Título: Usiminas trabalha para manter liderança doméstica
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 28/05/2007, Caderno Especial, p. F7

O grupo Usiminas, formado por duas grandes usinas de aço - uma em Minas (Ipatinga) e outra em São Paulo (Cubatão) - definiu neste ano seu plano estratégico de longo prazo, até 2015, que visa consolidar sua liderança do mercado interno, com 45% a 50% de participação nas vendas totais de aços planos aos consumidores locais e foco em produtos de alto valor agregado. Hoje, esse percentual é de 52%, mas a avaliação é de que a concorrência, que se tornou pesada, principalmente com a presença da gigante Arcelor Mittal, dona de CST e Vega do Sul, também vai se mexer.

O plano de investimentos de US$ 8,4 bilhões, anunciado este ano, inclui uma nova usina, a ser definida por volta de 2010 e ainda sem local certo - poderá ser em Cubatão e poderá também ter um sócio. A produção dessa usina, de 3 milhões de toneladas anuais de placas (aço semi-acabado), buscará acabamento em unidade própria de laminação ou em aliança com parceiro já instalado no exterior, para suprir a demanda de clientes locais (americanos ou europeus) com laminados a frio e galvanizados.

Rinaldo Campos Soares, presidente do grupo, que fatura R$ 13 bilhões, explica que a estratégia é realizar os projetos em etapas. A análise de mercado, envolvendo os investimentos para atender à demanda brasileira, considerou projeção de crescimento médio do consumo de 5,1% ao ano até o final da próxima década, com diferenciações por linha de produto. A percepção é que haverá cada vez mais consumo de produtos de maior valor agregado, nos quais a empresa reforça sua estratégia. Nesse cenário, optou-se por dar prioridade às linhas de chapas grossas, voltada para os segmentos industriais, cuja expectativa de crescimento baseia-se no aumento dos investimentos do país em infra-estrutura; laminados a quente, com a entrada de produtos de última geração; e galvanização, para abastecimento dos principais setores consumidores, como automotivo, construção civil e linha branca.

Para isso, até 2010/11, haverá a expansão de 2,2 milhões toneladas anuais de aço líquido na usina de Ipatinga e aumento das laminações, divididas entre Ipatinga e Cubatão. Essa fase, diz Soares, já está acelerada, inclusive com o lançamento de cartas-convite aos fornecedores de alguns dos equipamentos previstos.

A usina de Ipatinga vai ganhar uma nova configuração. Com capacidade total de 7 milhões de toneladas de aço bruto por ano, vai adicionar 500 mil toneladas de chapas grossas em seu mix de produtos (hoje de 1 milhão), 600 mil de laminados a quente (hoje 3,6 milhões) e 320 mil de chapas galvanizadas pelo sistema de imersão a quente para o setor automotivo (atualmente são 460 mil). A usina produz ainda 360 mil por processo de eletrogalvanização.

A expectativa é ter as licenças ambientais para o projeto até meados do primeiro trimestre de 2008 para a instalação de um novo alto-forno, de 3,5 milhões de toneladas/ano, que substituirá os dois mais antigos dos três existentes; uma nova aciaria, de 4,5 milhões a 4,8 milhões de toneladas, com dois convertedores de 320 toneladas cada (de última geração tecnológica); nova coqueria, de 1 milhão de toneladas e novo equipamento para preparar o minério de ferro fino que vai ao alto-forno, levando à desativação de uma unidade antiga. E novos equipamentos nas linhas de chapas grossas, laminação de tiras a quente e linha na galvanização.

Segundo Soares, para consolidar a liderança no mercado interno e elevar presença internacional, será necessário não só aumentar capacidade, mas, principalmente, agregar valor. E isso passa por melhoria contínua da qualidade dos produtos e desenvolvimento de aços mais nobres.

Com isto, a Usiminas espera manter-se bem posicionada em todas as linhas de produtos para ganhar mais fatia no mercado interno e assegurar sua meta de exportar 20% da produção. Olhando as potencialidades de cada uma das usinas, Ipatinga ficará cada vez mais especializada nesse tipo de produto.

Por outro lado, ao dispor de produção excedente de semi-acabados em Ipatinga - cerca de 1 milhão de toneladas de placas - a Usiminas eliminará essa oferta em Cubatão, na usina da Cosipa, que ganhará um novo equipamento para fazer chapas a quente. Com isso, vai transformar em produto acabado volume similar de placas (semi-acabado de menor valor) que são hoje exportadas.

Com crescimento orgânico, o grupo Usiminas planeja chegar a 2011 com capacidade de 12 milhões de toneladas. Caso se confirme a nova usina, em Cubatão ou em outro local do país, esse volume sobe para 15 milhões de toneladas, por volta de 2014. Mas, nesse período, a companhia poderá fazer movimentos mais ousados de crescimento, adquirindo um ou mais ativos fora do país. A situação financeira é confortável - seu endividamento, que assustava qualquer um em 2002, hoje é zero. "Vamos analisar todas as oportunidades que surgirem", afirmou Soares. Um exemplo é a usina Sparrows Point, da Mittal, nos EUA.