Título: Brasil investe menos e governo gasta mais que outros países da AL
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2007, Brasil, p. A3

O investimento voltou a crescer com força a partir de 2006, devendo avançar a taxas próximas de dois dígitos neste ano. O tamanho do Estado, porém, é um obstáculo à continuidade desse processo nos próximos anos, advertem alguns analistas. Um estudo do ABN Amro mostra que o investimento no Brasil é bem mais baixo que o registrado na Argentina, Chile, Colômbia e México, países em que o setor público tem um peso bem menor na economia.

Em 2006, o consumo do governo brasileiro atingiu 19,9% do Produto Interno Bruto (PIB), quase sete pontos percentuais acima dos 13% da média desses quatro latino-americanos. Para Alexandre Schwartsman, economista-chefe para a América Latina do ABN Amro e ex-diretor do Banco Central, esses números tornam fácil entender por que a o investimento na construção civil e em máquinas no Brasil, que ficou em 16,8% do PIB no ano passado, é tão mais baixo que a média de 23,5% do PIB observada nesses países. "Consumo do governo elevado e investimento baixo andam de mãos dadas."

Ele nota que, do ano 2000 para cá, o consumo público brasileiro ficou na casa de 20% do PIB, enquanto o investimento oscilou na casa de 16% do PIB (ver tabela). "Em contraste, outros países latino-americanos têm um consumo do governo mais baixo e declinante e investimento mais alto e ascendente", afirma Schwartsman. O consumo público dos quatro países analisados pelo ex-diretor do BC caiu de 14,1%, em 2000, para 13%, em 2006. Nesse período, a taxa de investimento subiu de 18,5% para 23,5% do PIB. "A Argentina, que está longe de ser um país neoliberal, tem um consumo do governo bem mais baixo", diz Schwartsman.

Para ele, o consumo público argentino - de 12,4% do PIB em 2006 - ajuda a explicar a expansão do investimento produtivo no país vizinho. Depois de atingir 12% do PIB em 2002, reflexo da crise da desvalorização do peso, a taxa de investimento na Argentina subiu com força e fechou o ano passado em 23,5% do PIB.

No Brasil, a formação bruta de capital fixo (FCBF, o investimento na construção civil e em máquinas) está em alta desde 2003, quando atingiu o equivalente a apenas 15,3% do PIB. Schwartsman diz que, no curto prazo, são bastante animadoras as perspectivas para a FCBF. Ele considera possível um crescimento do indicador de 10% neste ano, devido ao cenário formado por juros reais e risco-país em queda, e por menor volatilidade na atividade econômica. É uma combinação que estimula os empresários a investir mais.

O economista avalia, porém, que esse ritmo de expansão não é sustentável nos próximos anos sem que se enfrente o problema do tamanho dos gastos públicos. Se nada for feito para conter o aumento das despesas do governo, dificilmente a taxa de investimento, hoje em 16,8% do PIB, vai atingir a casa de 22% a 23%, avalia ele.

A questão é que uma taxa de investimento modesta se traduz num nível mais baixo de crescimento potencial - aquele que não causa pressões inflacionárias. Para Schwartsman, o crescimento potencial aumentou recentemente, como mostra a própria alta do investimento de 2006 para cá, mas ainda não se pode apostar numa expansão sustentada a taxas muito robustas, na casa de 5% ao ano. Para 2007, ele prevê um crescimento de 4,5%.

Uma política fiscal que reduza os gastos do governo tenderia a estimular tanto o investimento público como o privado, diz Schwartsman. Menos despesas correntes (pessoal, aposentadorias, custeio da máquina pública, programas como o Bolsa Família) abririam espaço para que o governo aumentasse o investimento em obras de infra-estrutura, como nota o economista-chefe do WestLB no Brasil, Roberto Padovani. Além disso, ao diminuir a demanda do governo, seria possível cortar os juros mais rapidamente, lembram Padovani e Schwartsman.

Taxas de juros menores seriam um estímulo a mais para os empresários investirem na ampliação da capacidade produtiva. A contenção dos gastos públicos também possibilitaria a redução da carga tributária, diz Padovani. Com um sistema de impostos menos pesado, o retorno das inversões do setor privado aumentaria.

O governo brasileiro, porém, não parece disposto a seguir essas idéias. No primeiro trimestre, as despesas não-financeiras da União aumentaram 11,7% em relação ao mesmo período de 2006, enquanto as receitas cresceram 13,8% .