Título: Setor elétrico aposta em continuidade
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2007, Política, p. A7

Mudanças sempre causam apreensão, dizem executivos do setor elétrico, mas a relativa estabilidade vivida no Ministério de Minas e Energia desde a introdução do novo marco regulatório, criado no fim de 2003, não deve ser perturbada pela saída de Silas Rondeau. As associações do setor afirmam ter encontrado em Rondeau um técnico esforçado - embora sua origem esteja nas empresas de eletricidade, ele logo passou a discorrer com tranqüilidade sobre assuntos como gás e petróleo -, receptivo às demandas dos empresários e sem medo de comprar brigas com a ala ambiental do governo.

Para os executivos, é importante que não haja atrasos em decisões praticamente tomadas nem mudanças no segundo escalão. "O setor elétrico conquistou estabilidade e tem havido constância de interlocutores nos últimos anos", disse Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira dos Agentes Comercializadores de Energia Elétrica e ex-diretor da Aneel.

A saída de Dilma Rousseff das Minas e Energia para a Casa Civil não alterou a maior parte da equipe. Técnicos como Nelson Hubner (secretário-executivo), Márcio Zimmermann (secretário de planejamento e desenvolvimento energético) e Maurício Tolmasquim (presidente da Empresa de Pesquisa Energética) são remanescentes da passagem de Dilma pela Pasta e a avaliação dos executivos é que ninguém contestará a manutenção deles nos cargos. "Não vejo a crise atual colocar em risco a boa relação que se construiu", acrescentou Pedrosa. "Tem que ser assim mesmo. Para todo o setor, a previsibilidade é absolutamente crucial."

Rondeau consolidou o novo marco regulatório. O ex-ministro conduziu o primeiro leilão de energia nova, em dezembro de 2005. Em várias oportunidades, foi para a linha de frente das negociações com a Bolívia para conter a crise do gás. Tentou interferir, sem sucesso, em decisões da Aneel. Agradou o setor ao fazer defesa intransigente das usinas do rio Madeira e também por defender a retomada das obras de Angra 3.

O presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia Elétrica (Abiape), Mário Menel, elogiou o empenho de Rondeau em convencer deputados e senadores a aprovar medidas do PAC referentes ao setor. Menel ressaltou que o ex-ministro sempre se mostrou sensível aos apelos empresariais para corrigir distorções regulatórias que brecam investimentos.

"Toda mudança gera apreensão, principalmente de alguém tão alinhado e que procurava se alinhar ainda mais (ao setor elétrico)", disse Menel, que aposta, porém, na continuidade dos projetos em andamento. Os executivos também acreditam que, mesmo com a saída de Rondeau, será preservada a linha geral do governo nessa área: forte participação das estatais vinculadas à Eletrobrás e ênfase na modicidade tarifária nos leilões de energia.

Essas características são uma herança da gestão Dilma. É à chefe da Casa Civil, aliás, que o setor atribui três possíveis indicações para substituir Rondeau: o atual presidente da binacional Itaipu, Jorge Samek, o presidente interino da Eletrobrás, Valter Cardeal, e a presidente da BR Distribuidora, Maria das Graças Foster - todos com ótimas relações com Dilma.