Título: EUA reduzem exigência em corte de tarifa agrícola
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Fonte: Valor Econômico, 25/05/2007, Brasil, p. A4

Os Estados Unidos diminuíram sua demanda sobre a redução das tarifas agrícolas mais elevadas, na Rodada Doha, e que atingem os principais produtos exportados pelo Brasil, como carnes bovina e de frango e açúcar. Na proposta original, Washington queria corte de 85% nas tarifas mais altas, mas agora aceita redução de 75%, que é justamente a proposta do G-20, o grupo liderado pelo Brasil.

Mas os europeus resistem e só admitem redução de 60% nas tarifas que hoje são acima de 90%. A margem de manobra de Bruxelas na atual conjuntura é ainda mais estreita, porque o novo presidente francês, Nicolas Sarkozy, que busca grande maioria na eleição legislativa do mês que vem, adota um tom francamente contra concessões.

O novo presidente disse que não vai aceitar amplo acordo agrícola só para obter em retorno acesso para os fornecedores europeus de serviços. Pode ser apenas discurso de campanha eleitoral. Negociadores admitem que mesmo o corte proposto pelo G-20, como intermediação entre a ambição americana e a timidez européia, ainda é difícil de ser aceita por Bruxelas.

Ocorre que também uma redução de 60% não será aplicada integralmente, porque produtos como carnes vão ser designados como "sensíveis" pela UE. Isso significa redução tarifária menor e manutenção da proteção do agricultor local.

O agronegócio brasileiro indica que só pode aceitar acordo com corte de no mínimo 65%, porque do contrário não haverá acesso efetivo para as exportações. Além disso, os PEP, como são chamados os produtos agrícolas processados, do maior interesse do Brasil e Argentina, além de frutas, verduras, lácteos, estarão sujeitos a cortes tarifários ainda menores - isso, evidentemente, se houver acordo na OMC.

É nesse cenário que as articulações se aceleram em Genebra. A pressão aumenta sobre a Índia, visto como um obstáculo maior dentro do G-4. Certos negociadores acreditam que o Brasil e a UE deixaram de "bater" nos EUA, porque sabem que Washington pode limitar a US$ 15 bilhões seus subsídios agrícolas que mais distorcem o comércio, dependendo da compensação.

Só que os indianos querem sempre mais. Já chegaram a dizer que só haveria acordo se os EUA limitassem os subsídios a US$ 9 bilhões. Ontem, um representante da China falou em reunião agrícola que os americanos teriam de baixar o volume para US$ 10 bilhões. Ao mesmo tempo, a Índia e a China resistem a abrir seus mercados agrícolas. Os indianos, com 1,1 bilhão de habitantes, importam menos que o Brasil.

Os principais países se reuniram ontem com o mediador agrícola, Crawford Falconer, para debater a questão dos subsídios domésticos. O novo negociador agrícola dos EUA, Joseph Glauber, mostrou "engajamento". Para certos negociadores, foi uma das melhores reuniões das últimas semanas. (AM)