Título: Renan diz que apoiará criação de CPI
Autor: Ulhôa, Raquel e Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2007, Política, p. A10

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), informou ontem que apoiará a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os fatos revelados pela Operação Navalha - investigação de um esquema de corrupção pela Polícia Federal -, se a Casa decidir por esta solução.

"Do alto da responsabilidade de presidente do Senado Federal, farei o que a Casa entender que precisa ser feito. Se for necessário constituir uma CPI para que tudo fique absolutamente esclarecido, descerei da isenção que devo ter para assinar, em primeiro lugar, esta comissão", disse.

A assinatura de Renan não foi necessária. Perto das 21h, o o senador José Neri (P-SOL-PA), que está coletando as assinaturas no Senado, disse ter conseguido o apoio de 27 senadores - número mínimo necessário - à criação da CPI.

A declaração de Renan foi feita logo depois que o líder do Democratas, José Agripino (RN), subiu à tribuna para anunciar a decisão de assinar o requerimento dos deputados Júlio Delgado (PSB-MG) e Augusto Carvalho (PPS-DF) propondo a criação de uma CPI Mista para apurar o caso. Agripino, que na véspera havia condenado a idéia da CPI, disse ter mudado de posição por causa da providência tomada pelo presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), de requisitar os autos do inquérito. O líder do DEM foi o 21º senador a assinar.

Agripino havia dito ser contra a criação da CPI por considerar que a crise era do Executivo, já que envolvia fraude em licitação de obras públicas. Argumentava que cabia ao Executivo realizar licitações e fazer pagamentos. "Os meus argumentos de que irão transportar para o parlamento a crise que é do Poder Executivo cessaram, porque a Câmara dos Deputados tomou a iniciativa e transportou para o Congresso. Agora, quero ver tudo investigado: Câmara, Senado, Poder Executivo, tudo", afirmou o democrata.

O líder do DEM mostrou irritação com Arlindo Chinaglia. Considerou a decisão da Câmara uma "investigação parlamentar de circuito fechado, âmbito restrito", já que os documentos solicitados iriam para o presidente da Câmara. Por isso, decidiu apoiar a CPI, que realiza uma investigação transparente e aberta. "Agora, não fui eu quem deu esse passo. Não fui eu quem agiu com irracionalidade, com emoção, para comprometer o tempo dos parlamentares, que já estão com duas CPIs no Senado. Agora, não sou eu quem vai arcar com o ônus de, pela minha assinatura, não se completarem as 27", disse Agripino.

A bancada do PSDB decidira na véspera apoiar a criação da CPI, embora sem muito entusiasmo. O gesto teria o sentido de mostrar que o partido não teme investigação de suposto envolvimento do governador Teotonio Vilella (Alagoas), que teve assessores presos e o nome citado em conversas telefônicas grampeadas. O partido manifestou total confiança no governador.

Em reunião de líderes com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), na manhã de ontem, os partidos na Câmara manifestaram-se contra a instalação de uma CPI para investigar a máfia das licitações desmantelada pela Operação Navalha da Polícia Federal há uma semana. O requerimento para a criação da comissão de inquérito já tem pouco mais de 100 assinaturas recolhidas pelos deputados Júlio Delgado (PSB-MG) e Augusto Carvalho (PPS-DF). São necessárias 171. O vice-presidente da República, José Alencar, defendeu a criação da CPI. "Quando eu era senador, sempre fui a favor das investigações transparentes", disse.