Título: Senadores recriminam métodos
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2007, Política, p. A6

A oposição partiu ontem para uma ofensiva contra a Polícia Federal, denunciando falta de isenção nas investigações, ilegalidade nas ações e interesses políticos por trás dos vazamentos parciais de nomes e informações. Os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder do seu partido no Senado, e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que se opõe ao governo Lula, alertaram da tribuna para o risco de implantação de um "Estado policial" no país, com a supressão das garantias individuais.

"A PF tem usado e abusado de métodos adotados em regimes fascistas, em regimes de força, de exceção, de ditadura. Não podemos ficar calados diante disso, porque daqui a pouco teremos censura à imprensa, fechamento de Congresso, desmoralização das instituições, humilhação à Ordem dos Advogados, perseguição à Igreja, fechamento de sindicatos, enfim, a supressão de todas as garantias individuais", disse Jarbas.

Virgílio levou à tribuna suposta cópia do inquérito da Operação Navalha, que teria sido entregue anonimamente em sua casa. Criticou o vazamento de um inquérito que corre em segredo de justiça e mostrou ausência de páginas e tarjas negras cobrindo vários nomes. Para ele, a intenção é proteger pessoas por razões políticas. "Não aceito uma polícia política, que separa ladrões amigos de ladrões inimigos, e cobre, com tarjas pretas, o nome dos ladrões amigos e procura expor o nome dos ladrões inimigos", afirmou o líder.

Os senadores se solidarizaram com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, pelo que consideram tentativa de intimidá-lo: o vazamento de um nome parecido - de alguém supostamente envolvido no esquema de corrupção - sem identificação. "Quem vazou o nome do senhor Gilmar Mendes insinuando que era o ministro sabia muito bem o que estava fazendo. A idéia era intimidar um ministro da Suprema Corte brasileira. É algo que pode significar um projeto de autoritarismo em marcha", disse Virgílio.

Jarbas lembrou um discurso feito por ele anteriormente, condenando a nomeação de Tarso Genro, ex-presidente do PT, para o Ministério da Justiça. Na ocasião, alertou que qualquer operação da PF envolvendo partido político ficaria sob suspeita com um ex-dirigente partidário no comando. Para ele, as ações da PF confirmam a preocupação. Como "excessos" e "abusos", citou prisões com algemas feitas na madrugada, ações espetaculosas acompanhadas por equipes de televisão e vazamentos "a conta-gotas", de acordo com o interesse da PF.

O líder do Democratas, José Agripino (RN), manifestou preocupação com a prisão de pessoas por mera suposição de culpa. "A prisão temporária nas mãos de governo que usa os instrumentos de polícia com truculência é algo extremamente perigoso e antidemocrático", disse. A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), negou uso político da PF pelo seu partido. Lembrou que também houve vazamento de suposto envolvimento de governadores e parlamentares petistas. Ela telefonou para o diretor da PF, Paulo Lacerda, e informou que a retirada de nomes e partes do inquérito é comum, quando as pessoas estão sendo objeto de outras investigações. Teria sido determinação da ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que comanda as investigações da Operação Navalha.