e peças estruturais para aeronaves da EADS/CASA (Espanha). Esses itens atendem inicialmente a um programa de off-set de fornecimento para o governo brasileiro. "Logo que começamos, o mercado aeronáutico mundial passou por uma crise muito grande provocada pelos atentados de 11 de setembro de 2001 e só voltou a se recuperar em 2004. Agora o momento está muito bom, principalmente pela concorrência acirrada entre Airbus e Boeing. A demanda está grande e este é o nosso momento de crescer", afirma o gerente de produto, Lúcio Simão dos Santos.

Segundo ele, apenas o câmbio pode comprometer essa expectativa de crescimento, porque apesar da tecnologia e da qualidade, o produto brasileiro começa a ter problemas de competitividade com a Índia e em algumas cotações perde até para empresas da Europa e dos Estados Unidos. "Já calculamos perdas nos contratos que temos fechados até o momento, mas preferimos encarar isso como um investimento para negócios futuros. Precisamos que a política cambial seja revista com urgência para que não percamos a janela de oportunidade desse setor, que estará aberta até 2011. Se deixarmos essa chance passar, vamos demorar no mínimo cinco anos para nos recuperarmos."

Para Ricardo Migliano, da Cardios, fabricante de equipamentos de eletrocardiologia, além do dólar baixo, o que mais pesa para o pequeno exportador brasileiro é o chamado custo Brasil. "As empresas até têm mecanismos para se defender do dólar, mas a estrutura fiscal, trabalhista e tributária do país tem problemas crônicos contra os quais é muito mais difícil lutar. Nossa estrutura governamental é muito pesada, muito burocrática. Para se obterem licenças e certificações há uma quantidade grande de papéis redundantes e demorados", reclama.

A alta tecnologia também é o diferencial que destaca o segmento de produtos médicos, odontológicos e hospitalares brasileiro no mercado internacional. A Cardios, por exemplo, foi a primeira empresa brasileira na área de equipamentos médicos a receber o prêmio do IF-Fórum Internacional de Design, da Alemanha, com o Cardioslight, um gravador digital de holter. O prêmio - concedido em 2006 - é o quarto obtido apenas por esse equipamento.

Com 30 anos de mercado, a Cardios começou fazendo exames de eletrocardiografia dinâmica para os quais utilizava aparelhos importados. "Com o tempo passamos a representar empresas americanas no Brasil e depois desenvolvemos tecnologia própria que até hoje é única no país. No exterior, concorremos com gigantes como Philips e General Electric", comenta.

Além dos equipamentos, a empresa desenvolve também os softwares e se diferencia por modernizar e sofisticar os delicados sistemas de análises cardíacas. "Nossa desafio constante é o de aumentar a eficiência para ter produtos com cada vez mais qualidade e custo mais enxuto."