Título: Mercado, modo de usar
Autor: Vieira, Catherine e Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2007, EU & Investimentos, p. D1

Você já ouviu falar de Felipe Trambique, da corretora KYW? Ele tentou dar um golpe em José Boa Fé, dizendo que o incauto tem ações "esquecidas" e gostaria de comprá-las. Para isso, Felipe simula um depósito de R$ 20 mil na conta de José e pede, em contrapartida, o pagamento de taxas de 10% de imposto e corretagem a título de compra de ações. O José caiu nesse "conto do vigário", infelizmente comum no mercado brasileiro. Mas diversos investidores a partir de agora poderão ser melhor informados sobre esse tipo de ação para evitá-las. Esse é um dos objetivos do Portal do Investidor (www.portaldoinvestidor.gov.br), site de educação sobre investimentos e finanças pessoais que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) lançou ontem.

A historinha de Felipe Trambique faz parte de uma das seções interativas do site, que contém ainda noções básicas de administração de orçamento e do funcionamento do mercado, cursos on-line, vídeos, testes de conhecimento e uma ferramenta de comparação de fundos do mercado por rentabilidade, taxa, patrimônio e outros parâmetros. O site traz informações específicas para investidores, acadêmicos, advogados e aplicadores estrangeiros. Todo acesso é gratuito.

A educação e o aumento do nível de informação para o investidor não apenas faz parte da missão delegada à CVM, mas é uma necessidade de uma nova realidade da economia brasileira, na qual as pessoas se interessam cada vez mais pelo mundo dos investimentos. "Há três anos, esse tipo de demanda sobre como funciona o mercado a partir de marinheiros de primeira viagem era praticamente irrelevante aqui nos nossos canais de atendimento", revela José Alexandre Cavalcanti Vasco, superintendente de orientação ao investidor da CVM. "Agora, já é um dos tipos de informação mais solicitada", completa.

A escolha da internet como ferramenta não foi por acaso. Segundo Vasco, em 2000, quando começou o atendimento por e-mail, eram cerca de 2 mil mensagens eletrônicas por ano. Agora já são mais de 30 mil. "Cada vez mais o investidor usa esse meio", diz. Hoje, mais de 100 mil pessoas físicas negociam ações pela internet.

Além disso, com o juro em queda, os investidores começam a se interessar por aplicações de maior risco e mais sofisticadas, o que demanda mais informação. "O número de cotistas nos fundos multimercados, por exemplo, dobrou", lembra o presidente da CVM, Marcelo Trindade. Atualmente, há cerca de 10 milhões de cotistas em fundos, embora esse número não signifique quantas pessoas investem, já que um único investidor pode ter aplicações em várias carteiras. A CVM estima que o número de aplicadores seja de cerca de 4 milhões.

Para Trindade, uma das maneiras mais eficientes de desenvolver o mercado é criar um ambiente com informações claras e disponíveis. Por isso, o site tenta seguir um desenho interativo e despertar interesse do investidor. O portal custou cerca de R$ 4 milhões e foi bancado com recursos originados de termos de compromisso firmados entre a CVM e agentes do mercado fiscalizados por ela. O modelo foi inspirado também em outros portais de entidades reguladores de mercado, como os da Austrália, Hong Kong e Inglaterra.

A um clique da densa história do mercado de capitais no Brasil, por exemplo, quem navegar no portal poderá relembrar a juventude acompanhando uma história em quadrinhos sobre os princípios de finanças pessoais. Na verdade, as histórias são dirigidas ao público infantil. Basta imprimir e apresentar aos filhos, para que ele comecem a pensar em conceitos como poupança desde cedo.

A dois cliques das histórias em quadrinhos, é possível assistir a animações interativas que educam e ajudam o investidor a se prevenir contra golpes no mercado, como aquele de José Boa Fé. Apesar de levar o mesmo traço da história em quadrinhos, as animações são dirigidas a adultos. A lição, nessa história, é checar sempre a idoneidade da empresa no portal.

No site, é possível também descobrir o seu Grau de Entendimento do Mercado (GEM). Clicando no teste, abre uma janela com um questionário, que, além de desafiar o conhecimento do investidor, cobra a rapidez do aplicador em entender os casos tratados. Há ainda as áreas "caminho financeiro" - espécie de jogo de tabuleiro virtual - e "torneio de finanças pessoais", que tentam dizimar a fama do mercado financeiro de complicado e chato.

Os vídeos disponíveis no site trazem especialistas em finanças trocando em miúdos acessíveis as particularidades do assunto. Figura na galeria de vídeos a colunista do Valor e editora da revista ValorInveste, Mara Luquet.

Além do portal lançado pela CVM, o investidor - experiente ou novato - pode encontrar informações básicas também no site www.comoinvestir.com.br, mantido pela Associação Nacional de Investimento (Anbid).