Título: Após expansão, Arcelor já se prepara para um novo salto
Autor: Cherem, Carlos Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 28/05/2007, Caderno Especial, p. F6

Logo após um período de expansão, a Arcelor Brasil, resultado da fusão de CST, Belgo e Vega do Sul, prepara-se para dar início a novos empreendimentos, que têm como objetivo ampliar sua capacidade de produção. O presidente da Arcelor Brasil e diretor de relações com investidores, José Armando de Figueiredo Campos, apresentará, "breve, breve", em suas palavras, dois projetos ao Conselho de Administração. Um deles prevê o aumento da capacidade de produção de aços laminados a quente da CST e o outro tem como meta dobrar a fabricação de aços galvanizados da Vega do Sul. Juntos, os projetos representam investimento de US$ 200 milhões.

Na CST, devem ser investidos US$ 80 milhões. Esse valor será aplicado na ampliação, de 2,7 milhões para 4 milhões de toneladas, da capacidade anual de produção de aços laminados a quente. Além dos números, a importância do investimento está no fato de tratar-se de um produto de maior valor agregado, utilizado como matéria-prima nas indústrias de autopeças, naval e de tubos, entre outras. Os outros US$ 120 milhões vão para a Vega do Sul, na qual a previsão é de aumento da produção de aços galvanizados, de 900 mil para 1,8 milhão de toneladas, anualmente.

A Arcelor Brasil concluiu uma fase de aumento da capacidade produtiva, com investimentos de US$ 1 bilhão. De acordo com José Armando, a expansão teve ênfase em três focos: ampliação da capacidade de produção da CST, de 5 milhões para 7,5 milhões de toneladas por ano; construção de dois altos fornos na usina de Juiz de Fora e aumento da produção da Acindar, na Argentina, de 1,4 milhão para 1,7 milhão de toneladas anuais. Só na Argentina, foram investidos US$ 100 milhões.

José Armando fala com otimismo do momento vivido pela Arcelor Brasil. "A empresa tem as mesmas condições competitivas das outras companhias instaladas no país. Entretanto, possui vantagens, pelo fato de possuir grande escala de produção, uma excelente capacidade de gestão, tecnologia de ponta e parques industriais modernos, além de posição de vanguarda na questão ambiental", afirma o presidente da Arcelor.

No primeiro trimestre deste ano, o grupo registrou lucro líquido de R$ 560 milhões. Em relação ao mesmo período do ano passado, o resultado é 74% superior. A receita líquida consolidada cresceu 7%, dos primeiros três meses de 2006 para o primeiro trimestre de 2007, e atingiu R$ 3,5 bilhões. O Ebitda chegou a R$ 1,2 bilhão, um crescimento de 21% entre os dois períodos comparados.

Com relação à valorização do real nos últimos meses, José Armando explica que se trata de um fator que não interfere muito nos resultados da empresa, já que parte substancial dos custos é também, a exemplo da receita das exportações, em dólar. "Temos de racionalizar e ser competitivos. Somos craques em fazer ajustes e manter a competitividade em ambientes externos desfavoráveis", afirma.

O resultado do primeiro trimestre deste ano mostrou, também, aumento de 51% para 58% de participação do mercado interno nas vendas do grupo, em comparação com o mesmo período de 2006. O resultado é conseqüência de uma melhora na demanda de setores produtivos. José Armando comemora o resultado. "Nossa prioridade sempre foi o mercado interno. Nosso interesse sempre foi o de fortalecer uma base de indústrias que utilizam o aço. Os preços líquidos no mercado interno são melhores e as projeções das vendas de indústrias que utilizam o aço apontam para um aquecimento ainda maior do mercado brasileiro", diz.

Para o presidente da Arcelor, o maior acesso da população ao crédito está levando à ampliação do consumo de bens que têm o aço como matéria-prima. "Somos produtores do início de um mercado que está bastante ativo. O consumo lá na ponta está rebatendo bem em toda a cadeia produtiva", afirma.

A empresa também busca expandir sua participação no mercado regional latino-americano, sem desprezar outros mercados mundiais. "Com a fusão que deu origem à Arcelor Brasil, o mundo tornou-se ainda menor. Acessamos todos os mercados, em todas as regiões do mundo. Isso reforçou o papel que já tínhamos no Brasil. Foi um facilitador para o negócio globalizado".

Na Belgo-Arcelor Brasil, o período de expansão da capacidade produtiva do grupo resulta na implantação de dois novos altos-fornos a carvão vegetal. Eles vão funcionar na usina de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Os dois, juntos, podem produzir 360 mil toneladas anuais de ferro gusa, o que aumenta em pouco mais de 10% a capacidade produtiva da Belgo. Atualmente, ela é de 3,5 milhões de toneladas. O investimento nesses equipamentos é de US$ 54 milhões. O principal objetivo da instalação dos novos altos-fornos é reduzir a dependência da usina do gusa comprado de terceiros.

Para o biênio 2007/2008, a Belgo-Arcelor Brasil vai investir US$ 127 milhões na área de siderurgia, o que resultará na recapacitação da aciaria da usina de João Monlevade, na instalação de um sistema de despoeiramento secundário na sinterização, na mesma usina, e na implantação de um sistema de injeção de finos de carvão nos altos-fornos, em Juiz de Fora. Está previsto, ainda, o investimento de US$ 52,8 milhões na CAF Santa Bárbara, empresa de reflorestamento da Belgo-Arcelor Brasil. Os recursos serão utilizados na instalação de novos fornos de produção de carvão vegetal e no plantio de 5,2 mil hectares de novas florestas.

A CAF é responsável, atualmente, por 100 mil hectares de florestas de eucaliptos e 40 mil hectares de florestas de reserva legal e preservação permanente.