Título: Seguradoras perdem rentabilidade e receita com taxa de juro menor
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2007, Finanças, p. C2

As seguradoras brasileiras estão ficando mais eficientes, mas menos rentáveis. Influenciado pelo movimento de queda dos juros, as companhias têm perdido receita financeira e a rentabilidade patrimonial tem caído. Por outro lado, reduziram custos e melhoraram o lado operacional. Nas aplicações no mercado financeiro, ficaram mais agressivas e dobraram os investimentos em renda variável.

Os números do primeiro trimestre mostram que o resultado financeiro caiu 13%, para R$ 1,3 bilhão, em comparação a igual período de 2006. O retorno patrimonial do trimestre ficou em 6,36%, queda de 18%. O lucro desacelerou o ritmo de alta, na casa dos 10% nos período anteriores, e cresceu 3,5%, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep).

A aplicação no mercado financeiro dos recursos das seguradoras rendiam bons ganhos. Nos três primeiros meses de 2006, elas aplicavam cerca de R$ 131 bilhões (reservas e recursos livres) a uma taxa de retorno médio de 17,5%. Este ano, a taxa caiu para 13,1%, segundo levantamento do consultor Luiz Roberto Castiglione. Por causa deste recuo, as seguradoras vão deixar de ganhar R$ 5 bilhões este ano.

A queda da receita financeira foi compensada pela melhora operacional das companhias. Elas foram forçadas, principalmente, a reduzir as despesas. Acacio Queiroz, presidente da Chubb Seguros, avalia que os custos são uma das poucas variáveis que as seguradoras conseguem controlar, ao contrário dos sinistros, imprevisíveis.

Como continuidade dos ajustes, Queiroz prevê aumento de preços das apólices de maior risco. Castiglione fala também na necessidade de aumentar as vendas de seguros, porque o corte de custos e outros ajustes têm um limite.

Os números da Susep mostram que a melhora das operações com seguro podem ser vistas pela queda do índice combinado, principal indicador do setor. O índice avalia a eficiência operacional das seguradoras e quanto menor, melhor.

No primeiro trimestre ele teve queda de 4,3 pontos percentuais e ficou em 95,9%. No mesmo período do ano passado, foi de 100,2%, mostrando que havia perdas operacionais. No passado, as perdas eram compensadas pelos ganhos com as aplicações financeiras.

Além de buscar maior eficiência nas operações, algumas seguradoras também passaram a adotar uma política mais agressiva de aplicação de suas reservas e aumentaram as aplicações em ações e fundos mais agressivos.

Um delas foi a Porto Seguro. A participação das ações na carteira da seguradora subiu de 2% no primeiro trimestre de 2006 para 6% no final de março, informou Mario Urbinati, seu diretor de relações com investidores. Os títulos privados passaram de 6% para 7%. Já as LFT (letras financeiras do tesouro), indexadas a Selic, caíram de 27% para 17%. A carteira de investimento da Porto está em R$ 3,8 bilhões. O rendimento das aplicações caiu de 114% do CDI para 106%, em igual período.

No primeiro trimestre de 2006, 2,27% dos mais de R$ 50 bilhões das reservas garantidoras das seguradoras estavam aplicadas em ações. Este ano, o percentual subiu para 2,27%. No mesmo período, os investimentos nos tradicionais títulos públicos caiu de 27,7% para 22,2%.

A queda dos juros, se por um lado reduz receitas financeiras, por outro lado, tende a aumentar a venda de seguros. Com juros mais baixos, os investimentos aumentam e a economia se aquece. Com mais renda, aumenta a procura por imóveis e carros e, consequentemente, a demanda por seguros. Um dos indicadores dessa melhora é a alta de 10% nos prêmios ganhos pelas seguradoras, que bateram em R$ 7,57 bilhões, segundo a Susep. Cabe ressaltar que estes números excluem o seguro saúde.