Título: PSDB busca programa e regra para disputa eleitoral
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 28/05/2007, Política, p. A10

Dividido e sem propostas segundo o entendimento dos próprios tucanos, o PSDB começa a partir desta segunda-feira em Brasília o seu processo de refundação, com a realização de cinco seminários. O partido quer chegar à eleição de sua nova executiva nacional em novembro com programa e bandeiras partidárias novas. Para a abertura, o partido reunirá em Brasília seus cinco governadores.

Apoiados em pesquisas quantitativas e qualitativas coordenadas pelo cientista político Antonio Lavareda, o partido quer que o eleitor o associe a temas caros para a classe média, como o combate à criminalidade e a defesa do meio ambiente, dois assuntos que os tucanos acreditam estar relegados a um segundo plano no discursos partidários.

"O PSDB está desconcertado, sem referências para a atuação política. O partido vai crescer quando fixar uma pauta", afirmou o deputado José Aníbal (SP), um dos coordenadores gerais dos encontros. A estratégia, segundo o senador Sérgio Guerra (PE), coordenador do partido para as eleições de 2008, será consolidar o partido nos setores que se distanciaram do PT nos últimos dois anos. "São os setores que difusamente são reunidos sob o rótulo de classe média ", disse o parlamentar.

A ponte para a classe média é lançada sem ilusões. Tanto Aníbal quanto Guerra reconhecem que é falsa a idéia de que os setores médios formam opinião e influenciam as classes mais pobres. Apostam que segurança e meio-ambiente são dois temas que unem diversos setores sociais e que podem servir, de maneira indireta, para dar uma roupagem popular ao partido.

"É o que nos resta. O movimento social não dá para disputar, está todo cooptado pelo governo, com exceção da Igreja Católica. O nosso auditório é a classe média e a interlocução com o povo só pode ser pela TV, no momento da campanha", comentou o deputado Arnaldo Madeira (SP).

A disputa pela candidatura presidencial em 2010 entre os governadores de Minas Gerais, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra, começará a ser definida depois da eleição municipal do próximo ano. Tal como ocorreu em 2002, os primeiros movimentos são combinados entre os dois presidenciáveis e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Está acertado que o critério básico para se escolher o candidato será o da competitividade: quem apresentar mais chances de se ganhar será o escolhido. Há uma convicção dentro do PSDB de que, no momento, Serra estaria à frente de Aécio Neves em pesquisas. Mas para o governador mineiro, o critério é conveniente, porque retiraria a possibilidade de uma imposição da cúpula.

Cotado para ser o próximo presidente do PSDB, Sérgio Guerra enxerga com maior preocupação a eleição de 2010 que a de 2008. "Temos que resolver o problema de construir a unidade. A solução para isto apenas começou a ser traçada" disse. "Toda nossa movimentação não altera os cálculos eleitorais para 2008, mas influi em 2010", comentou o presidente do Instituto Teotônio Vilela, deputado Sebastião Madeira (MA).

A preocupação em se manter a tensão interna sob controle foi tão grande que a organização dos seminários foi montada com comandos duplos, para que nenhuma das duas alas se apropriasse da discussão interna.

A coordenação geral é dividida entre a senadora serrista Marisa Serrano (MS) e o deputado federal José Aníbal (SP), que está distante do governador. Na articulação com vistas à eleição de 2008, a divisão é entre o senador Sérgio Guerra (PE) e o deputado Ronaldo Cezar Coelho (RJ). Na análise de pesquisas estão o deputado Gustavo Fruet (PR) e o ex-deputado Márcio Fortes (RJ). Os escolhidos negam a intenção de se manter o equilíbrio. " O que prevaleceu foi o critério regional, e não de equilíbrio entre os presidenciáveis", afirmou a senadora Marisa Serrano (MS).

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deverá abrir a programação do partido, com a palestra que encerra o evento de hoje em Brasília. Antes, sua mulher, a antropóloga Ruth Cardoso, rememorará a experiência do "Comunidade Solidária", programa idealizado por ela, que reuniu políticas de assistência social no governo do marido. Além de dar a palavra inicial no ciclo de encontros tucanos, FHC deve também dar a palavra final, no Congresso partidário em setembro. Em 11 de junho, acontecerá no Rio o seminário sobre meio-ambiente. Em 25 de junho, em Porto Alegre, ocorrerá a discussão sobre segurança pública.

A redação do novo programa partidária virá logo em seguida. "O programa partidário do PSDB já foi executado ao longo dos últimos anos, já está vencido. Sequer mencionávamos no texto de 1988 a violência urbana", disse o ex-secretário geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas Pereira.

A reunião de toda a cúpula do PSDB hoje em Brasília poderá levar o partido a se pronunciar oficialmente sobre um de seus governadores, Teotônio Vilela (AL), que está no rol de suspeitos da Polícia Federal por suposto favorecimento à construtora Gautama.