Título: Chile e Colômbia adotam medidas para tentar conter queda dolar
Autor: Uchoa, Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2007, Internacional, p. A13

Chile e Colômbia anunciaram medidas para tentar conter a valorização de suas moedas frente ao dólar, o que está reduzindo a competitividade dos produtos exportados pelos dois países. O Brasil enfrenta o mesmo problema.

A presidente do Chile, Michelle Bachelet, propôs medidas que podem conter a pressão cambial sobre o peso chileno e frear a apreciação da moeda - o peso valorizou-se 36% nos últimos três anos.

A série de medidas anunciada na segunda prevê a alteração de 30% para 45% no limite de investimentos que os fundos de pensão do país podem fazer no exterior e corta de 1% do PIB para 0,5% o superávit fiscal destinado ao fundo de reserva instituído para momentos econômicos menos favoráveis.

O Congresso não deve ter dificuldades em aprovar as medidas. A coalizão de governo tem maioria.

Os gestores de fundos de pensão movimentam US$ 95 bilhões. Já o corte na destinação obrigatória ao fundo de reserva deve liberar um montante de US$ 650 milhões, elevando os gastos em serviços sociais e educação para cerca de US$ 5 bilhões. Para analistas, as medidas devem tirar o excesso de dólares da economia e conter a alta do peso.

Para German Verdugo, da corretora Correval, "a contínua debilidade do dólar desde 2003, a ampla disponibilidade de liqüidez mundial e a situação privilegiada de acúmulo de capitais dos países produtores de commodities, combinada com os juros mais atrativos em relação aos americanos, vêm provocando uma valorização do peso que prejudica setores importantes da economia de países como Chile e Colômbia".

O analista diz que as medidas chilenas podem servir para frear essa valorização, levando parte dos investimentos dos fundos para outros mercados. "O governo chileno tem uma perspectiva de aumentar esse limite escalonadamente para até 80%. Por isso, não se pode dizer que houve surpresa tão grande no anúncio, apesar das reações."

Embora o dólar tenha tido uma alta de 0,96% na segunda, ontem o mercado reagiu ao anúncio do crescimento chileno no primeiro trimestre (leia texto abaixo) e o peso subiu 0,22%. A expectativa é que efeitos só poderão ser avaliados depois que o mercado chileno absorver o impacto das medidas.

A Bolsa de Santiago também reagiu ao anúncio: o índice das 40 principais ações caiu 4,4%, enquanto o índice total caiu 3,5%. Para Francisco Castañeda, professor da Universidade de Santiago, a queda "obviamente se deve à flexibilização do limite de investimentos no estrangeiro dos fundos de pensão", mas prevê que a situação deva se normalizar em breve.

A oposição fez críticas. "A presidente e a Concertación [a coalizão de centro-esquerda que governa o Chile] puseram em risco nossa estabilidade econômica no médio prazo", disse Rodrigo Álvarez, vice-presidente da União Democrata Independente.

O governo diz ter "compromisso férreo com a estabilidade dos preços". O ministro da Fazenda, Andrés Velasco, prometeu manter o superávit fiscal, só que "um pouco menor". "Quando fazemos as coisas bem feitas, podemos gastar um pouco mais", disse.

Na Colômbia, o governo anunciou na noite de ontem medidas de controle sobre a entrada de investimentos estrangeiros nos mercados financeiros do país. Segundo o ministro das Finanças, Oscar Ivan Zuluaga, os investidores estrangeiros terão de deixar 40% de seu capital numa conta não remunerada no Banco Central durante seis meses. Caso se recusem, terão de pagar uma taxa de entrada.

O governo reiterou que não haverá restrições à entrada de investimentos estrangeiros diretos, isto é, destinados ao setor produtivo.

"O governo colombiano está comprometido a diminuir a entrada de capital de curto prazo, já que o peso colombiano de mãos dadas com o real brasileiro são as moedas que mais se valorizaram na América Latina", disse Zuluaga.

O presidente Álvaro Uribe disse que o governo não pode afetar o investimento estrangeiro direto, "mas deve defender a receita dos exportadores, tomando medidas para evitar que o capital especulativo continue a erodir a nossa taxa de câmbio".

Após o discurso de Uribe e com a expectativa das novas medidas, o peso colombiano fechou em pequena baixa. Mas a moeda americana acumula queda de 30% nos últimos 3 anos. O movimento de queda se acentuou nos últimos meses. Só neste ano, o peso colombiano já se valorizou 14%.

Em 6 de maio, o Banco Central anunciara duas medidas para limitar a entrada de capital. Pela primeira, as empresas locais e órgãos estatais devem depositar 40% de empréstimos feitos no exterior numa conta não remunerada por seis meses. A segunda, limita o valor que bancos podem investir em derivativos e hedge. Há dúvidas sobre a eficácia das novas medidas. Este ano entraram apenas US$ 584 milhões em investimentos financeiros, bem menos que o investimento direto e o saldo comercial.

(Com agências internacionais)