Título: Greves federais cobram acordos salariais antigos
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2007, Brasil, p. A12

Do setor financeiro à área do meio ambiente, já são cinco as categorias de servidores federais em greve. Além de reajustes salariais e reestruturação de planos de cargos e salários, por trás das paralisações há também a rejeição à medida que restringe o crescimento da folha salarial do governo à variação da inflação mais 1,5% e o apoio ao veto do presidente Lula à emenda 3.

A última categoria a engrossar o coro dos trabalhadores de braços cruzados foram os policiais federais. A partir de ontem, eles decretaram uma greve de 72 horas. A reivindicação principal é o pagamento de um reajuste salarial de 30%, que, segundo os policiais, seria a segunda parcela de um acordo acertado com o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Assim como os policiais, os funcionários do Banco Central (BC) também fazem greve, desde o dia 3 deste mês, por conta de um reajuste salarial prometido no ano passado. No fim de maio de 2006, esses servidores chegaram a um acordo que previa um aumento no rendimento de 10%, referente ainda à campanha salarial de 2005.

Em junho do ano passado, contudo, os servidores da Receita Federal, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e outros órgãos conseguiram reajuste de 30% por meio das medidas provisórias 301 e 302. "Os salários no BC ficaram, então, cerca de 45% menores do que os da Receita", comenta Aparecido Francisco de Sales, presidente da regional de São Paulo do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal).

Para amenizar essa situação, os servidores reivindicam um aumento de 30%. "Falaram que no ano passado iriam resolver isso, mas vieram as eleições e nada. No começo de ano, também não foi aberta a negociação, então paramos", explica o sindicalista.

Tanto no caso dos policiais quanto dos servidores do Banco Central, o governo federal já concordou em conceder os percentuais reivindicados, mas de forma parcelada. E aí está o impasse: os policiais querem que as parcelas sejam pagas em junho deste ano e de 2008. Na segunda-feira, o governo propôs pagá-las em março de 2008 e 2009. No entanto, nada feito. Os policiais federais rejeitaram essa proposta. Segundo a Federação Nacional dos Policias Federais (Fenapef), 70% dos 13 mil policiais aderiram à greve. Com isso, serviços como emissão de passaportes e a fiscalização nos aeroportos foram prejudicados.

Os servidores do BC, por sua vez, aceitam o pagamento em três parcelas dos 20% de reajuste, mas querem as duas primeiras retroativas a julho de 2006, janeiro de 2007 e a última em janeiro do ano que vem. O governo, a princípio, queria pagar a primeira parcela só em janeiro de 2008, mais uma em julho e a última em janeiro de 2009, mas fez uma mudança na última reunião: transferiu a segunda parcela para abril do ano que vem. Ainda assim, os servidores não concordaram e mantêm a greve.

Preocupados também com seus rendimentos, mas com um foco maior na reestruturação de um plano de cargos, carreira e salários, os funcionários do Incra fazem greve desde o início desta semana. Somam-se a eles os servidores do Ministério da Cultura e de órgãos a ele ligados, que cruzaram os braços há nove dias. Edson Cardone, secretário de imprensa do Sindicato dos Servidores Públicos (Sindsep-DF) explica que ao fim de uma greve em 2005 o governo prometeu implementar um plano de cargos e salários para esses trabalhadores. Mas que quase dois anos se passaram e nada aconteceu.

No Ibama, os servidores não esperam se reunir com o governo. Estão voltados para o Congresso Nacional, onde buscam apoio para derrubar a Medida Provisória 366 que reestrutura os órgãos ambientais e cria o Instituto Chico Mendes, que cuidará das unidades de conservação, deixando a cargo do Ibama os licenciamentos ambientais. "Somos contra essa fragmentação, trará mais burocracia. Queremos que o governo discuta um modelo de gestão ambiental e que nos chame a participar da discussão", diz Jonas Corrêa, presidente da Associação Nacional dos Servidores do Ibama (Asibama).

Cardone conta que nessa semana os funcionários do Ministério do Meio Ambiente e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) também entrarão em greve por reivindicações de melhorias salariais.

A partir de hoje, se juntam aos servidores públicos a CUT, o MST e a Conlutas. Elas planejam mobilizações em várias cidades do país, com atos públicos e paralisações em outros ramos de atividade como será o caso dos operários da construção civil do Pará.