Título: Cuba critica etanol mas amplia produção
Autor: Rodriguez, Andrea
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2007, Internacional, p. A12

Cuba está modernizando discretamente as suas instalações produtoras de etanol, apesar das repetidas declarações de Fidel Castro, de que o aumento da produção de etanol poderá levar à fome a população mundial.

A ilha pretende elevar a capacidade de 11 das suas 17 usinas, que produzem um volume anual de até 180 milhões de litros de etanol a partir da cana-de-açúcar, segundo disse Conrado Moreno, membro da Academia de Ciências de Cuba. Para efeito de comparação, o Brasil, maior produtor mundial, deve produzir este ano mais de 20 bilhões de litros de etanol.

As usinas cubanas atualmente produzem álcool para uso em rum e outras bebidas alcoólicas, bem como em medicamentos e culinária na ilha. Mas as melhorias oferecerão a Havana a capacidade de produzir combustível para carros, disse Moreno numa conferência sobre energia renovável. O etanol produzido em Cuba não é para carros agora, mas "em quatro ou cinco anos, veremos", disse.

Em uma série de editoriais em jornais do governo, Castro se mobilizou contra um plano, apoiado pelos EUA e pelo Brasil, de produzir etanol para carros, alegando que isso levará a uma disparada nos preços de todos os tipos de produtos agrícolas e tornará os alimentos caros demais para famílias pobres ao redor do mundo.

Os EUA produzem etanol a partir do milho, para consumo interno. O plano em conjunto com o Brasil prevê a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar em vários países da América Latina, para abastecer o mercado americano. Washington quer substituir 20% da gasolina consumida no país por etanol.

Ao contrário de Fidel, que descreveu o etanol produzido para carros a partir do milho como uma potencial catástrofe global, Moreno admitiu que a variedade produzida a partir da cana-de-açúcar poderá trazer oportunidades econômicas a algumas "comunidades isoladas" em Cuba.

O Brasil assinou em março um acordo com os EUA para promover a produção de etanol na América Latina e para criar normas de qualidade internacionais que permitam que o produto seja comercializado como uma "commodity", assim como o petróleo.

Este acordo inspirou os editoriais de Castro, que têm sido lidos repetidamente nas rádios e TVs estatais. Neles, Castro distingue entre o etanol de cana de açúcar produzido em Cuba e o biocombustível baseado no milho, comum nos EUA. Acredita-se que Cuba adotou essa posição para agradar a Venezuela, que teme que a difusão do etanol na América Latina amplie a influência dos EUA na região.

Castro, de 80 anos, não é visto em público desde que se submeteu a uma cirurgia intestinal de emergência, em julho de 2006, quando passou a Presidência a seu irmão Raul, de 75 anos. As autoridades insistem em afirmar que sua saúde está melhorando.