Título: Meirelles nega sobrevalorização do real e diz que não há meta de câmbio
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2007, Finanças, p. C2

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sustentou ontem em audiência pública na Câmara dos Deputados que a taxa de câmbio não está sobrevalorizada. E rechaçou a hipótese de intervir para conter o fortalecimento do real. "O Brasil não tem meta de taxa de câmbio", disse. "O Brasil já teve no passado e foi obrigado a abandoná-la."

Nas duas vezes por ano em que vai ao Congresso para prestar contas, atendendo à Lei de Responsabilidade Fiscal, Meirelles normalmente é cobrado pela política de juros. Dessa vez o tema central foi o câmbio, que na semana passada caiu abaixo de de R$ 2, até então entendido por parte do mercado financeiro como piso da cotação.

Meirelles demonstrou conforto com o nível de câmbio e disse que as intervenções do BC visam apenas a acumular reservas, sem influenciar o valor da moeda. Ele apresentou várias vezes um gráfico com a taxa de câmbio real, comparando a cotação da moeda nacional não apenas ao dólar, mas a uma cesta com 15 moedas de países com que o Brasil mantém relação comercial mais intensa. Segundo esse critério, houve um período de valorização do real entre 1994 e 1998. A situação se inverteu de 2002 a meados de 2006, quando a moeda ficou subvalorizada. Agora, o câmbio está na média histórica.

O presidente do BC argumentou que é errado comparar o real apenas com o dólar. Os Estados Unidos, disse, respondem por apenas 17% do comércio brasileiro (a zona do euro, por 22%). O dólar está sofrendo desvalorização não apenas em relação ao real, mas a moedas de praticamente todos os países do mundo, devido a fragilidades de sua economia, como os altos déficits comercial e em conta corrente.

Segundo ele, para impedir a desvalorização do dólar, seria necessário resolver as fragilidades da economia americana. "Não vamos conseguir resolver aqui os problemas dos Estados Unidos", ironizou. "Se conseguirmos resolver os problemas do Brasil, já está muito bom."

Meirelles sustentou que a valorização recente do real é provocada pele fortalecimento da economia, e não pelos altos juros vigentes dentro do país, que, na visão de alguns críticos do BC, estariam atraindo capitais especulativos.

Ele apresentou gráficos que mostram que a taxa de câmbio está fortemente correlacionada ao risco Brasil e ao preço das "commodities". Os fluxos comerciais de câmbio, sustentou, aumentaram em US$ 16 bilhões nos 12 meses encerrados em abril sobre o mesmo período até abril de 2006. No período, os fluxos financeiros cresceram apenas US$ 2,8 bilhões.

O presidente do BC também relativizou os impactos da valorização cambial sobre a economia, apresentando números que mostram o aumento das quantidades exportadas de produtos manufaturados. "O noticiário tem dito que o Brasil só aumenta a exportação de primários, e os manufaturados perdem espaço", afirmou. "Isso não é verdade."

Meirelles reconheceu que a valorização da taxa de câmbio atinge alguns setores da economia - e disse que essa é uma preocupação do governo, que toma medidas para aliviar os impactos negativos. Mas descartou a ação do BC para depreciar o câmbio porque isso significaria dar menos atenção ao combate da inflação. "Precisamos ter juízo, mantendo a inflação na meta, como todos os países fazem", pregou. "A maioria da população está sendo beneficiada por uma política bem-sucedida."

Deputados cobraram uma redução mais rápida dos juros para conter a valorização do real. "Enquanto estivermos aqui, vamos cumprir a nossa obrigação. Outras pessoas podem fazer diferente", disse Meirelles, argumentando que cortes apressados nos juros podem levar à aceleração da inflação. "A ansiedade pode nos levar a cometer erros que já foram pagos pela população no passado."

Meirelles sustentou que a política monetária prudente está levando à queda do risco inflacionário, abrindo espaço para juros mais baixos no futuro. "O juro real está caindo consistentemente", disse. "Não há dúvida de que foi muito alto no passado e que continua alto, mas está caindo."