Título: Analistas dizem que ações ainda têm espaço para subir
Autor: Aguilar, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 28/05/2007, Caderno Especial, p. F10

Mesmo com a alta valorização do setor de siderurgia na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) neste ano, os analistas continuam recomendando a compra das ações das grandes siderúrgicas nacionais. Há espaço para mais ganhos, segundo os profissionais. A performance das ações do setor, em alguns casos, chega a triplicar o desempenho do índice mais popular da bolsa, o Ibovespa, que subiu 16,50% de janeiro a 23 de maio.

No mesmo período, a ação ordinária da CSN (CSN ON) obteve 57,10% de alta. Em prazo semelhante, o papel preferencial, série A, da Usiminas (Usiminas PNA) bateu 33,43% de valorização. Ótimo desempenho também é verificado na ação preferencial da maior produtora de aços longos das Américas, a Gerdau PN, que subiu 24,12% neste ano, até 23 de maio.

A analista do setor de siderurgia da Agora Corretora, Cristiane Viana, explica que apenas parte do aumento do aço no mercado internacional está refletido nas atuais cotações. "Há espaço para maior valorização do setor a partir da divulgação dos resultados do segundo e do terceiro trimestre", diz. Os próximos números sobre o desempenho das companhias podem surpreender.

Em 30 de dezembro de 2006, a placa de aço exportada pela América Latina aos outros países custava US$ 430,00 por tonelada. No dia 8 de maio, o preço correspondia a US$ 530,00 por tonelada. Portanto, neste ano, até maio, o aço registrou aumento de preço de 23% no mercado internacional. A demanda por aço na China e nos Estados Unidos e em países com forte característica exportadora, como Rússia e Ucrânia, tem contribuído para a evolução do preço no mundo, explica Cristiane.

As projeções ainda são otimistas, neste segundo semestre, em relação à demanda crescente por aço na indústria automobilística nacional, no setor de construção civil e na fabricação de tubos de grandes diâmetros usados, principalmente, em oleodutos. "As vendas internas apresentam maior valor agregado às companhias do setor", diz a analista da corretora Agora.

Em relação ao cenário externo, qualquer acontecimento poderá influenciar o preço das companhias locais, tidas como as mais rentáveis do mundo. Nas empresas internacionais, o movimento é de consolidação do setor.

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) tem planos de chegar a 2010 três vezes maior do que é hoje sem perder as margens de ganho que a caracterizam como uma forte geradora de caixa no mundo. Cristiane explica que a CSN, por ser uma empresa autosuficiente, é visada como ativo estratégico no processo de consolidação atual. A independência da CSN se deve ao fato dela atender às próprias necessidades. A companhia integra a mina Casa de Pedra, siderurgia e logística (porto e ferrovia).

Controlada pela CSN, Usiminas, Gerdau e MBR (controlada da Vale do Rio Doce), a MRS Logística - concessionária da ferrovia de 1,7 mil km em Minas, Rio e São Paulo -, também é eficiente e lucrativa. A ferrovia tem cerca de 80% de sua carga concentrada no transporte de minério de ferro, aço e carvão.

O relatório da corretora Socopa destaca o otimismo em relação ao desempenho futuro da CSN. Segundo o analista Daniel Doll Lemos, a combinação de incremento na demanda, elevação de preços e possível oferta pública de ações da Casa de Pedra deverão influenciar positivamente os papéis ao longo dos próximos meses. O preço alvo projetado para a ação CSN ON até o final deste ano pela Socopa é de R$ 122,00. Em 23 de maio, o papel estava cotado em R$ 98,29.

Outra empresa com forte potencial de consolidação no setor é a Gerdau, que apresenta ativos na América do Sul, América do Norte e Europa. São 32 usinas distribuídas pela Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, México, Peru, Uruguai.

"A Gerdau vai crescer ainda mais com eventuais aquisições na Europa e na Ásia. A empresa já divulgou a intenção de parcerias na Rússia e na China", explica o analista da corretora ABN AMRO Real, Pedro Galdi. Segundo ele, ação Gerdau PN tem potencial para chegar ao preço de R$ 51,82. No dia 23 de maio, o preço de fechamento da ação em bolsa foi R$ 42,60.

Atualmente, a Gerdau - fabricante de vergalhões, arames, perfis, blocos, placas e tarugos -, é líder no mercado no Brasil em aços longos, ocupando o segundo lugar, no mesmo tipo de produto, nos Estados Unidos. O relatório divulgado pelo analista da Geração Futuro, Luiz Alberto Binz, informa que as operações no Brasil representaram 55,7% da geração de caixa e 65,2% do lucro líquido consolidado em 2006.

A boa notícia para os acionistas da empresa é que o crescimento da construção civil no mercado interno seguirá impulsionando a demanda por aços longos. Também os investimentos públicos em infra-estrutura e em indústrias continuam fortes nos Estados Unidos.

O cenário também sopra a favor das ações dos fabricantes de peças para veículos, como a Usiminas, com presença superior a 60% na produção de planos para o setor automotivo - que continua batendo recordes. Dados da Anfavea projetam aumento de 14,5% nas vendas internas de veículos neste ano em relação ao anterior.

A Usiminas ainda é fornecedora dominante para indústria naval e tem participação destacada na venda de chapas grossas para a indústria de gasodutos, que demanda tubos de grandes diâmetros, explica Binz.