Título: Produtores de mel do Piauí vão ter centro tecnológico
Autor: Saraiva, Jacílio
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2007, Caderno Especial, p. F6

Os apicultores do Arranjo Produtivo (APL), de Picos (PI), a 310 quilômetros de Teresina, vão ganhar em junho um centro tecnológico apícola e uma agroindústria para processar e embalar o mel da região. O complexo, avaliado em R$ 4 milhões, terá capacidade de entregar, até 2008, mais 1,8 mil toneladas de mel por ano.

O APL de Picos faz parte do projeto de Apicultura Integrada e Sustentável (Apis) do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que estimula a produção de mel em 400 municípios do país. O arranjo piauiense cobre cerca de 2,5 mil apicultores e 13 cooperativas de empresas como a Central de Cooperativas Apícolas do Semi-Árido (Casa Apis), que vai sediar a nova fábrica, considerada a maior agroindústria de mel da América Latina.

"O município pode se tornar o maior pólo produtor de mel do país", diz Francisco Holanda, gerente da carteira de projetos de apicultura do Sebrae-Piauí. Somente a Casa Apis abriga 1,6 mil empreendedores e dez cooperativas de empresas. Com a unidade industrial, a cooperativa deve fermentar a conta bancária dos apicultores: vai deletar os intermediários do processo de venda e trazer técnicas mais modernas de manejo da produção.

A Casa Apis é o primeiro empreendimento do Promel, um programa criado para fomentar a apicultura no Nordeste, com o apoio do Sebrae, Fundação Banco do Brasil, da agência holandesa ICCO, em parceria com o governo do Estado do Piauí e das prefeituras dos municípios da região.

Com a nova planta, a central de cooperativas ganha capacidade de processar, até 2008, 1,8 mil toneladas de mel por ano. Cerca de 80 mil colméias serão cuidadas por mil famílias de apicultores, segundo dados da Casa Apis e da Federação das Entidades Apícolas do Piauí.

Além da Casa Apis, há mais três frentes de apicultura no Estado, apoiadas pelo Sebrae: a Serra da Capivara, a Litoral Piauiense e a Apis Araripe, a única dentro do APL de Picos.

Na Serra da Capivara, empresários de quatro cidades querem aumentar a produção de mel em 25% até dezembro. Na Litoral, os apicultores são organizados em cooperativas de 11 municípios. "A meta é elevar em 50% a venda do produto, até 2008", diz Holanda.

Já na Apis Araripe, 12 municípios planejam exportar 30% do mel processado nos próximos sete meses. "O Piauí possui uma grande diversidade de floradas nativas, livres de agrotóxicos". Na verdade, somente a região de Picos é responsável por 60% da produção de mel do Estado.

Em 2005, o município entregou 447 toneladas do produto e foi eleito o segundo maior produtor de mel do Brasil. Mas por que a cultura do mel floresceu no Nordeste? Segundo estudos do Sebrae, a atividade apresenta menor dependência do clima e os pequenos e médios empreendedores procuram alternativas para diversificar a produção rural.

Os agricultores que antes preparavam a terra para o cultivo do feijão, do milho e algodão, por exemplo, passaram a apostar na apicultura - privilegiada pela facilidade das rotinas de trabalho e completamente adaptada às condições adversas da região.

Em 2005, o Nordeste produziu 10 mil toneladas de mel, ocupando o segundo lugar no cenário nacional. No mesmo ano, a produção piauiense chegou a 4,9 mil toneladas, e conseguiu a segunda posição brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O primeiro produtor é o Rio Grande do Sul, com 7,4 mil toneladas/ano.

Segundo o Sebrae, o Piauí exporta mel desde 2002, para países como Alemanha, Estados Unidos e Itália. No ano seguinte, o volume de vendas externas alcançava 3 mil toneladas. Hoje, a cidade de Picos se transformou num pólo apicultor. Reúne quatro cooperativas apícolas, quatro entrepostos de mel e cera de abelha, uma loja especializada em derivados do produto e uma fábrica de máquinas e equipamentos apícolas, com clientes em todo o Brasil.

Outra novidade nas ruas da cidade é um laboratório móvel, montado numa van, que visita as colméias da região para fazer a análise do mel colhido. O veículo pode se transformar em uma sala de treinamento, ao ar livre, para os apicultores. A iniciativa, resultado de um investimento de R$ 220 mil da Fundação Banco do Brasil, atende mil apicultores das microrregiões de Picos, São Raimundo Nonato e Piripiri, no Piauí.

Na busca de novos mercados para o mel, o Sebrae também organizou um seminário para 80 apicultores de Picos que trabalham para receber a certificação orgânica dos produtos. O objetivo é sensibilizar os empresário quanto às exigências das normas européias e americanas para a padronização orgânica do mel.