Título: Diferença de preços do petróleo nas bolsas é recorde
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2007, Empresas, p. B6

Nunca na história do petróleo o produto negociado na Bolsa Mercantil de Nova York, conhecido como WTI, e o vendido na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres, chamado de Brent, alcançou tamanha diferença de preços. Ontem, a distância entre os dois chegou ao patamar recorde de US$ 6,54, a favor do Brent.

Analistas ouvidos pelo Valor e mesmo consultores internacionais não têm uma única explicação. Para eles, a combinação entre o nível de estoques nos Estados Unidos e os conflitos em grandes países produtores de petróleo alimentam a diferença.

Em regra, o produto WTI costuma ser ligeiramente mais caro que o Brent. É algo ao redor de US$ 1,60. "Essa diferença entre os dois tipos de petróleo sempre foi baseada no custo do frete, já que ambos têm qualidade semelhante", explica o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).

Em Nova York, os contratos para julho deste ano foram vendidos a US$ 64,18, queda de US$ 1,59. Em Londres, o produto também para julho foi negociado a US$ 70,72, alta de 12 centavos de dólar.

A cotação do petróleo despencou nos Estados Unidos porque as refinarias resolveram juntar esforços e incrementar o estoque de destilados disponíveis em Cushing, no Estado de Oklahoma, considerado um importante ponto de entrega da commodity. E os estoques por lá se incrementaram em 899 mil barris na última semana, alcançando o patamar de 27,4 milhões de barris. A informação é do Departamento de Energia.

"Nós precisamos ver um excesso de escoamento de Cushing, antes do WTI mover-se como o Brent", afirma Brad Samples, analista de commodity do Summit Energy Services. Para Samples, o produto vendido em Londres está aumentado sua cotação, porque tem refletido os problemas internacionais.

De fato, as informações de que o Irã tenha condições de produzir armas nucleares em, no máximo, meia década, além dos conflitos na Nigéria têm empurrado o preço do Brent. "Sem dúvida, as questões iranianas recaem mais sobre o produto de Londres do que sobre o de Nova York", afirma Pires. "Até porque o Irã é o segundo maior exportador de petróleo do Golfo Pérsico e o maior vendedor para o mercado asiático", completa.

"Os riscos na Nigéria e no Irã estão empurrando a alta do Brent. Mas o quadro de suprimento do produto de Londres é muito mais apertado que o de Cushing", afirma James Ritterbusch, presidente da Ritterbusch & Associates, companhia localizada nos Estados Unidos.

Mas mesmo com sinais opostos, o fato é que a volatilidade no mercado internacional de petróleo impacta a avaliação das companhias. A filial brasileira da sueca Nynas, que produz óleos usados por exemplo na indústria de pneus, observa também que há forte ação dos especuladores no mercado. E mantém como média de preços a banda entre US$ 62 e US$ 69 para o produto do tipo Brent ao longo de 2007.

"Nossos relatórios mostram que os estoques americanos têm caído nas últimas 12 semanas e está no menor nível dos últimos anos. E isso, aliado a outros fatores, impulsiona o valor do Brent", afirma Endre Kallay, gerente-geral da Nynas no Brasil. (Com agências internacionais)