Título: China já abocanha 40% da produção global
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 28/05/2007, Caderno Especial, p. F2

A China já produz ao ritmo de 480 milhões de toneladas de aço por ano, com base nos números de abril divulgados semana passada pelo Instituto Internacional de Ferro e Aço (IISI). Já se aproxima dos 40% de participação no montante global previsto para o setor em 2007, além de 1,3 bilhão de toneladas. Isso leva o governo chinês a adotar medidas de controle da oferta, inclusive com ações de estímulo a aquisições de usinas por grupos de maior porte e a fusões entre outras.

Embalada pelo crescimento econômico de dois dígitos do país e por expressivas exportações de produtos siderúrgicos - 14 milhões de toneladas de janeiro a março -, a indústria do aço chinesa tirou das suas dezenas de altos-fornos e fornos elétricos em operação 40,3 milhões de toneladas em abril. Jogou no mercado um volume bem acima do que faz o Brasil durante um ano inteiro.

O agigantado volume de aço chinês em um único mês representa um salto de 16% comparado há um ano. Entretanto, já aponta uma certa estabilização nos últimos meses. Em março, a produção foi de 40,15 milhões de toneladas, volume pouco acima do alcançado no mês anterior e em janeiro.

Uma surpresa que desponta mês após mês no mapa da siderurgia mundial é a Índia. O país de origem dos bilionários Lakshmi Mittal e Ratan Tata, que tanto barulho têm feito no setor, caminha a passos largos para situar-se entre os primeiros do mundo na produção de aço - China, Japão, EUA e Rússia são os quatro maiores. Já disputa com Coréia e Alemanha a quinta posição. Poucos anos atrás, estava num posto inferior ao do Brasil, que ficou em décimo lugar no ano passado.

A Índia tem uma política de governo definida para o setor, com objetivos traçados para o longo prazo, e dispõe de vastas reservas de minério de ferro com alto teor, semelhantes às do Brasil. A meta é alcançar 150 milhões de toneladas de produção por volta de 2015-2020, o triplo do que deve produzir neste ano. De janeiro a abril, a siderurgia indiana atingiu 15,5 milhões de toneladas. A sul-coreana alcançou 16,8 milhões e a alemã 16,4 milhões de toneladas.

A Índia tem na carteira inúmeros projetos de usinas, tocados por grupos locais, como o Tata, e estrangeiros. Entre estes, sobressaem a Arcelor Mittal, baseada em Luxemburgo, e coreana Posco.

Até o conservador Japão tem crescido a níveis de 4%, aproximando-se de 10 milhões de toneladas mensais. A Coréia cresceu 10,9% e a Índia 5,7%. Na Europa Ocidental, Alemanha, França, Reino Unido e Espanha vão de quedas de quase 3% a aumentos de quase 4%. No Leste europeu, Rússia e Ucrânia mantêm ritmo firme na ampliação da oferta.

Quem surpreende mesmo no velho continente é a Turquia, com taxa de desempenho na casa de 8%, com projeção de alcançar produção de 25 milhões de toneladas neste ano. Com isso, o país caminha para arrebatar o posto de décimo lugar que pertence à Itália neste ano, uma vez que o Brasil deve recuperar a nona posição ao atingir 34 milhões de toneladas.

Líder na América Latina, a siderurgia brasileira cresceu 12% em abril sobre o mesmo mês de 2006. A base de comparação, entretanto, é prejudicada pelo acidente sofrido no passado pela Companhia Siderúrgica Nacional - CSN - em seu principal alto-forno. Novas capacidades estão entrando em operação neste trimestre na CST Arcelor Mittal e no segundo semestre na Gerdau Açominas.

Globalmente, o setor caminha para mais um recorde de produção, exibindo taxas consistentes de crescimento a cada ano na faixa de 6%. Mantido o desempenho dos primeiros quatro meses de 2007 - 428 milhões de toneladas - e o nível de 110 milhões de abril, as siderúrgicas em operação no mundo vão alcançar 1,31 bilhão de toneladas - 70 milhões a mais que no ano passado.

Assim, se verá mais um ano de regozijo nas companhias de minério de ferro e carvão, como Vale do Rio Doce, Rio Tinto, BHP Billiton, Xstrata e Anglo American. Os dois itens, que alcançaram aumentos de preços nunca vistos até 2003, são primordiais para a produção de dois terços do volume de aço no mundo.