Título: PMDB indica técnico ligado a Dilma para ministério
Autor: Romero, Cristiano e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2007, Política, p. A10

O PMDB indicou ontem o atual secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério das Minas e Energia, Márcio Pereira Zimmermann, para substituir Silas Rondeau, que deixou o cargo na terça-feira, acusado de receber propina da empreiteira Gautama. A indicação foi feita pelo senador José Sarney (PMDB-AP) e, segundo assessores do Palácio do Planalto, tem chance "razoável" de ser acolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Sarney escolheu Zimmermann depois de conversar com Rondeau, seu afilhado político, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A indicação, acertada em reunião da casa de Renan, causou surpresa porque Zimmermann é um técnico do setor de energia ligado à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O atual secretário de Planejamento e Desenvolvimento foi subordinado a Dilma quando ela comandou o Ministério das Minas e Energia entre 2003 e 2005.

"Zimmermann já estava no ministério quando Silas Rondeau chegou. Ele é um técnico que trabalhou muito bem com a Dilma e também com o Silas", contou um assessor do presidente Lula. Na avaliação de um auxiliar de Lula, o presidente deve acolher, sem delongas, a indicação de Sarney.

Segundo um assessor palaciano, ao indicar um técnico para o lugar de Rondeau, mesmo sendo um técnico ligado a uma ministra do PT, o PMDB agiu de forma rápida para impedir que, na disputa de poder, os petistas lhe tomassem o controle das Minas e Energia, o principal ministério do Programa de Aceleração do Crescimento, responsável, junto com suas estatais, por quase metade dos investimentos do plano para o período 2007-2010.

Zimmermann teve forte participação na elaboração dos projetos das Minas e Energia contemplados pelo PAC. Estão hoje sob sua responsabilidade algumas das áreas e empreendimentos mais estratégicos do ministério, como o planejamento de novas usinas, o plano de contingência do gás e a montagem financeira do Gasoduto do Sul.

Catarinense de Blumenau, Zimmermann é formado em engenharia pela PUC-RS e pós-graduado pela Universidade Federal de Itajubá (MG). Conhece Dilma Rousseff de longa data. Na gestão de Olívio Dutra no governo do Rio Grande do Sul (1999-2002), presidiu a Companhia Estadual de Energia daquele Estado, subordinado a Dilma, que era a titular da Secretaria de Energia.

Ontem, interessado em manter o PMDB na coalizão de apoio ao governo no Congresso, o presidente Lula rejeitou a indicação de três nomes para as Minas e Energia indicados pelo PT - Maria das Graças Foster, Jorge Samek e Valter Cardeal. Segundo fontes do Planalto, Lula não pretende alterar o equilíbrio de forças da coalizão governamental. "É tão difícil compor essa balança, não vale a pena mexer nela", teria dito Lula, segundo fontes ouvidas pelo Valor.

Num sinal claro de que não pretendia provocar qualquer ruído na relação com o PMDB, o presidente Lula telefonou ontem para Renan, tentando amenizar a tensão que havia sido instalada a partir das revelações da "Operação Navalha", conduzida pela Polícia Federal e que provocou a demissão do ex-ministro Silas Rondeau. Na conversa, Lula conversou amenidades, contando a Renan que ele e a primeira dama, Marisa, estavam completando ontem 33 anos de casamento. E aproveitou para convidar o pemedebista para irem juntos, no início da noite de ontem, a um evento no Supremo Tribunal Federal (STF), comemorativo ao bicentenário de independência do Judiciário.

Na reunião com o presidente, na qual acertou sua demissão, na segunda-feira à noite, Rondeau chegou a afirmar que não tinha a mesma capacidade de outros ex-ministros, como "as costas duras de José Dirceu e o trato de Antonio Palocci", que resistiram ao bombardeio diário da imprensa antes de saírem.

Em São Paulo, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), disse que o episódio não abalará a relação de seu partido com o Planalto. "O PMDB vai seguir nesse caminho de apoio ao presidente, o partido está no governo federal, participa da administração e tem todo interesse que o governo Lula dê certo", disse.

O presidente do PMDB de São Paulo, e integrante da Executiva de São Paulo, Orestes Quércia, destoou do tom conciliador do governador fluminense: "(Rondeau) nunca foi PMDB. Ele foi indicação mais pessoal do Sarney. Não é por isso que eu quero que o PMDB fuja à responsabilidade neste caso, porque respaldou o nome dele. O presidente tem que colocar alguém que seja realmente ligado ao PMDB, ainda mais nesta fase, em que o ministério está fazendo grandes investimentos." (Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)