Título: A herança de Lula para a educação
Autor: Fonseca, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 28/12/2010, Política, p. 5

Alto índice de analfabetismo, desigualdades regionais e má remuneração de profissionais são apenas alguns dos problemas que Dilma precisa contornar nos próximos quatro anos

Marina Figueiredo, 17 anos, e Lucas Gouveia, 18, se prepararam para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) durante todo o ano, com o objetivo de conseguir uma vaga na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2011. Mas os erros de impressão em um dos cadernos da prova transformaram o concurso numa verdadeira novela, que ainda pode ter novos capítulos e reviravoltas. ¿Achei um desrespeito o que aconteceu neste ano, mostrou a desordem e a desorganização na educação do país. Se hoje está desse jeito, o futuro já fica comprometido¿, reclama Marina. E não foi a primeira confusão envolvendo o teste aplicado pelo Ministério da Educação. No ano passado, um vazamento das impressões fez com que o exame fosse cancelado e os estudantes voltaram novamente aos locais de prova. O episódio mostraram que a educação no país ainda está longe do que os brasileiros querem.

E os desafios para dar maior credibilidade ao Enem, além de outros, como acabar com o analfabetismo no Brasil e valorizar os profissionais da educação, ficaram para a presidente eleita, Dilma Rousseff, resolver. Quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência, em 2003, o plano de governo apresentou como meta para a educação a criação de um programa para erradicar o analfabetismo de jovens e adultos; garantir o acesso às creches a todas as mães trabalhadoras; assegurar vagas no ensino infantil para todas as crianças entre 4 e 6 anos; e criar um piso salarial para os professores com menos diferenças regionais. Os resultados ficaram distantes do prometido.

Quem tem experiência na área percebe que ainda faltam muitas ações dos governantes para que a educação alcance os índices ideais. ¿Vejo melhorias importantes na educação. É só lembrarmos que há 10 anos, as universidades não tinham nem como pagar a conta de luz. Mas ainda tem muita coisa a ser feita, principalmente nas condições de trabalho para os professores¿, afirma Samira Zaidan, professora e diretora da Faculdade de Educação da UFMG.

Os índices de analfabetismo registaram quedas significativas, mas não escondem o atraso do Brasil em relação a outros países em desenvolvimento. Segundo o Censo de 2000, o número de pessoas com mais de 15 anos que não conseguiam ler ou escrever era de 13,6% do total da população ¿ mais de 16 milhões de analfabetos. Na Síntese de Indicadores Sociais (SIS), um levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) neste ano, a taxa de analfabetismo abaixou para 9,7%, o que representa 14,1 milhões de pessoas sem escolaridade. Desse total, mais da metade está na Região Nordeste.

Segundo o IBGE, outro problema identificado no setor é o alto índice de analfabetismo funcional ¿ pessoas que mal sabem ler e escrever e têm dificuldades para compreender as informações lidas. ¿Esse tipo de analfabetismo atinge 20% da população. É um problema muito sério, que só é combatido com o aumento da qualidade no sistema de ensino¿, diz Bárbara Cobos, pesquisadora do IBGE.

Desafios à vista Confira os principais problemas que Dilma Rousseff enfrentará na área da educação a partir de 2011

Aumentar os investimentos públicos na educação, de 5% gastos atualmente para 7% do total do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Qualificar melhor os professores. Atualmente, a atividade é considerada desvalorizada pelos profissionais da área e o último reajuste anunciado pelo Ministério da Educação (MEC) não agradaram a categoria.

Igualar os níveis de escolaridade das regiões do Brasil. Uma grande desigualdade, apontada pelo IBGE, permanece no Norte e no Nordeste, que continuam atrasados em relação às outras regiões do Brasil.

Reduzir o número de analfabetos no país. Mesmo com as quedas nos últimos anos, o Brasil ainda tem mais de 14 milhões de pessoas que não sabem ler e escrever.

Combater o analfabetismo funcional, que atinge 20% da população. São pessoas que, apesar de saberem ler e escrever, têm dificuldades para entender as informações.

Investir mais em pesquisas nas universidades. A produção de conhecimento e de tecnologia é vital para o desenvolvimento de qualquer nação. Confira os principais problemas que Dilma Rousseff enfrentará na área da educação a partir de 2011

Aumentar os investimentos públicos na educação, de 5% gastos atualmente para 7% do total do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Qualificar melhor os professores. Atualmente, a atividade é considerada desvalorizada pelos profissionais da área e o último reajuste anunciado pelo Ministério da Educação (MEC) não agradaram a categoria.

Igualar os níveis de escolaridade das regiões do Brasil. Uma grande desigualdade, apontada pelo IBGE, permanece no Norte e no Nordeste, que continuam atrasados em relação às outras regiões do Brasil.

Reduzir o número de analfabetos no país. Mesmo com as quedas nos últimos anos, o Brasil ainda tem mais de 14 milhões de pessoas que não sabem ler e escrever.

Combater o analfabetismo funcional, que atinge 20% da população. São pessoas que, apesar de saberem ler e escrever, têm dificuldades para entender as informações.

Investir mais em pesquisas nas universidades. A produção de conhecimento e de tecnologia é vital para o desenvolvimento de qualquer nação.

7% do PIB é a meta Durante a campanha, Dilma Rousseff prometeu aumentar para 7% do Produto Interno Bruto (PIB) os investimentos públicos em educação. Meta que já tinha sido proposta por Lula em 2002, mas não foi alcançada. Atualmente, são destinados à área 5% do total produzido no Brasil. A presidente eleita defendeu também a criação de 6 mil creches e pré-escolas, e a implantação do ProMédio, um programa de bolsa de estudos em instituições de ensino médio técnico, nos moldes do Programa Universidade para Todos (ProUni).

Quem vive o dia a dia nas salas de aula também vê outras medidas necessárias para melhorar a educação no Brasil. Pablo de Oliveira, professor do ensino médio em Minas Gerais, entende que as dificuldades de toda a sociedade acabam refletidas nas escolas. ¿Dentro das salas, percebemos os problemas que alunos enfrentam rotineiramente. O contato com a violência e a falta de estrutura familiar influenciam diretamente no comportamento dos jovens. Acredito que a educação avançaria muito mais se houvesse um diálogo entre várias áreas sociais. A educação não é um setor isolado¿, acredita o docente. (MF)